Expresso Revista de 20 Fev. 1993
o d.c. é aqui depois do crash bolsista de 1987, cujos efeitos demoraram a chegar - a queda do mercado ocorreu só na temporada de 1989-90, em especial com a retracção do Japão e da Coreia. A situação actual parece muito diferente...
As páginas da Revista eram de grande formato e não é nada prático tentar ler aqui. ver-se-á se vale a pena tentar outra solução... E isto é só a página 1 - publicavam-se grandes "ensaios"
Arco, Madrid:
“Ano 5 d.C.” pag. 45-46
“O centro mais próximo”, pp.46-47
e mais as exp. paralelas, nas duas seguintes - ver abaixo
7 galerias portuguesas entre 66 estrangeiras e um total de 133 (tinham sido 113 e 195 em 1992 - era a crise; em 1990, 146 estrangeiras em 217 em 1990). Foi o ano de Cabrita Reis com uma indiv. na sede da Juana de Aizpuru.
Iam então à feira a Nasoni e a Atlântica, Pedro Oliveira e Cómicos (Luís Serpa), Graça Fonseca e Alda Cortez, Novo Século. Desistira a Fluxus, do Porto, e desinteressavam-se a 111 e a Valentim de Carvalho, enquanto a Módulo fazia Basel e outras.
1 Biberstein, Cabrita Reis, Manuel Baptista e Calapez nos Cómiços, actual Luís Serpa. 2 Alberto Carneiro na Gal. Pedro Oliveira, e ao fundo Leonel Moura na Gal. Graça Fonseca. 3 José de Guimarães na Atlântica (Nasoni). 4 José Loureiro, Chafes e Croft na Gal. Alda Cortez. As galerias são hoje outras, os artistas são os mesmos...
H. Suite IX de Cabrita Reis na Gal. Juana de Aizpuru
Na 1ª pág., Júlio Galán (à frente da vaga mexicana)
#
e as exp. paralelas:
27 Fev.
Madrid “A última fronteira” (3)
“Depois do quadrado negro”, pp58-61 ver: ( 4 a ) ( 4 b )
06 Mar.,
“Abismos da visão: fronteiras da razão” ( 5 ) , “Visões Paralelas” ( 6 ) , Reina Sofia, pp 52 – 56
#
Expresso Revista de 02-20-93, pag 58 R (comentário por ocasião da Arco)
3 "A última fronteira"
HÁ EXPOSIÇÕES que não passam de Madrid. Podem ir a Barcelona e
também a Valência, mas não atravessam a fronteira. Estão nessas
condições, não por acaso, as exposições essenciais que asseguram a
informação sobre a evolução anterior e as questões mais actuais da arte
moderna, as balisas cronológicas e os padrões de qualidade, de que,
aliás, a Espanha também esteve arredada até ao restabelecimento da
democracia.
É certo que circula uma ou outra exposição internacional
por Portugal — podem agora ver-se as do brasileiro Hélio Oiticica na
Gulbenkian e do italiano Pistoletto em Serralves —, mas falta mostrar,
sistematicamente, aquilo que permitiria a um público alargado entender
e distinguir o que se lhe oferece (pela sua própria natureza
problemática ou fragmentária, tal não é possível nas duas exposições
referidas).
Para além das naturais condicionantes
económicas da situação periférica, parece haver entre nós a arreigada
convicção de que bastam as ilustrações e os diapositivos para conhecer
as obras de arte, e de que as exposições se justificam só por razões
circunstanciais de natureza diplomática e comemorativa, ou, mais
recentemente, de articulação com alguns canais de circulação do «mundo
da arte».
Aquelas duas exposições têm origem no muito dinâmico Centro Witte de
With, de Roterdão, mas há que saber que a lógica própria desse
dinamismo assenta localmente na existência de museus e de grandes
exposições temporárias que permitem, a todo o momento, a sedimentação
de saberes e a circulação de informações — enquanto a importação dessa
mesma lógica parcelar, em co-produções que dependem sempre da
iniciativa alheia, funciona aqui nas condições de um quase-deserto,
entre a forçada ignorância geral e pequenas estratégias críticas ou de
mercado.
Do que se vê «lá fora» à oferta disponível em Portugal vai
um abismo que não tem paralelo nos campos da literatura ou do cinema,
da música ou da dança (mas talvez tenha no teatro), e que decorre,
entre outros factores, da total inexistência de iniciativa do Estado e
do poder local nesta área. Nada indica, por enquanto, que o gigantismo
oco do CCB ou o frenesi da capital cultural venham alterar com
continuidade essa situação.
Entretanto, a Arco tem sido, para as
centenas de portugueses que se deslocam a Madrid, a oportunidade
privilegiada para ver exposições e estabelecer uma cultura mínima no
campo das artes visuais, num processo de crescente dependência cultural
perante a Espanha.
Este ano, para além da Colecção Thyssen e da nova exposição permanente do Museu Rainha Sofia, podiam ver-se mostras antológicas de Malevitch e de Miró, importantes exposições de Rauschenberg, Brice Marden, James Turrell e Susana Solano, e ainda a colectiva «Visões Paralelas»,
vinda de Los Angeles e com destino a Basileia e Tóquio, dedicada aos
contactos entre a arte do século XX e as criações de artistas
marginais, loucos, ou (em termos politicamente correctos) visionários
compulsivos.
Nenhuma ordem subjacente articulava essas exposições,
que também não definem nenhuma última actualidade. Mas esse acaso das
oportunidades apenas poderá tornar mais notório o facto de, depois de
um tempo em que se sublinharam expressões confessionais exacerbadas, na
vaga da pintura «neo-expressionista», e depois das estratégias cínicas
dos objectos tomados tal e qual ao universo dos consumos tecnológicos e
mediáticos, se torna agora mais visível uma outra linha menos
circunstancial de criação, onde tem lugar a procura do absoluto, a
realidade da poesia, «o desejo de uma espécie de transcendência (que) permanece como questão em aberto», segundo Brice Marden, ou a presença de «alguma coisa que se não conhece e a que chamamos arte», como diz Susana Solano.
Comments
You can follow this conversation by subscribing to the comment feed for this post.