Posted at 17:53 in #medinamanguel, 2008, 2020, africa.cont, cidade, CML | Permalink | Comments (0)
Nunca divulguei este documento, de 19-01-2009, embora não tenha havido pedido de reserva.
Rui Vilar então presidente da FG, distancia-se do África.Cont, e distancia a FG, afirmando que "ficou estabelecido no contrato que assinámos com a Câmara que a não realização daquele equipamento cultural no prazo previsto (5 anos) determina a resolução do contrato e implica a restituição à Fundação das quantias entregues". Restituiram? #casoAfricaCont
Em vez de transferir o "Projecto Africa.Cont" para a EGEAC Cultura Em Lisboa, a actual CML deveria elaborar um livro branco sobre uma história que desde 2008 condicionou e fez estagnar a colaboração de Lisboa, e do governo de Portugal, com os artistas dos países africanos de expressão portuguesa, coisa que não interessava nada ao prof. J.A. Fernandes Dias e associados comparatistas (Arte África, Fac. de Letras de Lisboa e outros ditos pós-colonialistas - colonialistas de facto). Há quem goste de passear por África e se tenha perdido nas selvas (alarme na CML, diziam-me) mas opte pelo comércio com os artistas das diásporas, como provou a exp. "Looking bouth Ways" (2004, FG) preferida à oportunidade de mostrar o "Africa Remix".
O "projecto" tem uma história confusa, mas cresceu com os delírios megalómanos de Sócrates e com o desejo de Costa de encontrar solução para a Av. 24 de Julho e as Tercenas do Marquês, para onde havia uma antigo projecto utópico de abrir uma praça no lugar do edifício da DGAP - que em vez de ser demolido tem agora algum outro mafioso destino. O Sócrates mandou associar ao "projecto", além do MNE, onde nasceu com o Luís Amado (ministro ex-galerista africanista e colecionador com a Bozart), o MC e o Min. da Economia, mais as diversas fundações (Serralves, Berardo, CCB, etc) e empresas com negócios em África.
A fundação de fundações nunca avançou e não teve a concordância das diversas entidades "convidadas" a aderir, até porque não tiveram acréscimos orçamentais para cobrirem esse desígnio - por sinal, pude ler o "Projecto" fundacional no gabinete do ministro José António Pinto Ribeiro, totalmente em desacordo com a ordem recebida (estava eu a travar o projecto de fazer Museu da Língua no MAP). Todos os outros envolvidos (à força) que contactei - João Fernandes, Joe Berardo, etc, estavam igualmente contra.
É óbvio que o presidente Costa devia ter encerrado então a aventura, mas em vez disso acolheu o Fernandes Dias na roda do seu gabinete, tanto mais que perdera o lugar de consultor na FG (enquanto consultor teve a oportunidade de aconselhar o projecto que ele próprio apresentara - em guerra aberta, já, com o outro consultor de R. Vilar para estas questões, o António Pinto Ribeiro). É provável que a questão urbanística - ligar as Janelas Verdes à 24 de Julho através das galerias e telhados das Tercenas - tenha sido sempre o seu objectivo principal. Levado a ver as vistas sobre o Tejo desde o Palacete Pombal, numa madrugada de jogging, o Socrates disse: faça-se! Sem olhar a meios. Tudo isto é uma história pelo menos absurda e certamente criminosa.
04-04-2016
Ainda sobre o Africa.Cont.
Em 2004, quando o António Pinto Ribeiro organizou a presença de artistas e galerias africanas na feira Arte Lisboa (essa podia ser uma direcção com sentido estratégico), veio de Moçambique o Muvart, movimento de jovens artistas.
Em 2008 quiseram voltar e procuraram apoios. Tentei a CML, que patrocinava a feira, e dirigi-me ao Pedro Portugal, que era então assessor cultural do presidente Costa (por mais que isso nos surpreendesse - a situação durou alguns anos e até passou depois a depender administrativamente do gabinete da vereadora C.V.P.). Respondeu-me ele que eu e eles só conseguiríamos alguma coisa se conseguisse fazer aceitar a ideia pelo África.Cont do Fernando Dias.
Não valia a pena tentar porque a ideia das continuidades é recusada por quem manda e pq Pinto Ribeiro e Fernandes Dias eram reconhecidos inimigos a ocupar os mesmos terrenos. Consegui então que o Rui Vilar avançasse com alguns dinheiros da Gulbenkian (para viagens?) e eu apoiei outras despesas (mais alguém?).
O Africa.Cont era uma ideia megalómana e "elitista" (colonialista, de facto), a quem essas coisas africanas menores não interessavam. Aconteceu depois que a representação foi muito fraca e economicamente errada - em especial as fotos do Ricardo Rangel não assinadas que não podiam ter compradores.
3. Uma notícia de 28-06-2012 sobre o "Projecto Africa.Cont" que agora aparece proposto à EGEAC - ArteCapital e jornal I:
Posted at 00:13 in 2008, africa.cont | Permalink | Comments (0)
Ag-Prata (Porto) + Casa-Estúdio Carlos Relvas + Novo Blog APAF
1
Ag-Prata
"O projecto Prata - Reflexões Periódicas Sobre Fotografia, que teve a sua primeira edição em Abril e Maio de 2008, assume-se como uma reflexão em torno da fotografia portuguesa, ao longo das últimas décadas, através do estudo de alguns dos seus protagonistas, e procura desvendar alterações decisivas no modo de fazer e pensar a prática da fotografia em Portugal. (...)"
Está anunciada a publicação do livro do 1º seminário e estão em linha a comunicação de João Palla sobre Victor Palla e em pdf uma edição de Lisboa, Cidade Triste e Alegre.
Posted at 20:08 in 2008, Carlos Relvas, fotografia, história da fotografia | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Tags: Ag-Prata, APAF, Carlos Relvas, Casa-Estúdio Carlos Relvas
Quando me pediram para escolher a melhor exposição do ano, elegi José Manuel Rodrigues e a "Antologia Experimental" que apresentou em Évora no Palácio da Inquisição (de 6 de Junho a 31 de Outubro), a convite da Fundação Eugénio de Almeida e com comissariado de Rui Oliveira. A escultura e o objecto, a instalação, o vídeo acompanhavam e envolviam numa dimensão criativa mais ampla a revisão da obra fotográfica do autor. Foi uma revisão que, depois da retrospectiva de 1998 na Culturgest ("Ofertório"), conseguiu abrir novas direcções de abordagem e reuniu peças perdidas, para além das muitas remontagens e recriações de antigos originais e de obras recentes e inéditas. Tudo feito com um enorme investimento do autor e do comissário no rigor e na inventividade das condições de montagem, na produção das excelentes provas de exposição e ainda na edição de um catálogo com uma concepção original, certíssima com os critérios da exposição. (ver fotos: abrir aqui a "categoria" José M. Rodrigues)
PELAS FOTOGRAFIAS
Se escolhesse a melhor exposição de fotografia teria de referir a de David Goldblatt em Serralves - "Intersecções Intersectadas", de 26 Julho a 12 Outubro, que espero tenha vindo resolver a relação demasiado complexada do museu com a fotografia "artística" (como se pôde avaliar na edição de "Fotografia na Arte, de ferramenta a paradigma", coedição com o Público em 2006). Continuando a progredir na mesma direcção, ver-se-á em breve o trabalho de outro sul-africano, Guy Tillim.
