Pior não é impossível
Aquilo demora a pegar. Posto a circular há vários dias, tem um número muito escasso de subscritores. Pode ser que a notícia do Público o salve do fracasso aritmético, mas também pode ter como consequência isolar os autores da iniciativa. Apresentados como artistas, representam um sector muito "marcado" do sector, mais dependente da autocomplacência e dos corredores da Ajuda. E a invocação da memória do Carrilho, apesar do PS não se ter visto livre dele nem do seu lastro governativo (optando por desfazer em silêncio ou só paralisar o monstro burocrático que deixou em herança), não ajuda à campanha. A credibilidade é escassa.
Quanto à substância da coisa, a questão principal é que a seguir pode ser ainda pior (em resumo: pior não é impossível). É (foi?) uma coisa errática, sem visibilidade política, sem coerência programática, de quem anda a apagar fogos num lado e a acendê-los no outro, em grande parte por inabilidade, mas também por isolamento cultural e político (e mesmo partidário).
Sob a vigilância daquele conselheiro (?!) e a indiferença do 1º, que justamente colocou as prioridades na educação e na ciência, as coisas foram complicadas desde início. Desde logo porque o partido não lhes conseguiu fornecer os necessários assessores qualificados nem favorecer qualquer dinâmica interna de reflexão e orientação sobre as questões da administração da cultura (o deserto interior deixado por Carrilho não se saneou). As alterações feitas na orgânica governativa por efeito do PRACE
corrigiram o gigantismo do MC mas não foram conceptualizadas nem
aprofundadas nos seus efeitos.
No campo da cultura, o PS desfez-se em seitas confidenciais e em interesses particulares e inorgânicos. A sobrevivência ao longo do ministério de Pedro Roseta dos critérios e das pessoas antes instalados, sem propiciar uma saudável alternância de orientações, tornou tudo mais difícil, colocando as administrações em roda livre e distanciando-as de uma qualquer coerência governativa. O vazio de orientações estratégicas repetiu-se na Câmara de Lisboa.
Entre a insatisfação da clientela e a indiferença dos públicos, venha o diabo e escolha.
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