Expresso Revista de 21-2-97
1 "A feira das vaidades"
A Arco é uma gigantesca operação que pretende conciliar as duras realidades do mercado de arte, marcadas pela crise, com as actuais incertezas estratégicas das instituições artísticas e, acima de tudo, com a grandiloquência dos propósitos políticos e promocionais madrilenos. Ao contrário do que se poderia supor, a mudança de governo em Espanha não se traduziu em qualquer opção liberalizante que deixasse o mercado à sua sorte, e foi um intervencionismo estatal acrescido que voltou a suportar a ficção de uma feira de ambição internacional e vocacionada para a chamada «arte jovem».
A oferta, entretanto, tende a adequar-se à conjuntura recessiva, com a deserção de quase todas a galerias de nome sonante que vinham do estrangeiro e com predomínio das tácticas defensivas, valores seguros, ou seus imitadores, e muita pintura fácil e decorativa, jovem ou não. Qualquer propósito de avaliar criticamente o panorama exposto, para detectar artistas e tendências que as revistas internacionais apontam como valores em voga ou direcções inovadoras, tornou-se um esforço vão.
Aliás, em tempos de penúria, são antes os discursos anti-artísticos e anti-mercantis que ganham maior visibilidade (visite-se «Life/Live» ou «X-Rated», sem sair de Lisboa), com retoma de contestações pseudo-políticas e processos ditos de desmaterialização das obras, ou de deriva entre a arte e a vida — naturalmente impróprios para uma feira que também se quer comercial. Vai longe o tempo em que se podia pretender que «a vanguarda é o mercado». Como pouco se vende, é o contrário que convém dizer.
Os números oficiais, porém, pretendem que esta foi a mais internacional das feiras de Madrid, com representação de 30 países. Como só da América Latina vieram 34 galerias convidadas, de 14 países, e alguns outros participavam no espaço oferecido à «arte emergente» («Cutting Edge»), a explicação é fácil. Da mesma fachada de aparências protegidas faziam parte o anúncio de projectos de compras institucionais que ultrapassavam os cem milhões de pesetas, inúmeros colóquios que justificavam a comparência de críticos e comissários estrangeiros, e ainda algumas dezenas de grandes coleccionadores, também contratados, com viagens e hotéis pagos, para visitarem a feira por entre recepções e noitadas de flamenco. E vai crescendo no recinto da feira o espaço dedicado às representações dos governos regionais, fundações de empresas, museus e outras instituições nacionais ou dos países convidados. A Arco é uma floresta de enganos.
O que parece estar em causa é a defesa da capitalidade de Madrid perante a dinâmica centrífuga das regiões, de onde aflui, de facto, um público cultural sempre crescente (Portugal incluído, naturalmente), ainda que haja cada vez menos para ver na Arco. E também a presença espanhola nas redes internacionais e, em especial, a sustentação de uma ordem própria do campo das artes plásticas (o «mundo da arte»), feita de intervenções institucionais voluntaristas e o mais possível próximas das conjunturas críticas sucessivas. Trata-se, assim, de proteger um sector em grande parte estatizado e ameaçado pela crise actual, o qual mobiliza desde os anos 80 uma mão de obra muito significativa (artistas, promotores, escolas, serviços públicos, etc), que o mercado privado não poderia por si mesmo alimentar. Veja-se como a própria política de compras dos museus — 22 milhões de pesetas do MEIAC, de Badajoz, 15 milhões do CGAC, de Santiago, 16 milhões do Museu de Alava, etc — é usada como subsidiação directa à feira, forçosamente aplicada na aquisição da «arte jovem», até porque é a única a que tais verbas podem aceder, já que uma só obra de Tàpies ou de Chillida chega facilmente aos 30-40 milhões de pesetas. O que importa, no fundo, é fazer funcionar o sistema burocrático da arte (o mercado institucional), em função dos critérios da política e do turismo culturais que estão para lá das diferentes opções ideológicas.