Goldblatt tinha sido bem mostrado em 2002 no CCB (direcção de Margarida Veiga), mas esta nova oportunidade focou-se na passagem ao digital, à cor e ao grande formato, e também à produção de trípticos, associando a observação do que foi o trânsito histórico da África do Sul à evolução dos processos técnicos e materiais, experimentada por um fotógrafo veterano. A mostra foi da responsabilidade de Ulrich Look, que em pintura se tem interessado pela sobrevivência de restos em geral exangues (agora Christopher Wool) mas que terá descoberto a vitalidade e a eficácia da fotograia (mais um esforço e conseguirá valorizar a função, contra o gosto pós-vanguardista do formalismo oco e contra o culto tardo-modernista da autonomia ou gratuitidade esteticista, que sustentam o sistema das "belas-artes" sobre a sobrevivência já só oportunista da velha teoria especulativa da arte).
Posted at 11:18 in 2008, Balanço do ano, Indice | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Tags: David Goldblatt, Fundação Eugénio de Almeida, José M Rodrigues
"Mesas pintadas"
Expresso Revista de 19 Abril 2008
Colaboração numa edição dedicada à gastronomia
(versão incompleta de 18 de Abril - actualização posterior)
Annibale Carracci, O comedor de feijões (The Beaneater)
Não é como ícones da gastronomia que nos lembramos da Última Ceia de Leonardo da Vinci, do Déjeuner sur l’Herbe de Edouard Manet ou, para incluir um exemplo nacional, do Almoço do Trolha, de Júlio Pomar. A maioria das refeições vistas em pintura não tem a ver com as artes da mesa, mas com a importância da alimentação na vida quotidiana. O que naqueles casos interessa, como em muitos outros, é o significado de uma situação convivial ritualizada, a sugestão de outras sensualidades, a crítica das desigualdades sociais. Mesmo quando a arte mais se aproxima da ilustração de virtudes gastronómicas, em muitas naturezas-mortas do período barroco, a imagem pintada pode dar a ver, para lá do que expressamente mostra, mensagens moralizadoras sobre a gula ou a fugacidade da vida (as “vanitas”), um emblema de desafogo material ou a demonstração do virtuosiosmo do artista. Uma imagem conseguida é sempre um abrir de caminhos.
As uvas pintadas por Zeuxis confundiam os pássaros e foram um mítico exemplo da verdade da ilusão que a pintura pode ser (o “trompe-l’oeil”, engano do olhar). Os prazeres e perigos dessa ilusão inquietaram os moralistas e agitaram os iconoclastas, tentando-se que o ”espiritual na arte” (Kandinsky) se substitua ao natural, ou que a observação dos temas e a das formas enquanto coisas se troque pela atenção abstracta às revoluções formais. A figuração da gastronomia é assim um tópico pouco abordado.
Posted at 13:19 in 2008, história antiga, Natureza-morta | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
Índice de um caso obscuro, o África.Cont, que nunca quis acreditar que viesse à luz do dia. Julgo que em mais de 25 anos de atenção a, ou intervenção em políticas culturais nunca vi uma história mais errada de todos os pontos de vistas:
- a segregação dos artistas africanos, das diásporas e das imigrações num elegante ghetto lisboeta;
- a substituição de uma agência capaz de actuar no terreno (em Bamako, Dakar, Luanda, Maputo, etc, numa dinâmica de intermediação e de trocas) por uma obra patrimonial de fachada, absorvendo e concentrando num espaço único a disponibilidade e os meios de múltiplos agentes públicos e privados descentralizados;
- a imediata dependência de intervenções urgentes e de resposta a necessidades locais, em África e nos bairros portugueses, em relação a um projecto de uma estrutura oficializada e central, cara e pesada;
- a inadequação do local apontado, de adaptação improvável (e caríssima) à instalação de um qualquer espaço público com ambições de dinamismo cultural;
- um provável entendimento restritivo da arte africana contemporânea a partir de uma lógica de cooptação pelos mercados dos países dominantes, ou de "um stablishment artístico etiquetado como poscolonial, composto por funcionários étnicos ou multiculturais" (como diz Jean-Loup Amselle em "L'Occident Décroché, Enquête sur les postcolonialismes", Stock, 2008;
- a sobreposição deste novo projecto faraónico - que excede tudo o que sonhou ser o voluntarismo carrilhista - a uma rede de museus muitíssimo carenciada, a outros organismos com interesses de programação na área da arte africana contemporânea e também ao Instituto Camões, que foi conseguindo, com poucos meios, estruturar políticas de trocas culturais.
(À hora do jantar oficial de lançamento da coisa, aonde não quis ir)
Posted at 19:27 in 2008, Africa, africa.cont, cidade, CML, Lisboa, lusofonia, Polemica, politica cultural | Permalink | Comments (3)
O África.Cont é agora é centro de expressões culturais africanas, numa notícia do Expresso datada de 5 Dez. com booklet inacabado:
"Cultura como instrumento político / Estratégia diplomática portuguesa privilegia África" (...)
"Consulte o PDF com dados e desenhos do projecto africa.cont": já desapareceu...
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/471046
As "autoridades" responderam à parede de críticas que acolheu o anúncio do África.Cont através de uma benévola notícia do Expresso online e com o inédito acesso oferecido em pdf a um "booklet" de apresentação onde diversas páginas estão ocultadas ou ainda por preencher. E aparece uma nova fundamentação para a ideia: "O projecto, a apresentar na próxima terça-feira, será uma forma de encetar ligações económicas mais fortes com grandes países africanos."
