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Havia a possibilidade de mudar para pior, e esse risco será certamente evitado. Mas, atenção, o espaço da cultura governativa tanto era acéfalo, como tricéfalo, e o imbróglio (o impasse e o desconcerto, a concorrência das várias "quintas") não se resolve de uma penada: o assessor do chefe e o ministro da Economia, do Turismo, do Allgarve e da Fotografia do BES continuam as suas funções.
Aquele absurdo propósito de instalar uma delegação do Hermitage em Lisboa será travado, e as duas seguintes exposições previstas no acordo com o Kremlim serão obviamente revistas. Basta fazer as contas ao devaneio nascido numa viagem a Leninegrado (1,5 milhões de euros, mesmo extraído quase todo a mecenas, a que se acrescentam mais 900 mil para a adaptação da galeria da Ajuda), e julgar o que de lá veio, para arrepiar caminho. Pelo mesmo caminho cairão as ambições do respectivo comissário, Fernando António Baptista Pereira, que se perfilava como ameaça para o Instituto dos Museus. Faltam por aqui os meios mínimos para o expediente, mas há verbas para luxos inúteis. Como o marketing cultural do ministro Manuel Pinho, com o seu Vik Muniz (650 mil euros...) e a tal West Coast
E certamente haverá ainda tempo para travar a destruição do (e para refundar o) Museu de Arte Popular, em Belém, onde Isabel Pires de Lima queria usar um dos palcos sobreviventes da Exposição do Mundo Português (de 1940) para uma celebração neo-nacionalista do Mar e da Língua. Outro caso de entusiasmo "cosmopolita", neste caso ingenuamente trazido de São Paulo.
Os Museus não são só o passado, mas há outros tópicos mais definidores de uma política virada para o presente.
Tratar-se-á de saber, muito rapidamente, se o MC, para além de ser uma administração central e centralizadora, encontra no país e no exterior os destinatários da sua intervenção - menos autista e autoritária, e mais dialogante. Trata-se de saber se se entende como agente e representante corporativo dos autores e artistas (que a si mesmo se designam como "os criadores"), para partilhar entre si as poucas subvenções/os investimentos possíveis, ou se tem como objectivo ampliar públicos e saberes melhorando a qualidade da recepção. A falsa alternativa forjada entre criação e património deve dar lugar a uma ponderação permanente entre os interesses tantas vezes contrários da criação e da recepção (o que não é o mesmo que divulgação - e não tem nada a ver com esta ópera por satélite). Trata-se de fazer política, portanto.
Com o divórcio progressivamente instalado entre uns e outros, eram só os "Criadores" (e os seus "mediadores", já agora) que faziam ouvir reclamações.
Agora vai ser preciso provar que é preciso um ministério inteiro para se ir desconcentrando e descentralizando competências. Para se ir extinguindo, portanto.
Bom trabalho, José António.
(algumas opiniões anteriores, poucas, em MC )
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