A Arco vai-se assim mantendo, e até crescendo, quanto a recursos envolvidos e ao público que acolhe, como ilusão de feira internacional e espectáculo de multidões, mesmo que as condições de visibilidade da oferta e a sua qualidade sejam cada vez menos propícias a um olhar que exigiria o entendimento e a «contemplação» das obras. A algumas dessas contradições da mediatização cultural correspondem fenómenos novos como a exposição «Life/Live», no CCB, onde já não há nada que sustente o olhar e a emoção ou o juízo estético, nem isso importa, até porque também não há público. A alternativa com que se debate o voluntarismo institucional, em especial nas zonas económica e culturalmente débeis, é a de sustentar uma aparente convergência entre mercado privado e massificação cultural (a Arco) ou, numa nova fuga para a frente, autonomizar a intervenção institucional, distanciando-a mais ainda do mercado privado e investindo no apoio directo à «jovem criação», justificada como novo espaço social, alternativo a destinos de desemprego e exclusão. Por esta oposição estratégica passa grande parte da querela entre «anos 80» e «anos 90», na ilusão do retorno à abundância ou sem expectativa de futuro.
ITINERÁRIOS DE FEIRA
Claro que é possível, ainda, percorrer a feira e, ao sabor de informações e gostos pessoais, anotar a presença de algumas obras significativas — mas esses percursos serão agora fatalmente aleatórios, dispersos e não representativos, nem consensuais. E também é possível observar, já sem surpresa, em muitos relatos jornalísticos, a indicação crescente de nomes totalmente irrelevantes, mas retirados das informações promocionais, e até elogios a galerias ausentes, num mesmo processo de desqualificação acelerada da oferta e da informação.
De Colónia, a galeria Karsten Greve trouxe duas naturezas-mortas de Morandi e caixas-relicários surrealistas de Cornell, pinturas perfuradas de Fontana, as escritas desaprendidas de Cy Twombly e os emblemas expressivos de Louise Bourgeois — curiosas coexistências. Na sua derradeira vinda a Madrid, a Pace Wildenstein, de Nova Iorque e Los Angeles, apresentou Rothko e Agnes Martin, Oldenburg e Chamberlain, Judd, Flavin, Shapiro e Mangold, mais Picasso, Miró e Tàpies. Eram espaços para-museológicos perdidos na feira. Reconhecendo diversas notoriedades, outras opções poderiam assinalar, ao acaso, os objectos e fotografias de Anette Messager, os exercícios mecânico-picturais de Polke, os desenhos regressivos de Mike Kelley, as máquinas elegantes de Rebecca Horn, ou Mona Hatoum, Robert Longo, Rob Scholte, etc. Mas a enumeração deixa de fazer sentido, até porque, em inúmeros casos, as peças em circulação são miniaturais, incaracterísticas ou decadentes.
A feira é, de facto, esmagadoramente espanhola, enquadrada pelos seus modernos clássicos e prolongada por herdeiros ou descendentes, que serão certamente muito poucos depois de Tàpies e Chillida, Saura e Palazuelo, ou Susana Solano, talvez porque 16 anos de investimentos na «arte jovem», por definição de breve prazo de validade, tenham tido, afinal, mau resultado.
A mais surpreendente das presenças na feira era a do Governo das Canárias, onde se apresentou o projecto monumental de Chillida para escavar uma escultura (um espaço de ar e de luz) no interior da montanha de Tindaya, na ilha de Fuerteventura. Uma obra que ilumina e amplia a investigação de toda uma carreira, que protege magicamente uma paisagem desertificada e danificada pela exploração de pedreiras, mas que também não poderá resistir, com um mínimo de coerência, à sua exploração turística...