Ao nível e atrás da 24 de Julho, com um dos edifícios das Tercenas ao centro
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Posted at 20:54 in 2008, Africa, africa.cont | Permalink | Comments (0)
Tags: David Adjaye, Tercenas do Marquês, África.Cont
GONÇALO PENA, "A moral subject on bunker julie", 2007, óleo s/ tela, 200x480 cm
Dizia há dias que por cá não tinha aberto a temporada. Referia-me à programação institucional, da qual se esperam acontecimentos de escala pública e tanto a formação como a mera sustentação de públicos. Foram acontecendo importantes exposições em galerias, como a mostra póstuma de Karel Appel (Gal. António Prates), e outras se mantêm abertas, em vários casos com um êxito assinalável (e também de mercado, justamente, apesar da crise).
RICARDO ANGÉLICO, Dias felizes – acrílico e aguarela s/ papel, 81,7x152,7cm (2008)
Por ordem de visita, aleatória, há que referir a 2ª individual de Gabriel* Abrantes (111), a sustentar com auto-ironia bastante o entusiasmo despertado pela estreia em 2007,
mais a primeira mostra lisboeta de Gonçalo Pena na Gal. Graça Brandão - Lisboa, e a heróica e crítica pintura antiga do seu "Salão de Outono",
e o regresso periódico de Nuno Viegas (Arte Periférica/ CCB) com as suas histórias e narrativas de um quotidiano imaginário a acontecer sobre a superfície do papel ou da tela. nuno-viegas-no-ccb.html
Posted at 02:43 in 2008 | Permalink | Comments (2) | TrackBack (0)
publicado por ocasião da Arte Lisboa 2008
Foram convidados a vir à Arte Lisboa em 2004, quando a feira da FIL tentou afirmar-se como plataforma para a circulação de artistas do mundo lusófono, além de ser a montra nacional de um país periférico. Agora quiseram regressar porque Lisboa pode abrir mais uma porta para passarem fronteiras e porque o balanço das actividades tem sido positivo. O Muvart não é uma galeria no sentido habitual. É um movimento de artistas contemporâneos de Maputo que precisam de construir eles mesmos os lugares e a oportunidades para mostrarem trabalhos inovadores. Seis anos depois do seu manifesto e após várias exposições colectivas com formatos variáveis, para além das individuais e de algumas oportunidades exteriores, eles mudaram o panorama das artes de Moçambique. Este é ainda um país em construção, depois de muitos anos de guerra civil e poucos de uma independência longamente conquistada. Não tem petróleo nem diamantes que permitam ir mostrar colecções de arte a Veneza, ou montar bienais internacionais. Mas, no caso muito particular de Moçambique, um povo pobre de recursos não é o mesmo que um país sem arte, muito pelo contrário.
Vieram dos anos coloniais um “skyline” que lembra Nova Iorque, uma arquitectura moderna com imaginação própria (em especial a de Pancho Guedes), uma produção artística plural, projectada pelo nome de Malangatana e continuada com outras figuras reconhecidas, para além dos vastos caminhos do artesanato já urbanizado e da exploração do exotismo para consumo de cooperantes e turistas. Em Maputo, a arte está na rua, literalmente, nas paredes pintadas e nos expositores dos ambulantes, está nas oficinas do Núcleo de Arte (Estêvão Mucavele, Titos Mabota, por exemplo) e entrou em versão já cosmopolita nas escolas e no museu, o Musart. Os novos artistas vieram agitar uma ordem estabelecida em torno de “estilos moçambicanos” que lhes pareciam demasiado complacentes.
Os artistas do Muvart tiveram de pôr em causa a ideia do criador autodidacta e “naïf”, que continua a estar associada à arte africana, e de cortar com o predomínio da pintura de cavalete, que foi, aliás, uma tardia contribuição da modernização colonial: passaram à acção, à instalação, à interacção com o público para despertar consciências. Vieram colocar o problema da transição entre a improvável continuidade de uma criação artística de raízes mais ou menos tradicionais ou “primitivas” e um futuro que se constrói com um universo crescente de população escolarizada e com aprendizagens artísticas feitas em contacto com a contemporaneidade internacional. Como disseram no manifesto inicial de 2002, “o Muvart reivindica a capacidade dos artistas moçambicanos participarem na arena internacional, não como um simples espelho de uma África congelada dentro das suas tradições, mas como testemunho do mundo de hoje, a partir de riquezas humanas únicas”.
A consciência da ruptura afirmou-se com as formações universitárias em diferentes lugares do mundo (por exemplo, escultura no Rio de Janeiro no caso de Jorge Dias, n. 1972; pintura mural em Kiev e produção cultural na Sorbonne quanto a Gemuce, n. 1963 – entre outros itinerários). E antes com as formações médias na Escola Nacional de Artes Visuais (em especial no curso de cerâmica), a que vários têm voltado como professores. A recusa dos estereótipos de uma arte africana originária ou espontânea (tantas vezes associada à figura do mágico) não impede que os artistas se reencontrem com expressões figurativas, com materiais ou objectos, e com temas presentes em práticas tradicionais. De facto, a reflexão sobre a identidade - como ser artista hoje, como ser mulher, como ser africano, etc - pode adoptar referências a manifestações culturais locais, ao mesmo tempo que se expressa através de linguagens e conceptualizações actuais.
Anésia Manjate (n. 1976) partiu da cerâmica para a instalação de objectos populares apropriados e para a pintura objectual, com o projecto de construir pontes de reflexão sobre as questões do feminino entre a cultura Changana e o contexto de um mundo globalizado. Celestino Mudaulane (n. 1972) partilha-se entre a escultura em cerâmica e um desenho que cresce em painéis de dimensão mural, onde se interrogam ritos antigos e o presente político do país. Com Ivan Serra, vindo do design, são as linguagens mediáticas que se usam para tomar partido sobre o quotidiano. Pinto faz um desenho pulsional, automático mas atento ao mundo envolvente. Gemuce ora ilustra um delicado mundo ficcional alternativo ora transporta a ordem social para o espaço da arte. Jorge Dias, animador e teórico do grupo, é também um inventor de objectos e situações de comunicação. Não existe um estilo comum, mas sim um colectivo em que se trocam e potenciam as experiências de todos.
Posted at 02:55 in 2008, Arte Lisboa, Moçambique | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
São melhores os anos de crise. Algumas galerias queixam-se, alguns artistas também, mas há um nível de qualidade que não se encontra em anos em que se julga que tudo se vende. Para pagar o stand é preciso vender, e em anos de aperto quem compra hesita, pondera, escolhe - é natural, por isso, que quem produz o faça com mais empenho e que quem mostra apure os critérios de exigência. O resultado é globalmente melhor nesta edição 2008 da Arte Lisboa.
