A revista "L + Artes" (nº 44. Janeiro 2008) fez o favor de publicar quase na íntegra sob o título geral "Prós e contras" uma declaração sobre prémios, que se alargou muito mais do que o solicitado.
Na altura não me ocorreu que o momento jornalístico surgia com a simultaneidade de alguns concursos mais oficializados (quanto a júris e a empresas), e referi-me a uma pluralidade de prémios e concursos que inclui as bienais de Cerveira e Vila Verde, Coruche e Seixal(?), o Casino Estoril e outras ocorrências locais, sectoriais, etc, que sempre foram importantes para pôr a máquina das artes a funcionar.
É esse pluralismo que conta e não só os três ou quatro prémios mais concentracionários, onde se assiste à cooptação dos artistas institucionais e à reprodução do sistema académico vigente.
Na realidade, esses não me interessam. Vou vê-los por obrigação, e já sei que só por grande acaso daí sairá alguém que importe. Arranjam umas bolsas, ocupam-se nuns mestrados, aparecerão numa ou outra exposição "curatoriada", em geral distanciados por presunção ou inoperância da realidade prática do mercado galerístico. Há tempos entrariam no circuito CCB-Serralves-Chiado, mas isso nunca foi chão que desse uvas - passam por lá cedo demais e desaparecem.
Já agora, fica o registo da opinião sobre os prémios em geral:
"Os prémios ou concursos, associados a exposições ou não, são uma forma importante de proporcionar o aparecimento e a visibilidade de jovens artistas. Fazem parte e devem continuar a fazer parte, depois de um período em que foram desvalorizados, do mecanismo normal de afirmação anual das novas promoções de jovens estudantes. Embora eles sejam mais tarde esquecidos nos curricula, quase todos os artistas começaram as suas carreiras enviando candidaturas aos prémios e concursos do seu tempo, o que é ainda mais significativo por terem desaparecido em Portugal (não em Londres, por exemplo) as exposições colectivas ou salões anuais.
Felizmente os prémios multiplicaram-se nos últimos tempos, atribuídos por empresas, instituições ou cidades, o que constitui um estímulo e uma oportunidade para acolher, incentivar e diferenciar os inúmeros jovens que saem anualmente das escolas. Note-se que a aparição de um prémio para a pintura, atribuído por um júri com "peso" (com Julião Sarmento, Cabrita Reis, Vicente Todoli) indicia algumas correcções de direcção face a erros anteriores.
Os aspectos negativos, quando existem, decorrem da concentração de alguns desses prémios sob as tutelas institucionais e da subordinação de certos júris a compromissos estreitos com interesses menores de museus e centros de arte, que tendem a funcionar, ou a querer funcionar, como uma coutada fechada. Num meio demasiado pequeno, os mesmos directores, os mesmos comissários para todo o serviço, os mesmos críticos e/ou redactores de press-releases circulam às vezes de júri em júri, limitando a expressão de um pluralismo saudável e condicionando a carreira de alguns jovens artistas favoritos das instituições.
Se a credibilidade dos prémios exige a seriedade e relevância dos júris, é necessário que os prémios não se encerrem num círculo vicioso institucional - não é isso que está a acontecer, até porque tem sido exercida alguma vigilância face ao sistema hierárquico das artes. E é necessário que os artistas, os jovens artistas, ocupem a primeira linha, sem se subordinarem às condições de "tutoria" e comissariado que surgem agora associados a alguns prémios, trocando obras por "produções" conjuntas de artista+comissário/jurado, quando se não trata de aceitar condicionamentos absurdos de design expositivo ou cenografia, já que os mecenas são ricos.
Diferenciar artistas de licenciados em arte é uma função que os prémios
para jovens têm assegurado. E os prémios para artistas mais velhos, em
reconhecimento de maturidade ou como consagração, são também
necessários.
Mas alguns prémios parecem funcionar como o processo que "o sistema" usa para cooptar os novos artistas institucionais - como é o caso dos "novos-velhos" da EDP no Porto. Não são os melhores jovens artistas, mas os mais identificados com ou os mais dependentes do sistema institucional. Aqueles que obedecem às hierarquias instaladas e não os que as põem em causa, como se esperaria de jovens artistas."
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Sobre o 3º Prémio de pintura Ariane de Rothschild...
Sobre o BES Revelação em Serralves , encerrado para aluguer de salas (com a ressalva de Catarina Botelho...
Quanto ao EDP jovens artistas, tb no Porto, as presenças de Mónica Gomes (imagens projectadas, dispositivos de projecção - alguns avariados), Daniel Melim (desenho) e Pizz Buim (uma profusa instalação de réplicas de "ícones" artísticos) justificavam a edição.
Foi importante ter mencionado esta questao dos premios de Arte.
Eu penso que os premios sao, sem duvida, importantes para que se crie uma dinamica nas Artes. Nao apenas ao nivel de valorizar artistas que se destaquem no ambito desses premios, mas tambem como forma de cativar a opiniao publica relativamente 'as artes.
Em todo o caso, nao sao os premios que fazem o artista, nem tao pouco o facto de um artista ganhar mais premios, que faz com que seja melhor que os outros. Apenas o e' naquele ambito.
Pelo que me apercebo dentro dos artistas mais novos, por vezes o facto de ter sido nomeado para este ou aquele premio, ou por fazer parte desta ou daquela coleccao faz com que se sintam superiores a outros com menos sorte.
E isto para mim cria uma certa presuncao da parte dos mesmos.
A mim parece-me que o melhor Artista sera' aquele que trabalha seriamente na sua arte.
Todas as outras formas de legitimacao, sejam por instituicoes, premios ou mercado sao formas ilegitimas de legitimar o trabalho e o valor artistico de um Artista.
Talvez porque sejam demasiadamente datadas e pela Historia e' mais do que um facto que Artistas mal-amados no seu tempo acabam por ser considerados grandes mestres apos a sua morte ou ainda em vida, mas fora dos seus melhores anos.
Outro aspecto que questiono e' o dos "licenciados em arte", porque realmente parece-me que hoje em dia existe uma certa correlacao entre um e o outro.
Sao raros, os casos em que um artista nao seja um licenciado em arte ou que tenha passado por uma escola de formacao artistica (como o Ar.Co ou a Maumaus, por exemplo).
Muitas das vezes o que se percebe e' que isso e' um factor para que a pessoa em questao seja considerada artista.
Como e' que o Alexandre analisa esta questao?
Sera' mesmo necessario que uma pessoa que se queira expressar e que seja culturalmente actualizado e que consiga determinar as suas questoes artisticas e que trabalhe para isso tenha de ir para uma escola de arte, para que seja legitimamente considerado Artista?
Ainda que estude os mesmos autores que poderia ser obrigado a estudar na escola, ou que tenha a curiosidade e necessidade de os procurar, quando tem duvidas no seu trabalho e se preocupa em perceber como outros pensadores enfrentaram os mesmos problemas?
Obrigado, desde ja'
Posted by: Pedro dos Reis | 02/03/2008 at 18:26