(28 Dez. - acrescentado até 12 Jan....)
1º INGenuidades, Fotografia e Engenharia, na Fundação Gulbenkian - comissariada por Jorge Calado e apresentada tb no Bozar de Bruxelas, por ocasião da presidência europeia.
Se for preciso justificar o lugar, lembre-se que este foi um caso quase inédito de produção de uma grande exposição original, com obras (mais de três centenas, históricas e recentíssimas) vindas de todo o mundo. A partir do seu tema ao mesmo tempo específico e aberto podiam fazer-se inúmeras diferentes leituras, desde a abordagem do estado do planeta aos caminhos actuais da fotografia, sinalizados por um grande número de grandes autores contemporâneos (e não só pelos nomes mais óbvios que toda a gente repete).
A exp., que foi uma iniciativa do Serviço de Ciência da FG incluiu-se nas comemorações dos seus 50 anos e foi talvez o seu ponto mais alto.
Ver aqui (EXPRESSO de 03-02-2007) e também, etc
(continuado a 2/Jan.)
2º Exposição inaugural do Museu Colecção Berardo no CCB, dirigida por Jean-François Chougnet e Eric Corne.
ver MCB e em especial Primeira visita (e tb Justine Triet Sur Place; Shirley Jaffe Amarylis, 1987)
Frank Stella, "Severambia", 1995, 299,7 x 840,7 x 388,6 cm
Para além da abertura do museu no lugar certo, terminando um enredo com muitos anos, destaquem-se as qualidades próprias da montagem: a inteligência com que se obviaram às insuficiências da colecção (cujo reconhecimento não diminui a importância que se lhe atribui), desde o espaço inicial dedicado ao surrealismo; e a subtileza com se estabelecem relações de sentido e de comunicação visual entre obras. Para além das concessões que se achou oportuno fazer ou que são opções que não partilho (não me interessa averiguar), a montagem da nave inferior, com a grande pintura instalada de Stella e a empolgante abertura para os diversos núcleos seguintes, permite leituras muito estimulantes, que precedem o espaço fechado final dedicado a um mix de vanguardismos tardios que inclui minimais, conceptuais, "pobres" e aparentados. A ocasião correspondeu também à apresentação de um muito discreto mas muito hábil director, que já tinha dado boa conta de si na exibição de esculturas da colecção Berardo que teve lugar na Assembleia da República ( 3 D ) .
3º "Um teatro sem teatro", no Museu Colecção Berardo/CCB, exp. comissariada por Bernard Blistène e Yann Chateigné, co-produção com o Macba, Barcelona. Ainda até 17 de Fevereiro.
Não é a temática que mais me interessa, pelo contrário (o lado destrutivo de Dadá, o antiteatro, a anti-arte, a teatralidade do reducionismo minimalista, etc - e a acumulação de coisas diferentes é muitas vezes confusa ou confusionista), mas é uma exp. com uma ambição interdisciplinar e documental que por cá nunca se viu - e, aliás, que só se veria no antigo Beaubourg e pouco mais. Pala além de umas recensões apressadas na imprensa, parece ter sido boicotada pelos meios artísticos a quem mais poderia interessar (o que prova que eles se movem por ínvios interesses e não por princípios).
<Em tempo: nas listas de escolhas do Expresso/Actual, de Celso Martins e Ana Ruivo, a exp. aparece citada em 1º lugar - ed. de 29 Dez.>.
Foi a melhor exp do ano (na versão do Macba, Barcelona) tb para Amateur d'Art / Lunettes Rouges , blog no Le Monde.
4º "50 Anos de Arte Portuguesa" - uma visita aos arquivos do Serviço de Belas Artes da Fundação Gulbenkian em ano de aniversário. Algumas orientações cronológicas merecem reparos, mas o essencial é a abertura dos espólios e o início de uma investigação de grande alcance - a que julgo não ter sido dada sequência, num novo fechamentop da instituição aos olhares públicos (mesmo que estudiosos). Também a independência de critérios quanto a presenças e participações foi assinalçável. Organização de Raquel Henriques da Silva com Ana Ruivo e Ana Filipa Candeias.
ver aqui I e aqui II , mais isto (sobre um colóquio censurado e um museu ameaçado...)
e tb
Ana Mata , Pinturas, Módulo (e na Arte Lisboa, a colectiva "Isto não é uma flor", na Módulo) e no Prémio Rothschild). ( Ver tb texto da artista e outras fotos em expressarte )
Gabriel Abrantes, a revelação de "Buttpocalypse", 111 (e Arte Lisboa, em especial os vídeos, Olympia) ( fotos ) Sem esquecer Francisco Vidal e Fátima Mendonça.