Depois de uns anos a apostar em coleccionadores (o que quer que isso seja, e em qualquer caso são muito poucos), agora há que cuidar dos compradores, entretanto desleixados - os que compram por gosto, por prazer, por necessidade, às vezes pequenos formatos e suportes mais baratos, quase sempre para ter em casa, para ter na parede, para viver com as obras. São esses os compradores mais interessantes, e raros aceitam intitular-se coleccionadores (como os fanáticos de cromos ou soldadinhos de chumbo).
A feira de arte da FIL está melhor, com mais pinturas interessantes e melhores fotografias, com alguns objectos ou esculturas em geral menos gratuitos. Com a crise e o receio da crise, a arte ficou menos inútil.
#
Entretanto, o Le Monde publica na edição datada de 20 um artigo com algum interesse sobre o estado actual do mercado de arte:
Enquête
Art : les vertus de la crise, por Harry Bellet, enviado a Nova Iorque
http://www.lemonde.fr/.../art-les-vertus-de-la-crise
"...les résultats catastrophiques des deux dernières semaines d'enchères new-yorkaises montrent que le marché de l'art, en croissance constante depuis 2001, s'est écroulé. Le résultat total est inférieur de moitié aux estimations."
"La dernière <crise>, assez brève, a été provoquée par les événements du 11 septembre 2001. Les prix avaient ensuite remonté régulièrement, portés par un élargissement de la base des acheteurs, des privés mais aussi de nouveaux musées qui s'ouvraient un peu partout dans le monde. Jusqu'à ce qu'interviennent de nouveaux acteurs, les fameux "collectionneurs professionnels", mais aussi les dirigeants d'hedge funds, ces fonds spéculatifs américains, qui ont bouleversé la donne.
La crise précédente, plus dure et plus longue, avait débuté à l'automne 1990 et s'était poursuivie durant six à sept ans."
Posted at 02:41 in 2008, Arte Lisboa | Permalink | Comments (2) | TrackBack (0)
Outubro já passou, mas por cá a temporada não abriu. É habitual notar-se que acaba o Verão, e costuma haver alguns acontecimentos a marcar a agenda. Um relançamento de actividades, com a projecção necessária para fazer a diferença na sucessão indiferente dos meses. Um regresso ao trabalho, um voltar de página, uma nova energia para enfrentar mais um Inverno.
Nas páginas das exposições costumava existir alguma coisa que seja notícia. Este ano não, nada, em parte alguma, e em especial em Lisboa, já que em Serralves, enfim, aparece a retrospectiva de Juan Muñoz, que sempre tem a atracção de vir da Tate Modern, com a ajuda de Todolí. (De facto, em Serralves, o Verão foi mais forte que o início da temporada, com David Goldblatt e Manuel de Oliveira, aqui transformando uma lista de filmes numa mostra muito eficaz - mas adiante).
Claro que as salas não estão fechadas, mas o que se foi inaugurando não despertou atenções, não motivou a imprensa, não animou os visitantes (potenciais), ninguém dá por nada. Porque não há nada, ou há muito pouco, para ver. O que se exibe é capaz de interessar um público especializado de candidatos a curadores, artistas pós-escolares e familiares dos mesmos - o que já é um movimento numericamente considerável de gente habituada a ver-se nos mesmos sítios - , mas tem a relevância social de satisfazer apenas um pequeno ghetto de íntimos, uma seita. Dá para preencher as agendas dos suplementos e semanários, com a habitual abundância de estrelas cúmplices, mas as notícias, quando existem, têm vindo de fora (Picasso, Rembrandt, a Vanguarda e a Grande Guerra, Mantegna no Louvre, Bellini em Roma - claro que esses são cimos inacessíveis).
Posted at 20:09 in 2008, Inaugurações 2008 | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
2008
Deixar cair não é a melhor solução. Os "Encontros de fotografia" multiplicam-se por toda a parte, com anos melhores ou piores, descobertas e rotinas. Por vezes até passam das periferias para as capitais, como Madrid e Nova Iorque. Por cá vão secando todos, no Porto, em Coimbra, Lisboa, Braga (e Vila Franca de Xira?, Évora?, etc). As fotografias encontram-se agora muito mais nas galerias, e às vezes os eventos anuais envelhecem mal, ou consomem o essencial das energias na sua perpetuação... Não estava a pensar lá ir (um programa muito colado à espuma do presente?), mas haveria sempre surpresas, e fazem falta iniciativas mobilizadoras e festivas. Por Braga passaram coisas importantes e também se activaram relações e redes entre outros encontros internacionais. Põem-se talvez questões de implantação regional quanto aos apoios, e a dependência principal do centro é um caminho em extinção. Adiante, a revisão de sucessivas visitas.
Em 1993, sob o título geral «De corpo e alma» apresentaram-se André Kertesz, Irving Penn, Robert Maplethorpe e Richard Avedon. Hoje, 15 anos depois, ninguém - quase ninguém (Serralves agora e às vezes) - cumpre este tipo de responsabilidades formativas (nem as instituições centrais (!), nem os centros periféricos, nem as galerias, por razões óbvias).
# Os Encontros adiados...
VISÃO / LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
Fotografia: 19/a edição dos Encontros da Imagem de Braga adiada para 2009
2008-09-25 14:29:03
"Lisboa, 25 Set (Lusa) - A 19ª edição dos Encontros da Imagem, uma bienal dedicada à fotografia que devia arrancar no sábado em Braga, foi adiada por falta de apoio financeiro do Ministério da Cultura (MC), disse à Lusa o director, Rui Prata. "Ainda ponderámos fazer um plano B, apresentando apenas as exposições nacionais, mas isso frustrava a perspectiva de projecção internacional dos Encontros da Imagem", referiu Rui Prata, também director do Museu da Imagem de Braga.
Os Encontros da Imagem de Braga
deviam decorrer de 27 de Setembro a 26 de Outubro em vários espaços da
cidade de Braga, mas a organização decidiu adiar o evento, depois de
não ter obtido resposta por parte do MC quanto a um apoio financeiro.
Segundo Rui Prata, os Encontros da Imagem, que estavam a ser preparados
há mais de um ano, sofreram com a mudança de tutela no Ministério da
Cultura, com a saída de Isabel Pires de Lima e a entrada de José
António Pinto Ribeiro.
