Artista e comissário
Expresso Cartaz (Actual) 21-04-00
RUI SANCHES vai apresentar uma exposição de esculturas e desenhos no Pavilhão Branco do Museu da Cidade e, pouco depois, organizará a montagem de uma escolha pessoal de obras da Colecção Berardo no Sintra Museu de Arte Moderna. A segunda exposição, que estará associada à aquisição e instalação neste museu de uma sua escultura de grandes dimensões, dará origem à publicação do livro Um Olhar sobre a Colecção Berardo, que vai inaugurar uma nova colecção de pequenos livros de autor, os «Cadernos do Museu».
A articular os dois projectos está Maria Nobre Franco, directora do Museu de Sintra e igualmente comissária da mostra no Museu da Cidade, onde, há cerca de um ano, organizara uma outra exposição do escultor José Pedro Croft.
Rui Sanches, que foi por alguns anos sub-director do Centro de Arte Moderna, é um dos escultores nacionais que mais se destacaram ao longo dos anos 80, tendo por vezes acompanhado a sua actividade artística com a orientação de cursos de história da arte, nomeadamente de escultura. No CAM, comissariou em 1998 uma mostra intitulada «Direcção. Escultura», que foi uma muito original abordagem sobre o trabalho preparatório de atelier, desde a concepção e os ensaios criativos, até à construção das obras, através da presença de artistas como Claes Oldenburg, John Chamberlain, Richard Deacon, Anish Kapoor, Rachel Whiteread e Alberto Carneiro.
Com formação em Londres e nos Estados Unidos, Rui Sanches tem desenvolvido um trabalho em que o interesse pela representação de formas humanas é posto em diálogo com questionamentos espaciais e referências formais de origem construtivista e minimalista. Usando sistematicamente o aglomerado de madeira, e por vezes o vidro e o metal, os volumes são subordinados a uma construção por estratificação das lâminas da madeira, pela qual, por vezes, as formas orgânicas assumem também uma condição estrutural relacionada com a topografia, eventualmente com a paisagem.
O convite que lhe foi dirigido para organizar uma selecção de obras do Museu de Sintra, reordenadas espacialmente como um discurso pessoal e crítico, tem o interesse de constituir, para além de um «olhar sobre a colecção», uma outra forma de aproximação ao seu próprio trabalho e às respectivas fontes de informação ou interesse. É um tipo de exposição habitualmente promovido com êxito em museus internacionais.
A mostra no Museu da Cidade inclui peças inéditas e algumas outras não apresentadas em Lisboa (expostas numa recente individual na Galeria Quadrado Azul, no Porto). Inaugura no dia 24 de Maio e é acompanhada por um catálogo com um texto de Maria Filomena Molder e uma entrevista conduzida por Maria Nobre Franco.
No Sintra Museu de Arte Moderna, a remontagem parcial da Colecção, restrita ao primeiro piso, abrirá a 17 de Junho e permanecerá até finais de Setembro.
Entretanto, a possibilidade de parte da Colecção Berardo permanecer instalada em continuidade no Centro Cultural de Belém permanece em estudo, através de conversações directas entre o comendador José Berardo e o ministro da Cultura. A actual exposição no CCB, com encerramento previsto no final do mês, poderá ser prolongada.
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