Expresso Actual de 23/11/2002
Artista e professor
Morreu na passada segunda-feira, em Lisboa, onde nascera há 81 anos, Rolando Sá Nogueira, a cuja obra o Museu do Chiado dedicou em 1998 uma vasta retrospectiva. Para além da se afirmar como artista plástico, ilustrador, cenógrafo e decorador, exerceu desde 1965 uma prolongada acção como professor, que constituiu uma das mais influentes vertentes da sua actividade. A primeira aparição pública como pintor data de 1947, na 2ª Exposição Geral de Artes Plásticas, depois de ter começado por estudar Arquitectura e antes de terminar, em 1950, o curso de pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa.
Entretanto, dedicara-se ao boxe como amador e começou a frequentar as tertúlias da época e o atelier do arquitecto Frederico George. Sem se associar ao neo-realismo, a sua obra inicial distinguiu-se por um interesse muito original pelo retrato, que se alargou nos finais dos anos 50 às paisagens urbanas, em notáveis pinturas de jardins, grupos em movimento e interiores de cafés.
Também ao longo da década de 50 trabalhou em projectos decorativos para o atelier de Conceição Silva, dedicou-se à criação de cenários e figurinos para teatro em colaboração com Jacinto Ramos e participou na fundação da cooperativa Gravura.
Na década seguinte Sá Nogueira instalou-se em Londres, como bolseiro da Fundação Gulbenkian, frequentando a Slade School. A sua obra, então influenciada pelo contacto com arte Pop e com a pintura de Michael Andrews, veio a tomar uma nova direcção com a prática da colagem, a que se seguiu a utilização da fotografia impressionada sobre a tela, em séries dedicadas a temas eróticos e depois de intenção política, nomeadamente associando as referências ao jazz com a evocação da guerra colonial.
Em 1965 iniciou uma intensa actividade docente na Sociedade Nacional de Belas Artes; em 1977 foi nomeado professor na Escola de Belas Artes do Porto, ensinando ainda na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, na cooperativa Árvore e na Escola Superior Artística do Porto.
Entre as suas obras públicas destacam-se os painéis de azulejo do antigo Laboratório Luso-Fármaco, de 1958, na Rua do Quelhas, recentemente restaurado e ampliado, bem como outro painel na Avenida Infante Santo, a pintura mural na antiga Loja Valentim de Carvalho em Cascais (1969) e, mais recentemente, o revestimento da estação de Metropolitano das Laranjeiras (1987). Entretanto, Sá Nogueira continuou a expor pintura nas galerias Ana Isabel, Nasoni e Dário Ramos.
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