"Apresentámos um projecto para esta edição em
Novembro de 2007 à então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, e
tínhamos perspectivas optimistas apesar da situação económica do país",
assinalou Rui Prata. O pedido de apoio financeiro, entre 75 mil e 100
mil euros, ficou pendente com a saída de Pires de Lima e a nova tutela
pediu relatórios e um novo dossier para a edição deste ano. Até agora,
a organização dos Encontros de Imagem não foi recebida pela tutela e
não obteve "luz verde" quanto ao financiamento. "Por isso decidimos
adiar e não cancelar os encontros. Como o tema deste ano é dedicado às
`Fronteiras do género´, às práticas artísticas femininas, a nossa
intenção é que possamos inaugurar a 08 de Março [de 2009]", coincidindo
com o Dia Internacional da Mulher, adiantou Rui Prata.
...
Estavam
previstas exposições no Mosteiro de Tibães, Casa dos Crivos, Museu dos
Biscaínhos, Museu da Imagem, Museu Nogueira da Silva, Museu D. Diogo de
Sousa, Torre de Menagem, centro comercial Bragaparque e Biblioteca
Lúcio Craveiro da Silva.
A finlandesa Aino Kannisto, as iranianas
Houra Yaghoubi, Newsha Tavakolian e Hamila Vakili e a austríaca Ana
Casas Broda eram algumas das artistas internacionais convidadas a expor
este ano nos Encontros da Imagem.
...
O orçamento para a edição
de 2008 dos Encontros da Imagem rondava os 200 mil euros, com apoio da
autarquia, de privados e, supostamente, do Ministério da Cultura.
Os
Encontros da Imagem realizaram-se pela primeira vez em 1987 e em 2002,
pela última vez, num formato anual. Na última edição, em 2006, a
organização estima que cada um dos dez espaços de Braga que acolheram
exposições dos Encontros da Imagem foi visitado por cerca de cinco mil
pessoas.
SS.
Lusa/fim
Posted at 00:10 in 2008, Encontros de Braga | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
5-8
"Duas camponesas do Covão da Ponte levam palha de centeio para a "corte", depois da malha. (...)" (Região de Manteigas). Pág. 152
"Raparigas da Gafanha, empregadas numa seca do bacalhau. Estas jovens do povo parece que se vão distanciando, no trajar e nos gostos, das suas mães. (...)" Pág. 212
"Mulheres e jovens da Costa Nova. Uma é viuva e tem a seu cargo cinco filhos pequenos. (...)" Pág. 338
"Na Gafanha. Condução do bacalhau, já seco, para os armazens onde será escolhido e enfardado. As mulheres passam, em fila, num vai-vem que não pára (...)". Pág. 211
Cada fotografia é acompanhada por várias linhas de texto que ultrapassam a condição de simples legendas para fornecer informações complementares e comentar o contexto económico e social de cada situação. Na 1ª imagem acima refere-se que "é costume (as mulheres) ajudarem-se mutuamente em certas fainas, e isto cria um ambiente de solidariedade e alegria, que suaviza, momentaneamente, os rigores da sua vida isolada e duríssima." Noutros casos, a observação estende-se à apreciação sobre a "consciência dos problemas" que têm ou não têm as mulheres trabalhadoras.
Realizadas por um não-fotógrafo (nem profissional, nem "amador", no sentido habitual de aficcionado ou praticante da arte fotográfica), que apenas por necessidade recorreu por algum tempo a um "caixote Kodak", estas fotografias concorrem com as restantes imagens assinadas por um heteróclito grupo de autores, foto-jornalistas alguns (A. Silva, Arquivo de O Primeiro de Janeiro, por exemplo), artistas profissionais outros, como Alvão (fotos cedidas pela C. V. da Região dos Vinhos Verdes, ou o Instituto do Vinho do Porto, onde a obrigação documental se sobrepõe ao gosto naturalista romantizado de outra produção conhecida), com imagens de Artur Macedo para o filme "Serra Brava" (Soajo) e em especial com inúmeros fotógrafos regionais que só localmente poderão talvez ser reconhecidos.
(continua)
Posted at 01:22 in 2008, história da fotografia, Maria Lamas, Neo-realismo | Permalink | Comments (0)
Tags: Maria Lamas
Fazer 100 anos não é uma qualidade, e às vezes envelhece-se mal. É só um nº redondo, mas será este uma facilidade jornalística ou quer dizer alguma coisa em matemática? - segundo a wikipédia, O conceito de número redondo é mais lingüistico que matemático...).
Henri Cartier-Bresson era um velho tonto quando se meteu em guerras perdidas contra a modernização da Magnum, contra as cores e contra o Martin Parr e o Luc Delaye em particular.
Quando se pôs a expor (desde 1975) e depois a publicar em livro os seus desenhos do natural parecia não estar já com grande bom-senso (entretanto ia repegando na câmara para umas encomendas bem pagas, como a operação de Beirute), porque esses desenhos, demasiado esforçados, eram levados excessivamente a sério. O exercício fará bem a toda a gente e parece-me ser uma indispensável prática para a aprendizagem e a sobrevivência dos artistas visuais (voltar a olhar para fora, exercitar a mão, adequar a mão e o olhar, como o ponteiro do sismógrafo), mas HCB devia ter percebido que os seus esforços só tinham interesse privado. Talvez a culpa fosse do Jean Clair que prefaciou o álbum "Trait pour trait", ed. Arthaud, 1989.
E no entanto o seu auto-retrato de 1984 é comovente...
Posted at 01:12 in 2008, Cartier-Bresson | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
Tags: Henri Cartier-Bresson
Em 2002, o CCB apresentou David Goldblatt, um dos grandes fotógrafos da África do Sul, revelando uma longa carreira iniciada no início dos anos 60 e pouco conhecida no exterior (ou pouco mediática), também devido aos tempos do appartheid - pelo menos até à retrospectiva itinerante que então passou por Lisboa.
Goldblatt vai voltar a Portugal, agora no Porto e em Serralves, numa mostra com um estranho título < é de facto o título da mostra original apresentada em Cape Town > que vai ser preciso ultrapassar para dar passagem à obra e ao seu autor - fotógrafo nascido na África do Sul em 1930 de pais judeus lituanos.
DAVID GOLDBLATT: INTERSECÇÕES INTERSECTADAS
26 JUL - 12 OUT 2008 - MUSEU DE SERRALVES
Comissariado: Ulrich Look
Produção: Fundação de Serralves
Conversa com David Goldblatt e Ulrich Loock (em inglês)
26 JUL 2008 (Sáb), 17h00
Ver texto sobre a exposição de 2002 no CCB que até foi capa do Cartaz do Expresso
Sobre David Goldblatt está acessível o peq. volume da Col. 55 da Phaidon (2001) com texto de Lesley Lawson.
