É "Imponderável" (o título da exp.) o que não se pode pesar, ou avaliar, ou mesmo, por extensão, o que não se pode definir. E se o peso é uma questão tradicional da escultura, a relação de avaliação (da qualidade) e os problemas de definição e/ou de interpretação têm incidências mais genéricas.
O desenho escultórico que atravessa o espaço e até a parede, circulando emaranhado por dois espaços separados, é imponderável nesses vários sentido. Acontece com a sua estranheza, a sua desrazão, confrontando-nos com o desconhecido. Também com o imprevisto ou até com o acidente.
Surgidas das pernas torneadas (desenhadas) de uma mesa (redonda), as linhas de madeira que se elevam e riscam o espaço podem resultar de uma disfunção imprevista de um pacífico objecto, introduzem a inquietação num cenário doméstico. São a possiblidade da surpresa, ou do acidente. Uma possibilidade de ficção.
Numa outra série de obras, noutro pavilhão do Hospital Júlio de Matos (onde já apresentara a exposição "Voz" em 2005, e onde teve atá agora um atelier), Miguel Ângelo Rocha expõe cinco obras de madeira que em vez de voarem assentam sobre o solo; são arquitecturas, antes de serem casas.
Disposições de planos e triangulações, que não vemos como exercícios de geometrias abstractas mas como hipóteses de abrigos, ou antes, circulações entre interior e exterior, entre aberto e fechado. O "telhado" eleva-se como um gesto, a parede oculta e também desvenda. Mais do que lugares, estas quase maquetas são objectos com vida própria, construções animadas, imponderáveis na respectiva indefinição que nos é entregue enquanto espectadores, inevitavelmente exteriores ao seu acontecer.
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