A alargar a oferta desta edição surgiu a América Latina, na sequência de convites que já tinham patrocinado a presença da Bélgica (totalmente ausente em 97) ou dos Estados Unidos, e que no próximo ano premiará a fidelidade portuguesa. A selecção latino-americana, porém, não poderia escapar a ambições contraditórias. Sujeita à escolha de um comissário, o crítico Octavio Zaya, residente em Nova Iorque, a orientação oficial quis privilegiar uma oferta de instalações, fotografia e vídeo que se identificasse com a arte contemporânea mais cosmopolita, à distância das diversas tradições modernas regionais e também com a explícita rejeição do que há poucos anos se promovia sob o nome de multiculturalismo. O movimento pendular que rege a sucessão das modas críticas condena agora como vestígio neo-colonialista a suspeita de folclorismo ou a marca de identidades e tradições regionais, que antes garantiram a circulação de certos artistas latino-americanos, quando o pós-modernismo equivalia à crítica do internacionalismo modernista. Segundo o discurso politicamente correcto do actual comissário, «as questões da 'identidade' e 'autenticidade' com que o Ocidente identifica sempre a arte latino-americana não são mais do que cortinas de fumo para perpetuar o paternalismo...».
A regra, afinal, não foi cumprida e o panorama resultou suficientemente heteróclito para permitir leituras variadas. Um itinerário possível encontraria um isolado Sergio Camargo (com uma admirável escultura negra) e logo a seguir algumas esparsas pesquisas vanguardistas já históricas como Mira Schendel, Iole de Freitas ou José Resende e Tunga, a par de uma produção mexicana marcada por indigenismos e tradições iconográficas locais, com Nahum B. Zenil, Ocampo (vindo das Filipinas), Elizondo e Galán, prolongada na pintura do cubano José Bedia ou do xicano Ray Smith. Todos estes já com passagem das exposições institucionais ao mercado dos exotismos e fazendo notar, tal como Kuitka e Daniel Senise, a fixação dos formulários. Entretanto outras galerias, como a Camargo Vilaça, de São Paulo, valorizavam as práticas objectuais em torno do corpo, do sexo e do que se diz ser a deliberada desnacionalização das referências identitárias.
Torres Garcia, uruguaio de longa carreira europeia, era, como em anos anteriores, uma presença insistente e sempre afirmativa, agora acompanhado pelos discípulos que deixou em Montevideu. Com Tamayo, Lam e Matta, muito raros, assegurava filiações históricas, mas era no exterior da feira, na Fundação «La Caixa», que o panorama latino-americano mais amplamente se sustentava com uma magnífica exposição dedicada a Tarsila do Amaral, Frida Khalo e Amelia Peláez, três pintoras do Brasil, México e Cuba que dão testemunho diverso de situações de confluência entre informações europeias e tradições locais.
SAIR DA ARCO
Tinha de se sair dos pavilhões da Arco e circular pelas galerias e instituições de Madrid para entender o que acontece no interior da feira, na confusão entre mercado, divulgação e espectáculo de massas, no desvío em direcção ao «grande público» de uma iniciativa logicamente voltada para os coleccionadores e os profissionais, e também na equívoca concorrência entre o mercado privado e a procura institucional que a ele se substitui, a pretexto de lhe servir de estímulo. E é fora da feira que melhor se nota a necessidade de repensar quer a necessária circulação mercantil das obras quer a relação do espectador ou coleccionador com a arte, frente a uma evolução que demoliu anteriores condições de invenção formal, recorrências de expressão e, por fim, critérios de validação.
Elvira González (ex-Teo), uma galeria há cinco anos ausente da Arco, expõe «Sete mil anos de escultura moderna — Uma estética permanente»», apoiada por um ensaio de Kosme de Barañano. Dos «ídolos» pré-históricos, egípcios ou aztecas, ou africanos, às estatuetas de Picasso e Moore ou a peças absolutamente contemporâneas (o londrino Roger Ackling, perdido no CAM), a oferta é comercial, certamente — até porque todas as peças estão à venda —, mas a sua sucessão dialogante é uma óbvia tomada de posição, num contexto em que a revalorização dos estudos de estética face ao deserto de ideias da crítica é uma marca do presente. Outro exemplo, também comercial e provocador, podia encontrar-se na exposição «Raízes da escultura espanhola contemporânea», na Marlborough, apresentada por Juan Manuel Bonet, desde o «noucentista» Manolo Hugué ou González até Chillida e aos realistas madrilenos, com curiosíssimas passagens por Ángel Ferrant ou Leandre Cristòfel.