Entretanto, seria interessante dar a conhecer Roger Ballen (New York, 1950), sul-africano de adopção desde os anos 80, de quem a Col. Photo Poche de Robert Delpire (ed. Nathan, 1997) publicou "Cette Afrique là". Em 2007, durante o PhotopEspaña a Gal. Max Estrella apresentou "Shadow Chamber", livro de 2005. Ver www.rogerballen.com
E mais ainda descobrir os fotógrafos que animaram desde os anos 50-60 o magazine"Drum", como Jürgen Schadeberg, Bob Gosani e Peter Magubane, enquanto em Moçambique se afirmava a obra de Ricardo Rangel...
Posted at 22:53 in 2008, Fotografia africana, Goldblatt, SEC, Serralves | Permalink | Comments (0)
Não sei bem se ainda há jornais e noticiários, ou se só importam os não-assuntos, mas ainda há acontecimentos. Por exemplo o restauro da pintura mural de Estrela Faria, instalada em 1953 numa parede do átrio do Cinema Alvalade. No lugar existiu depois uma igreja(?) da Iurd (ou seria Maná?) e está a nascer agora um prédio de habitação, comércio e nova sala de cinema, onde vai ser reposto o antigo painel:
É uma operação de restauro de grande vulto, que talvez seja até inédita entre nós, realizada pela empresa K4 de Sofia Trindade (o nome K4 aparece num quadro de Eduardo Viana e foi título de uma novela de Almada...)
Posted at 12:52 in 2008, cidade, Património, Restauro | Permalink | Comments (1)
Tags: Estrela Faria
EXHIBITION & LAUNCH INVITATION - ANGAZA AFRIKA - OCTOBER GALLERY, LONDON
"The exhibition brings together major works by 12 artists who best represent the innovative and dynamic artistic practices across the African continent and the African diasporas, and launches the book, Angaza Afrika – African Art Now – a highly visual survey of contemporary African art compiled by Chris Spring, curator of the African Galleries at the British Museum, published by Laurence King Publishing.
Exhibiting Artists: El Anatsui · Mohamed Omer Bushara · Jorge Dias · Tapfuma Gutsa · Romuald Hazoumé · Abdoulaye Konaté · Rachïd Korachi ·Karel Nel · Magdalene Odundo · Owusu-Ankomah · Yinka Shonibare MBE · Julien Sinzogan
Jorge Dias, escultor e animador do Muvart, expôs em Lagos em 2005, em " Zoologia dos Trópicos ", apresentado por António Pinto Ribeiro (o link)
depois em «Lisboa - Luanda - Maputo», na Cordoaria Nacional,
e foi um dos responsáveis de "Réplica & Rebeldia" (que o Instituto Camões não chegou a mostrar em Lisboa). Passou pela Arte Lisboa em 2004 e pelo Arco em 2005, entre outros lugares.
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Posted at 01:27 in 2008, Arte Africa, Exposições, Moçambique | Permalink | Comments (0)
Tags: Chris Spring, Jorge Dias
Por Sandra Vieira Jürgens
Lisboa, 25 de Março de 2008 (publ. em 4 Abril 2008)
Versão integral (aqui publ. a 27/08/2008)
"Na entrevista que publicamos este mês, Alexandre Pomar, importante crítico de arte <uff!?>, fala-nos sobre si e sobre o contexto que o rodeia: a actividade jornalística, a imprensa, a política cultural, o contexto museológico, os seus artistas de referência e a actual conjectura nacional. Quando questionado sobre a intervenção dos agentes do meio artístico, Pomar acedeu ainda a expressar comentários às assumidas compatibilidades e incompatibilidades que pautam as suas relações.
P: Durante muitos anos foi crítico de arte do semanário Expresso. Que balanço faz desse período de actividade?
R: Comecei por escrever alguma crítica de arte no Diário de Notícias e foi a partir daí que fui convidado a ir para o Expresso. Lembro-me sempre que o que desencadeou a passagem foi uma sequência de quatro artigos sobre a exposição “Anos 40” dirigida pelo José-Augusto França, onde tomei uma posição de grande divergência quanto a diversos aspectos históricos, e o Cesariny, num inquérito, declarou que eram um bom ponto de partida para um esclarecimento. Além de achar que tive razão, a aposta no debate compensou, porque foi por isso que me convidaram a ir para o Expresso. Continuei a pensar que era assim que valia a pena escrever, com independência e frontalidade de opinião. Fui para o Expresso como coordenador da área da cultura e restava-me pouco tempo para escrever mais do que notas do roteiro. Durante cerca de dez anos fui tentando acumular as duas tarefas, mas depois nunca deixei de ser jornalista além de ser crítico de arte. Acho que essa situação me permitiu ter uma posição particular e às vezes mais confortável.
P: Em que sentido?
R: Permitiu-me manter uma maior independência profissional e pessoal face ao chamado meio da arte, e, de vez em quando, afastar-me do comentário crítico sobre as exposições, que pode ser uma rotina penosa, para me ocupar mais de questões de política cultural ou de acontecimentos culturais em geral. Por vezes, o panorama era ou é tão medíocre que se torna vantajoso não ter a obrigação de escrever sobre tudo, e assim poder escapar a demasiadas zangas e cumplicidades. Como a minha posição era a de coordenador, e como havia vários colaboradores, tinha a hipótese de passar algum tempo a escrever menos sobre exposições e mais sobre política cultural. Essa alternância era vantajosa ao equilíbrio pessoal e evitava um desgaste demasiado rápido.
Posted at 23:58 in 2008, Antologia, Artecapital, crítica, Entrevista | Permalink | Comments (0)
Tags: Artecapital
Wayne Thiebaud (1920, Mesa, Arizona), Curved Intersection, 1979, óleo s/ linho, 58,4 x 40,6 cm). Col. part. Do catálogo de W.T. A Painting Retrospective, by Steven A. Nash e Adam Gopnik, Fine Art Museums of San Francisco, Thames & Hudson, 2000 (itinerante: S.F.; MAM Forth Worth; The Phillips Collection, Washington e Whitney Museum of American Art, 2000-2001)
in ARTECAPITAL
Por Sandra Vieira Jürgens
Lisboa, 25 de Março de 2008 (publ. em 4 Abril 2008)
Já por lá passou muita gente (contei 24, desde Abril de 2006, em dois anos, portanto)
gente do meio das artes (administradores e directores, coleccionadores e artistas - poucos, críticos, galeristas, amigos próximos e adversários, etc). <Não é, não deve ser, uma mesma gente esse meio das artes, é preciso encontrar diferenças e oposições: não pode ser uma comunidade, ou um gheto>.
