A feira já foi e as polémicas pareciam ter-se esfumado, até para o ano. Mas não. Pedro Cera veio propor um esclarecimento - o seu - sobre os mecanismos da selecção das galerias, sobre o papel desempenhado pelas galerias estrangeiras no júri espanhol (leia-se Cristina Guerra, nesta edição), sobre a conveniente conduta das galerias excluídas - Paulo Amaro (ex-24b, de Oeiras) portou-se bem porque se manteve em silêncio e foi dar a volta por várias outras feiras; a 111, depreende-se, portou-se mal porque protestou e parece não ter projectos visíveis de internacionalização.
É uma intervenção relevante que não devia ficar perdida em anexo a um esquecido texto com data de 2 de Outubro de 2007 que se chamou " Menos Arco em 2008" - ver comentários.
Mais relevante ainda quando se vai sabendo de algumas movimentações quanto à associação ou às associações de galerias.
Alguém já terá escrito que Rui Brito e Cristina Guerra consideraram juntar-se numa lista candidata à APGA, quando ainda se aproximava o "exame" madrileno, sob as diferentes condições de avaliação de uma nova directora do Arco, vinda, não por acaso, da direcção da bienal Manifesta? (Feiras e bienais, leilões e museus - nunca como agora se pacificaram assim as oposições de interesses e se conciliaram motivações adversas!)
Que o episódio da recusa da presença da 111 no Arco se tem de ler nesse contexto, tornando impossível uma tal aliança, ou resultando já da quebra daquele precário acordo?
Que depois da exclusão de Pedro Reigadas (Arte Periférica), anterior presidente da APGA, em 2005, a rejeição do indigitado candidato Rui Brito veio tornar ainda mais manifesta a impossibilidade de conciliar interesses divergentes numa mesma associação?
Que, mais do que o filtro apertado para acesso à feira de Madrid, vai estar em causa o destino da feira de Lisboa?
Que, mais do que as regras de acesso às feiras da primeira divisão, estão aqui em jogo os critérios de selecção da arte que circula sob o rótulo de "internacional", dos artistas que devem merecer os favores do Estado e da sua burocracia (dos museus e dos mecenas que os pagam - o Capital ainda tem interesses e servidores?).
A "mensagem" de Pedro Cera tem de ser lida com atenção. Passa por aí a definição de regras que importará cumprir, numa mensagem que é dirigida à "classe" e que pretende contrariar o eco que alcançou o escândalo da exclusão da 111 e de numerosas outras galerias com importância e qualidade nos vários espaços da Espanha. São regras do mercado que aí se definem, o que não é exactamente o mesmo que regras da arte que importa. Em arte, e noutras instâncias da dinâmica social e histórica, as regras não têm destino certo.
Há dois pontos a salientar no manifesto de Pedro Cera (e é com satisfação que destaco a sua colaboração neste espaço e a clareza das suas palavras). Mas a salientar com reservas: o primeiro refere-se à ideia de que "não se culpa o árbitro" - de facto, neste confronto não há árbitros (juízes independentes); há apenas agentes que se movem em defesa dos seus interesses próprios; o segundo parece atribuir aos "outros" a defesa de "interesses e investimentos patrimoniais" que o lado adverso não conheceria - já não importa tentar trocar de papéis porque essa argumentação perdeu a credibilidade.
Viva!!
sou assidua leitora do seu blog, venho cá respirar ar novo, q aqui ao norte profundo às vezes teima em não chegar...
cumprimentos
Posted by: Emília Nogueiro | 05/02/2008 at 17:31