O futuro da feira de Madrid será ibérico ou ibero-americano? Essa parece ser a última alternativa que resta sob a fachada internacional da Arco, e Portugal, no próximo ano, estará no centro das atenções, talvez acompanhado por um novo convite ao Brasil, para alimentar a vertente latino-americana. Essa presença constituirá um complexo desafio que, para além da resposta das galerias interessadas, estará certamente a ser calculado pelos actuais responsáveis institucionais pelo sector. Se a participação portuguesa (sempre numericamente significativa mas não reconhecida no seu dinamismo próprio) acontece no momento mais baixo da curva do Arco, com a sua nula projecção extra-peninsular, não será menos verdade que essa integração no circuito ibérico parece ter sido até agora, em termos colectivos, o único destino de internacionalização comprovado, a partir de Lisboa, e poderá constituir um movimento favorável ao equilíbrio das trocas, numa situação em que o mercado português se tornou muitíssimo permeável às exportações espanholas.
Restará saber, para além das 15 galerias que João Pinharanda terá de convidar, e do programa de colóquios que Alexandre Melo vai dirigir, que mais se irá apresentar em Madrid, como rectaguarda e extensão da oferta galerística? Alguma originalidade será possível no modo de equacionar a relação entre os interesses de mercado e as responsabilidades das instituições culturais, deixando de sacrificar ambas as vertentes, ou seguir-se-ão, com o atraso habitual, as mesmas receitas que já provaram ter falhado definitivamente noutros sítios? A oportunidade, até por chegar tarde, justificaria respostas inventivas.
Revista de 21-2-97
2 "Ensaio geral"
Com 13 galerias presentes, Portugal está na primeira linha internacional em Madrid — a par da Alemanha, mas à frente da Grã Bretanha (uma só galeria) ou das ausentes Suiça e Bélgica. É sempre, para a Arco, uma participação essencial para elevar a contagem dos estrangeiras, ainda que a repercussão mais notória das presenças na feira, calorosamente acompanhadas por muito público nacional, se dirija para o interior do país. Não se esqueça, porém, que essa presença alargada resulta do suporte institucional que é mantido por um acordo entre o Ministério da Cultura e as Fundações Gulbenkian e Luso-Americana, temendo-se que o termo de tal patrocínio venha em breve a mudar o panorama — mas só depois de 98, ano em que Portugal é o país convidado. Mas não se julgue que esse tipo de subsidiação é exclusivo nacional: as regiões espanholas têm idênticos apoios e outros países também, como o Canadá, graças a um curioso Ministério da Cidadania, Cultura e Lazer.
Entretanto, à selecção portuguesa deve reconhecer-se o carácter diversificado e também genericamente qualificado, sem de modo algum esgotar a produção nacional. Para além da ausência da Módulo, que há muito rumou a Basileia e Bruxelas, a 111 mantem-se afastada destas circulações e, pela primeira vez, a galeria Luís Serpa não compareceu — uma mudança que talvez se deva considerar emblemática de uma nova configuração do mercado nacional.
Particularmente significativa é sempre a presença de artistas portugueses através de galerias não nacionais: é o caso de José de Guimarães, sobre-exposto numa quase individual na Maeght, de Barcelona (e ainda na gal. Michael Schultz, de Berlim), e de Paula Rego, com um trabalho muito recente (um modelo masculino, a pastel sobre grande formato), na multinacional Marborough. No mercado espanhol voltaram a circular Leonel Moura (Oliva Aruna, além de exposto na Quadrado Azul), Cabrita Reis (Juana de Aizpuru e Línea), José Pedro Croft (Luis Adelantado) e Rui Chafes (Fúcares), os dois últimos também visíveis na gal. Alda Cortez.