Coube-me agora a vez; sucedo a Catherine Millet, que foi leitura regular na ArtPress (venho da cultura francesa, mas já não de Paris - veja-se como ela disse coisas interessantes *), e antes foi o João Pinharanda, colega dos anos 80 <mas eu não sou certamente da geração de 80, como se verá, mesmo que por essa altura tenha começado a escrever sobre artes>.
Principia assim:
"Na entrevista que publicamos este mês, Alexandre Pomar, importante crítico de arte <uff!?>, fala-nos sobre si e sobre o contexto que o rodeia: a actividade jornalística, a imprensa, a política cultural, o contexto museológico, os seus artistas de referência e a actual conjectura nacional. Quando questionado sobre a intervenção dos agentes do meio artístico, Pomar acedeu ainda a expressar comentários às assumidas compatibilidades e incompatibilidades que pautam as suas relações.
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Tags: Artecapital, Entrevista, Sandra Vieira Jurgens, Wayne Thiebaud
A feira já foi e as polémicas pareciam ter-se esfumado, até para o ano. Mas não. Pedro Cera veio propor um esclarecimento - o seu - sobre os mecanismos da selecção das galerias, sobre o papel desempenhado pelas galerias estrangeiras no júri espanhol (leia-se Cristina Guerra, nesta edição), sobre a conveniente conduta das galerias excluídas - Paulo Amaro (ex-24b, de Oeiras) portou-se bem porque se manteve em silêncio e foi dar a volta por várias outras feiras; a 111, depreende-se, portou-se mal porque protestou e parece não ter projectos visíveis de internacionalização.
É uma intervenção relevante que não devia ficar perdida em anexo a um esquecido texto com data de 2 de Outubro de 2007 que se chamou " Menos Arco em 2008" - ver comentários.
Mais relevante ainda quando se vai sabendo de algumas movimentações quanto à associação ou às associações de galerias.
Alguém já terá escrito que Rui Brito e Cristina Guerra consideraram juntar-se numa lista candidata à APGA, quando ainda se aproximava o "exame" madrileno, sob as diferentes condições de avaliação de uma nova directora do Arco, vinda, não por acaso, da direcção da bienal Manifesta? (Feiras e bienais, leilões e museus - nunca como agora se pacificaram assim as oposições de interesses e se conciliaram motivações adversas!)
Que o episódio da recusa da presença da 111 no Arco se tem de ler nesse contexto, tornando impossível uma tal aliança, ou resultando já da quebra daquele precário acordo?
Que depois da exclusão de Pedro Reigadas (Arte Periférica), anterior presidente da APGA, em 2005, a rejeição do indigitado candidato Rui Brito veio tornar ainda mais manifesta a impossibilidade de conciliar interesses divergentes numa mesma associação?
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Tags: APGA, Arco, Cristina Guerra, Galeria 111, Paulo Amaro, Pedro Cera, Rui Brito
Arquivo (Já não preciso de lá voltar -ou- Revisão da matéria dada, pelo menos desde 1988 e até 2007. E já bastou...) Houve um ano (2004) em que tentei quebrar a rotina, e não ir, até porque as exposições paralelas (a grande justificação da ida a Madrid) eram pouco atraentes. Mas nessa edição tornou-se mais notória a comparência dos diários, agência e tv. Madrid é a nossa capital
A edição de 2007 ficou arquivada aqui , com todo o destaque para Joana Vasconcelos. Chamou-se "União ibérica" : "A nota mais saliente na Arco, este ano ainda mais nítida, é a presença de numerosas obras portuguesas em galerias espanholas e de outros países, mostrando a crescente integração do espaço ibérico, a nível de espaços institucionais, prémios e colecções, a exemplo do que acontece noutros sectores da economia."
Abaixo, a notícia prévia.
Os escritos de 2006 entram a seguir : "Euforias ibéricas", com destaque noticioso para a exclusão da Arte Periférica. Quanto a 2005 o registo ficou aí perto : "A mercadoria da festa" para assinalar a presença do checo Miroslav Tichy.
Posted at 16:31 in 2008, Arco, Feiras | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Uma rede informal de cumplicidades e dependências...
"O circuito internacional da arte contemporânea precisa de galerias que aceitem relações de subordinação face a outras galerias-pivot dos países dominantes e às instituições que fazem as modas, e que assim assegurem a distribuição de excedentes ou mesmo só a sobre-visibilidade de certos artistas que ocupam a frente do palco, em geral medíocres - é o que significa "el posicionamiento de las galerías en el mercado artístico internacional" (apontado como um dos critérios de avaliação das galerias candidatas): uma rede informal de cumplicidades e dependências. Não é difícil perceber como e com que artistas, ou face a que galerias de Londres e Nova Iorque, as que vão ao Arco compram a sua presença."
isto tinha escrito a 2 de Outubro de 2007 em "Menos Arco" (já com novos comentários, entretanto) quando se conheceu a lista das galerias admitidas e excluídas na edição de 2008
Existe uma distribuição de excedentes das galerias centrais para as periféricas, que compram a sua notoriedade com a subordinação às sedes. As feiras de 2ª linha como a Arco são uma instância de distribuição de excedentes e de construção de sobre-visibilidades mercantis: qualquer artista "internacional" (isto é, reconhecido pelos centros) que esteja em fase de "lançamento" ou "promoção" não se vê no Arco - vêem-se as sobras dos mercados centrais e alguns candidatos descentrados.
A 111 fez distribuiu uma "Carta Aberta" sobre a sua exclusão da Arco - que, aliás, ocorre pela 2" vez, e foi antes "resolvida" por ocasião da edição dedicada a Portugal. É um oportuno acto de coragem porque é sempre mais fácil ficar calado e estender a mão para entrar no próximo ano. Mas é difícil (ou impossível) estar dentro e fora do sistema das feiras - e é pouco provável que um propósito de independência, levado a cabo com êxito, seja tolerado. Quem é afastado é sempre quem faz uma carreira de sucesso sem aceitar as regras da dependência. Os medíocres obedientes têm vantagem.
