1 . Expresso Actual de 11-11-2006 (cronologia rápida)
1887 Amadeo Ferreira de Souza-Cardoso nasce a 14 de Novembro, em Manhufe, freguesia de Mancelos, concelho de Amarante. O pai era um abastado proprietário rural e viticultor. A infância (entre 12 irmãos) decorre entre a quinta de Manhufe e as férias em Espinho.
1906 Depois de frequentar por alguns meses a Escola de Belas Artes de Lisboa, parte para Paris a 14 de Novembro, com o projecto de estudar arquitectura. O pintor Franciscso Smith acompanha-o na viagem. Instala-se no Boulevard Montparnasse. Dedica-se ao desenho e à caricatura.
1908 Aluga um estúdio no nº 14 da Cité Falguière, morada de muitos outros artistas estrangeiros e portugueses. Conhece Lucie Pecetto.
1909 Frequenta na Academia Vitti o curso do espanhol Anglada Camarasa, um pintor original e então com larga fama internacional.
1910 Manifesta em carta ao tio Francisco Cardoso um grande entusiasmo pela pintura dos Primitivos (os artistas góticos e primeiros renascentistas), que se reflecte na sua obra.
1911 Expõe seis trabalhos no Salão dos Independentes, em Abril, e depois (no Outono) realiza uma exposição no seu atelier, Rue du Colonel Combes, com o amigo Amedeo Modigliani. Relaciona-se com Brancusi, Archipenko e talvez já com o casal Delaunay.
1912 Publica o álbum XX Dessins e ilustra o manuscrito de La Légende..., de Flaubert, durante uma estada na Bretanha. Expõe no Salão dos Independentes e no Salão do Outono.
1913 Participa com êxito no «Armory Show» em Nova Iorque, Chicago e Boston; sete obras são adquiridas e três delas vêm a ser reproduzidas em livro e doadas ao Art Institut de Chicago. Expõe pinturas de uma nova orientação abstraccionista no I Salão de Outono da Galeria Der Sturm em Berlim, por recomendação de Robert Delaunay.
1914 A Guerra surpreende-o em Espanha (onde visitara Gaudí, em Barcelona) e obriga-o a instalar-se em Manhufe, com Lúcia, depois de terem casado no Porto.
1915 Contactos e correspondência frequente com Robert e Sonia Delaunay, que então residem em Vila do Conde e depois em Vigo. Projectos de «expositions mouvantes», também com Eduardo Viana e Blaise Cendrars.
1916 Expõe em Novembro no Porto, no Salão Jardim Passos Manuel, 114 obras sob o título «Abstraccionismo». E depois em Lisboa, na Liga Naval, no Palácio do Calhariz, com um folheto-manifesto de Almada Negreiros. Publica o pequeno álbum 12 Reprodutions. Entrevistas em «O Dia» e «Jornal de Coimbra».
1917 Duas obras são reproduzidas na revista «Portugal Futurista».
1918 Morre em Espinho, a 25 de Outubro, vítima da «pneumónica» ou «gripe espanhola».
2 (diccionário)
AMADEO SOUZA-CARDOSO (1887-1918) – Foi o único artista português que na primeira metade do século se integrou plenamente nas movimentações da vanguarda internacional, mas a morte precoce interrompeu-lhe a prometedora carreira.
Nascido em Manhufe, no Minho, fez breves estudos em Lisboa e chegou a Paris com 19 anos, em 1906, com o projecto de se dedicar à arquitectura. No início da nova década trocou os círculos de amigos portugueses pelo convívio com Modigliani e outros artistas de primeiro plano, como Brancusi, Juan Gris, Robert Delaunay e outros. Sem se fixar na adopção de um estilo único, iniciou então uma trajectória tão breve como fulgurante, marcada por aproximações eclécticas às novas correntes do tempo (cubismo, futurismo, orfismo, etc) e também por uma abordagem muito precoce da abstracção, de que foi, em 1912, um dos pioneiros.
Entretanto, a sua obra ganhara alguma projecção parisiense e internacional com a publicação de um album de desenhos e com pinturas em que se afirmava o gosto por uma estilização orientalizante e elegantemente decorativa, com as quais participou em exposições em Berlim e no famoso «Armory Show» americano. Aí se venderam três quadros que hoje pertencem ao Art Institut de Chicago.
A Guerra de 14, que o surpreendeu em Barcelona, de visita a Gaudi, fê-lo regressar ao País, mas ao isolamento dos seus últimos anos portugueses, até ser vítima da epidemia de gripe, correspondeu o período da sua pintura mais radicalmente original. Os últimos quadros, em que passou da inconstância das anteriores experiências a insólitas inovações pessoais, foram uma síntese explosiva e vibrante de cor, onde os motivos populares conviviam com a colagem de objectos. Fez exposições no Porto e em Lisboa, com escândalo público e o apoio de Almada e da geração do «Orpheu», mas a sua obra ficou a seguir quase esquecida, na posse da família, até ser objecto de uma nova atenção crítica nos anos 50. Tem um museu com o seu nome em Amarante.
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