"Hoje há menos público. Alguns fogachos, como Serralves, o La Feria ou o Crime do Padre Américo, têm muito público, certo. Mas seria bom que as pessoas pensassem no vazio que ali vai, naquela passividade e indiferença. Serralves está cheio mas é um passeio de domingo à tarde, como ir à Feira Popular." Pedro Costa, "Sexta", 4 Jan. 2007, pág. 20.
Também há páginas de cultura nos jornais gratuitos, mas as ocasiões desperdiçam-se.
Só vi excertos dos seus filmes numa exposição em Serralves (mais alguns minutos na televisão), e não é o prémio de Los Angeles que me faz mudar de opinião.
Há fundadas razões para haver menos público para certo tipo de produtos - a grande divisão entre arte de massas e "arte cultural" é o mais importante resultado prático da história das vanguardas artísticas ao longo do séc. XX. Quanto às vanguardas políticas, a sua história terminou no Cambodja de Pol Pot.
Por sinal, a exposição em Serralves, de parceria com Rui Chafes, que se adaptou aos temas do cineasta com um forte sentido ilustrativo (uso o termo em sentido positivo), foi uma experiência bem interessante de "reflexão sobre" o cinema de exposição - que em geral se confunde com a apresentação de umas salas vazias onde passam vídeos em loop (não é Feira Popular, engana-se, é Feira elitista, o "povo" anda por outros sítios).
Não é aquela arrogância miserabilista que me motiva, mas o seu contrário, o agrado que senti perante a multidão que faz o seu passeio de sábado (e domingo também, certamente) pelas salas do Museu Colecção Berardo no CCB. É um público interessado e atento. E esta política de portas abertas, que transferiu para dentro das galerias o público que antes passava pelos átrios do CCB (e que deixara de entrar porque o que via não lhe interessava - e não interessava a quase ninguém) vai ter certamente consequências. É uma aprendizagem de direitos cívicos (o direito ao museu), para além do que for satisfação estética e/ou informação cultural.
Atenção: a exp. "Um Teatro sem teatro" (é uma exp. difícil, que justifica diversas visitas demoradas) tem hoje, dia 6, o último dia de entradas gratuitas.
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