linogravura (1954-1961?)
Se a intenção é reforçar o lugar de José Dias Coelho numa história não "muito minuciosa" da arte portuguesa (numa referência e em correcção a J.-A. França), o resultado não é alcançado. Parece ser, de facto, o artista e o militante político que importa ter presente, incluindo em especial a dramática circunstância do seu assassinato em 1961, com que ultrapassa a condição de mito partidário (cf. "A morte saiu à rua", de José Afonso).
É também a doação de um vasto espólio ao Museu que importava assinalar, mas teria valido a pena complementar as obras do acervo familiar com a restante documentação que nos apresentasse além do artista de carreira interrompida o militante partidário - ela será seguramente muito conhecida no interior do partido, mas o museu dirige-se a um público mais vasto.
Numa exposição de natureza histórica (neste caso com obras de irão de 1940 a cerca de 1960), construída na sua maioria por trabalhos dos anos de aprendizagem e em muitos casos de índole familiar (retratos, obras oferecidas), para além das que têm a condição de estudo ou ensaio, justificava-se a inclusão de documentos que lhes servissem de enquadramento e a completassem - os livros ilustrados e não só os originais utilizados, as edições do Avante com as suas ilustrações, os catálogos e as fotografias das exposições, etc (aliás, se cabem os retratos desenhados pelos amigos, por que não os retratos fotográficos?).
E justificava-se um título menos afirmativo ("O desenho na obra de José Dias Coelho"), porque os limites são os de um espólio doado e além de desenhos se incluem pinturas (guaches) e esculturas. Não é, aliás, da importância do desenho na obra de JDC que aqui se trata, mas do predomínio de desenhos no acervo doado em 1997 por Margarida Tengarrinha.
Outro ponto a considerar diz respeito ao contributo para o entendimene do que teria sido o neo-realismo, de que foi geracionalmente e politicamente próximo, sendo mais difusa, mais hesitante ou indefinida, a relação estética. Os comissários David Santos e Luísa Duarte Santos optaram por destacar 12 desenhos numa secção designada "Neo-realismos" - o plural sublinhará a imprecisão do termo, que se aplica a quatro representações desenhadas de situações de repressão, três de trabalho ou transporte de cargas, três rapazes seguramente pobres ou da rua e duas cenas líricas ou pastoris. Mas ao lado distingue-se o capítulo "Líricos", com quatro entradas, embora, de facto, os casais enamorados, com ou sem pombas e filhos (a família), são uma das constantes significativas do neo-realismo. <Soube depois que é uma designação com que o próprio JDC agrupou alguns desenhos - 24Jan.>
Em muitos casos, as obras expostas ilustram apenas aplicação escolar e, para além das que são só caricaturas incipientes ou paisagismos incaracterísticos, outras há em que a intenção realista estará presa a condicionalismos académicos. Noutros casos, porém, distribuídos por secções atribuídas ao auto-retrato, ao retrato de família e de amigos, ou de "estudos", a mera observação da classificação temática poderá ocultar a procura de um realismo que se pretendia moderno ou novo. Para além do caso especial da escultura, o procurado novo realismo passa por pesquisas formais que não se limitam a determinadas (e escassas) categorizações temáticas, e que tanto se poderão localizar num estudo de paisagem, como num nu ou numa observação de figuras. Não será uma definição de estilo, mas de uma certa pesquisa formal apontada a uma renovação do projecto realista, certamente uma afirmação determinada de vitalidade, uma vontade de firmeza também interior, de esperança, de luta.
ver Inaugurações
E vale a pena consultar o site do PCP: dorl.pcp.pt - particularmente bem documentado sobre JDC.
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