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Tags: 111, Arco, Cristina Guerra
1 Jan. Sumário de Dezembro 2007
2 Jan. Números de Madrid
3 Jan. O abaixo-assinado da remodelação cultural
5 Jan. O direito ao museu
6 Jan. Calendário british para 2008
O fim da Grande Arte no Guardian
Tate Modern 2000, a inauguração / As Tate em 2000 / David Sylvester e a Tate Britain em 2000
7 Jan. Sócrates, Barreto, o fascismo e o mercado das crónicas
Joana Vasconcelos em Paris
9 Jan. Os livros de 2007
Para reabrir a temporada
Philipe de Montebello deixa o MoMA
Amadeo 1906/2006 "Ida e volta" / Amadeo Diálogos de Vanguarda
Mondrian-Amadeo Serralves 2001
Amadeo em Nova Iorque 2000 / na Corcoran Gallery 1999
Procura-se I...
12 Jan. Maria Nobre Franco deixa o Museu de Sintra
Erich Kahn- Sintra 2005
Japão novos artistas Sintra 2004
Design e Publicidade 2003
Croft e Solano Serralves 1997 / Susana Solano Porta 33, 2002 / S.Solano Sintra 2001
Rui Sanches 2000
16 Jan. Mónica Machado e + 4 em Madrid
Mónica Machado em 1997
Mónica, Sílvia, Sandra, Marta, etc 1996
17 Jan. O site Ernesto de Sousa
18 Jan. Inaugurações
19 Jan. Sobre prémios
21 Jan. José Dias Coelho no Museu do Neo-Realismo
22 Jan. Teatro de exposição no CCB
Miguel Ângelo Rocha
Joana Vasconcelos em Paris no Expresso
24 Jan. Inaugurações : Jan Voss
Jan Voss 2002
Artes políticas ou artes de rua ("Art attack", de Peter Kennard)
Procura-se II
29 Jan. Remodelação - e depois?
Miroslav Tichy (2006-2008) e (2004-2005)
Arco 2005 (M. Tichy)
Bienal de Sevilha 2004 e mais fotos (M. Tichy)
31 Jan. A cultura do ministério
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Desde sábado 12:
Graça Morais, Uma Pietá, 2007, acrílico sobre tela, 100x73 cm
GRAÇA MORAIS: PINTURA E DESENHO
Galeria 111 Porto, até 23 de Fevereiro
Rua D. Manuel II, 246
Das 10h00 às 12h30 e das 15h00 às 19h30
Encerra 2ª feira de manhã, sábado de manhã, domingos e feriados
e
Vasco Barata
"The Film Series (to be continued)"
Fotografia
Galeria REFLEXUS Arte Contemporânea
Rua D.Manuel II, 130 2º fr
Terça a Sábado das 15h às 19h - até 9 de Fevereiro
2 entre muitas outras inaugurações
Posted at 23:42 in 2008 | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
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Posted at 23:59 in 2008, Berardo, Museus | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
Tags: Berardo, Colecção Berardo, Maria Nobre Franco
" This decade has seen the end of high art "
Já se fazem balanços da 1ª década, e esta pequena nota lida no Guardian é particularmente estimulante pelos problemas que põe: " This decade has seen the end of high art ". É centrada em Londres, no sucesso popular da Tate Modern (a confrontar com o do CCB do Museu Berardo) e no êxito mediático (e mercantil) de Damien Hirst e outros nomes. Será mais uma vez um exercício sobre a ideia de fim (as notícias dos fins...), e nesse campo já se viu tudo, já tudo acabou. E o tema da arqueologia aparece à força, é só o interesse pelas ruínas, os vestígios, a ideia de morte.
Também se poderia dizer que é a "high art" que se tornou um fenómeno popular, pela frequência dos museus, e que, como antes, há boa e má "high art" (boa e má, séria e irrisória ou fraudulenta, etc). Aliás, já antes de Hirst havia o Dalí turístico, por exemplo, e Figueres já era o museu mais visitado em Espanha. Isto de fins e de princípios é mais complicado do que parece.
O problema, aqui, é em especial o da divisão entre grande e pequena arte. Essa fronteira, quando existe por necessidade de análise, não é substancial (ou essencial) nem fixa.
"Review of the decade: The art"
Jonathan Jones
Wednesday January 2, 2008
The Guardian
"In the first decade of the 21st century modern art became a popular phenomenon. Galleries <as galerias públicas, os museus, centros de arte> stopped being the preserve of an elite, and artists communicated directly with a mass public. Who could have guessed, in 1998, that within 10 years an artist as serious as Doris Salcedo would be a well-known name thanks to a crack she'd made in a south London power station? <Tate Modern: "Shibboleth" >
The groundwork for art's popular triumph was laid in the 1990s, when art made news with one "sensation" after another. <"Sensation", Young British Artists from the Saatchi Collection, at the Royal Academy of Arts, 1997, com digressão por Berlin e New York - 1> It was outrageous and disreputable. That now seems a remote attitude. Art is accepted these days - even occasionally understood.
Posted at 10:35 in 2008, artistas | Permalink | Comments (0)
É a seguinte a lista das galerias portuguesas que vão estar presentes no Programa Geral da próxima edição do Arco:
Cristina Guerra, Fernando Santos, Filomena Soares, Graça Brandão, Lisboa 20, Mário Sequeira (Braga), Pedro Cera, Pedro Oliveira, Presença, Quadrado Azul e Vera Cortês. Na secção Arco 40, onde os espaços disponibilizados são apenas de 40 m2, estarão António Henriques (Viseu) e Carlos Carvalho. A Gal. Filomena Soares participa com um 2º espaço na secção Projectos.
Além de outras ausências notórias, como a da Módulo, que deixou há anos de participar no Arco, nota-se a falta da 111 e tb da Jorge Shirley, que teriam ficado em "lista de espera". Outras galerias foram sendo preteridas em anos anteriores, apesar do seu lugar destacado no mercado nacional.
Em 2007 estiveram 14 galerias portuguesas e o número desceu agora para 13 (ou 11 + 2, separando o caso Arco 40), com duas saídas e a entrada algo estranha da galeria de Viseu. No comité organizador, para onde são cooptadas as galerias que seleccionam as participações das restantes (não há nenhuma transparência na estrutura organizativa das feiras), tomou lugar este ano Cristina Guerra.
O país convidado é o Brasil e o Arco 2008, de 13 a 18 de fevereiro, acolhe um total de 257 galerías, 70 espanholas y 187 estrangeiras, mais 21 que na edição anterior, dispondo de mais espaço nos novos pavilhões 12 e 14.
Sem a 111, que é, pelo menos, uma das mais importantes galerias portuguesas, há menos Arco e menos razões para ir a Madrid.
Posted at 22:28 in 2007, 2008, Arco | Permalink | Comments (6) | TrackBack (0)
Tags: 111, Arco, Galeria 111