2006 - 2004
1. Expresso Actual de 11-11-2006
Operação Amadeo
A exposição «Diálogos de Vanguarda» coloca a breve obra de Amadeo, com menos de uma década de duração efectiva (entre 1907 e 1918), em relação com a de artistas que foram seus amigos mais ou menos próximos, e em geral com a de contemporâneos com quem se podem encontrar afinidades de experiências ou orientação. Além de obras dos portugueses Eduardo Viana e Almada Negreiros, comparecem o seu professor Anglada Camarasa (um grande pintor espanhol que deveria ser mais conhecido) e os amigos mais chegados como Modigliani e Brancusi, os futuristas Boccioni, Severini, mais Archipenko, Ortíz de Zárate, Robert e Sonia Delaunay, Otto Freundlich. Noutros casos vão sumariar-se pontos de encontro e coincidências, ou interrogar-se possíveis influências e marcos cronológicos, através de presenças cubistas parisienses como as de Picasso, Gleizes, Metzinger e Gris ou Derain e Duchamp, de orientações expressionistas germânicas como Macke, Gabriele Münter, Lyonel Feininger, Kokoschka, e de diversos russos como Alexandra Exter, Jawlensky, Klioune, Puni, Malevitch, Popova, Gontcharova e Tatlin. O itinerário alarga-se a imagens documentais dos Primitivos italianos e ainda a gravuras japonesas e máscaras africanas, no âmbito de um vasto inquérito sobre o trabalho de Amadeo que será também, certamente, uma original síntese das linhas de fractura de uma década de convulsões e intensa experimentação. No total, deverão ser reunidas perto de 260 obras, com recurso a empréstimos esperados das mais diversas proveniências.
Comissariada por Helena de Freitas, a mostra é o primeiro capítulo visível de uma vasta operação que se desencadeou no ano 2001 com a criação da equipa encarregada de publicar o catálogo «raisonné» da obra de Amadeo de Souza-Cardoso. O projecto começou a ser considerado em 1995, após a edição do catálogo sistemático de Vieira da Silva e ainda por José Sommer Ribeiro, primeiro director do Centro de Arte Moderna, que esteve ligado às sucessivas aquisições de obras de Amadeo para a Fundação Gulbenkian. A preparação de um catálogo exaustivo e crítico deveria suceder-se à exposição do centenário do nascimento do pintor, em 1987, e em especial à incorporação das últimas obras e do espólio documental então ainda na posse da sua viúva, ao mesmo tempo que com ele se procuraria asfixiar o mercado de obras que a Amadeo eram falsamente atribuídas. Implicando um minucioso levantamento de trabalhos referenciados e novas pesquisas das peças perdidas, bem como a actualização de registos fotográficos e o cruzamento dos dados documentais, a operação irá dar lugar à publicação no início de 2007 de um primeiro volume com a fotobiografia do pintor, seguindo-se os tomos relativos à pintura e ao desenho, até ao fim do próximo ano.
Entretanto, a exposição que se inaugura no dia 14, no centenário da partida de Amadeo para Paris e no âmbito das comemorações do meio centenário da FG, é acompanhada por um catálogo próprio e pelo lançamento da edição facsimilda (em duas versões de diferentes preços) de um álbum manuscrito e desenhado pelo pintor que se encontrava inédito desde 1912.
2.
Um catálogo anunciado para 2006
Expresso Actual 28-02-2004
Está prevista para 2006 a publicação do catálogo «raisonné» de Amadeo de Souza-Cardoso, ao cabo de seis anos de trabalho de uma equipa criada no Centro de Arte Moderna em 2001. Ficarão então inventariadas e estudadas - além de reproduzidas - todas as obras entretanto localizadas, cujo número total, já alargado pela descoberta de desenhos inéditos e outros trabalhos dispersos, não deve ultrapassar as 500 peças.
Em 1987, por ocasião do centenário do nascimento do pintor, a Gulbenkian reunira numa grande exposição cerca de 160 pinturas e cem aguarelas, desenhos e caricaturas, procedendo-se a um primeiro levantamento exaustivo. Mais duas centenas de outras obras, incluindo algumas pinturas, são actualmente conhecidas, encontrando-se entre elas um quadro descoberto no Museu de Arte de Michigan por efeito da antologia levada aos Estados Unidos em 1999. Trata-se de uma das sete obras (Regresso da Caça) vendidas durante a famosa exposição no Armory Show, em 1913, onde Amadeo foi um dos artistas em destaque.
Maria Helena de Freitas, que coordena o projecto, refere que a análise do espólio documental da viúva do pintor, Lúcia de Souza-Cardoso, recentemente doado ao CAM, e de outras fontes, bem como o estudo científico e técnico das obras, já facultou o acesso a dados biográficos totalmente desconhecidos e «revelações surpreendentes» relativas ao processo de trabalho. Houve também «avanços muito significativos» na datação de obras e na identificação de títulos originais, que oportunamente o catálogo revelará.
Uma equipa de conservação e restauro (K4, de Vanda Coelho e Ana Isabel Pereira) ocupa um espaço improvisado nas caves do CAM, por onde têm passado obras de muitas colecções - também particulares - com vista à realização de exames periciais que igualmente fornecem pistas de investigação. Para além da reflectografia e por vezes da radiografia, é essencial conhecer os suportes e as grades das telas, com a identificação das respectivas origens e a anotação exaustiva de tudo o que aí se pode encontrar escrito: marcas de fabricantes, títulos, anotações, etiquetas de exposições, etc.
A própria brevidade da obra de Amadeo (produzida ao longo de cerca de 12 anos, de 1906 a 1918), bem como a sua concentração na posse de instituições (tendo a Gulbenkian a colecção mais vasta), assegura a possibilidade de o catálogo sistemático ser entendido como oportunidade para uma investigação aprofundada sobre o pintor, que até agora foi sempre objecto de interpretações parcelares. Entretanto, «tentar asfixiar o desenvolvimento do mercado de obras falsas» é também uma das preocupações a que o catálogo virá dar resposta.
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