Joana Vasconcelos (Arco/Madrid, Palácio de Belém, etc - não vi a exp. em Tavira) E a notoriedade mediática que alcançou, bem apoiada pela sua equipa, deve tb ser valorizada - com ela temos a presença de um(a) artista na campanha publicitária do Turismo de Portugal.
José Carlos Teixeira, "Geografia e outras etnografias", Fundação Carmona e Costa ( nota )
José Loureiro , Gal. Cristina Guerra (Expresso, 18/03/2007) e tb na Fidelidade Mundial Chiado 8 e João Esteves Oliveira
Nuno Viegas, Pintura, Arte Periférica
Pedro Valdez Cardoso, na Módulo do Porto e em "Crude", no Museu da Cidade.
Rui Chafes, Gal. Graça Brandão
Sara Maia , "Dog's Sleep", Sala do Veado
António Júlio Duarte, "Do Natural", Módulo
Catarina Botelho , "Adiar o Coração", Módulo + "Debaixo do Tapete", Plataforma Revólver + BES Revelação em Serralves
Edgar Martins, "Tipologies", CAV Coimbra /e "Aproximações", Gal. Graça Brandão (mais a capa da revista Aperture)
Bert Teunissen , "Domestic Lanscapes", Campus S. João, Paranhos - Porto (apresentado pelo Museu da Imagem, Braga). E o livro homónimo na Aperture.
Henri Cartier-Bresson , Os Retratos, Fundação Eugénio de Almeida, Évora (Fundação Cartier-Bresson, Paris)
E há que fazer referências ao acerto e ao gosto seguro das exp. da nova galeria Caroline Pagès, a terminar bem o ano com Maria Condado e "Promise Land".
Deveriam também ser mencionados (numa lista já extensa) Manuel Caeiro (Welcome to my Loft) na Gal. Carlos Carvalho e Rui Macedo (visto no Centro de Artes de Sines e em vários catálogos noutros sítios)
No Porto, atenção à MCO que publicou o catálogo do seu 1º ano de actividade, 2005/2006, e se visitou com atraso e com pouca frequência - é um local (extra Miguel Bombarda) central.
#
E outros temas afins
Um "balanço do ano" teria que sublinhar o fechamento quase total do país à informação internacional (com as excepções limitadas que constam do início da lista acima), e que de modo algum o equívoco Rauschenberg em Serralves veio contrariar (aquele Rauschenberg é já a decadência de um grande artista - com aquelas obras ele não teria lugar na "história", e é muito pouco acertado pretender que elas constituem uma redescoberta: o que se passa é que o contexto é agora propício a uma operação de marketing...).
Entretanto, foram os museus e as colecções musealizadas que estiveram em foco ao longo do ano. Pelas piores razões, no caso do escândalo do afastamento de Dalila Rodrigues do Museu de Arte Antiga (e a nomeação de alguém sem competência específica na área própria deste Museu), bem como na demolição do Museu de Arte Popular (trocado pelo grosseiro equívoco de um projecto referido ao mar e à língua, perdão, ao "Mundo Português") e da caríssima miragem de uma sucursal do Hermitage. A compra em leilão de uma obra de Tiepolo (por um absurdo preço, já que não havia licitantes) não diminui o negro balanço destes folhetins - e voltámos aos encerramentos de museus por falta de guardas e outras medíocres recordações. ( O caso DR ) ( Arte Popular )
Por boas razões no caso da instalação da Colecção Berardo no CCB (mas o acordo jurídico entre as partes era para negociar e não só para assinar de cruz). E também a propósito de diferentes inaugurações descentralizadas que se sucederam à abertura do Centro de Arte Manuel de Brito (Algés, 2006) e se alargaram a Elvas (MACE, Colecção António Cachola) e a Ponte de Sor (Fundação António Prates) para culminarem em Vila Franca de Xira, com o Museu do Neo-Realismo.
Na sombra fica o destino do Museu Arpad Szernes - Vieira da Silva, aparentemente condenado por ausência de patronos e mecenas, ignorando-se ainda se o ex-ministro António Vitorino, entre tantos afazeres, tem tempo para exercer o cargo de presidente da respectiva Fundação ( ver ).
E entretanto Serralves pôs em marcha muito discretamente o concurso arquitectónico para a sua extensão em Matosinhos/Srª da Hora, que se anunciou nas páginas do "imobiliário" como a cereja no bolo da Cidade Sonae. Já no final do ano, tb se anunciou uma ampliação futura do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em terrenos anexos recentemente adquiridos, assim se procurando tranquilizar as vozes que vinham interpelando a Fundação a respeito do encerramento do respectivo museu.
Em suma, este é (como outros) um sector desorientado. Ou mesmo sinistrado.
concordamos.
Posted by: Luisa | 12/28/2007 at 18:55