Quanto aos espaços portugueses, pode destacar-se a aposta da Gal. Hugo Lapa em Helena Almeida, com uma das raras individuais da feira e óbvia ambição institucional, na actualização de experiências dos anos 60-70 que recuperam alguma visibilidade enquanto história ou sintonia com interrogações recuparadas: um trabalho em suporte fotográfico, concebido como série de sete peças idênticas, como registo de uma acção onde o corpo próprio se prolonga em rasto ou sombra, traçado por uma mancha de pigmento.
João Motta, apresentado pela Gilde, de Guimarães, fez-se notar com uma nova série de «Jardins Mágicos» que teve prolongamento em intervenções-«performances», realizadas a partir de uma das peças expostas (Da vaca sagrada às vacas loucas). Aí expuseram também Rocha da Silva, Casimiro, João Cruz, Skapinakis e o espanhol Manolo Montero.
A Pedro Oliveira e Fernando Santos, ambos do Porto, couberam as mais extensas ofertas, o primeiro juntando Penalva, Molder, Sarmento, Burmester, Proença, Júlia Ventura, Carneiro e também Baldessari e Rita McBride; o segundo com Jorge Martins, Calapez, Pedro Portugal, Guimarães, Skapinakis e Rita Carreiro, mais os alemães Bazelitz, Lupertz e Penk, o argentino Seguí e o holandês-parisiense Pat Andrea. A Quadrado Azul, mostrou Ângelo de Sousa, Lapa, mais Guimarães e os espanhois Carlos Velilla e Susana Solano; por último e em estreia, a Por Amor à Arte, com Augusto Canedo (também o animador da galeria), Isabel e Rodrigo Cabral, Sobral Centeno, Sílvia Carreira e alguma oferta espanhola.
Com sete galerias, Lisboa manteve uma já frágil maioria numérica: Alda Cortez, igualmente com Rosa Carvalho e Paulo Quintas; Graça Fonseca, com Graça Pereira Coutinho e Cristina Ataíde, mais Paulo Mendes, João Louro e João Tabarra; e Palmira Suzo, com Fátima Pinto, Paula Ruela e Susana Campos. E ainda a Monumental, com Marília Maria Mira, M. San Payo, Paulo Óscar, Álvaro Rosendo, Miguel Soares e Severin Muller; a Novo Século, com Jorge Camões, Carlos Barroco, Rogério Silva e Márcia Luças.
Por fim, a Arte Periférica, com Fátima Mendonça e Rui Serra em destaque, a estreia de Alice Geirinhas com ilustrações, os espanhois Eva Armizén e Carlos Sancho (fotografias) e também Catarina Leitão e Andy Newman, fez-se notar por uma bem sucedida produção de «marchandizing» («t-shirts» e cuecas). A ZBD, convidada a integrar o sector «emergente», teve o exclusivo da informática na feira, com um colectivo ibérico de nome Trauma Cultural Society.
3 "Portugal e Caraíbas no Arco98"
1-3-97
Para além de Portugal, que será o país convidado em 1998, a feira de Madrid voltará a contar com a presença da América Latina, através de convites a uma dezena de galerias de países do Caribe (Haiti, Jamaica, Cuba, etc). A direcção da feira resolveu tornar permanente a participação latino-americana e passará a promover, assim, três espaços «oficiosos», contando com o sector «emergente» ou «Cutting Edge».
João Pinharanda será o responsável pela selecção das galerias nacionais, mas, ao contrário do que se referiu na edição anterior da «Revista», Alexandre Melo não foi indigitado para dirigir o programa de conferências, ignorando-se ainda se haverá uma abordagem específica da situação portuguesa ou se os debates incidirão sobre temas genéricos de arte contemporânea. Entretanto, será dedicada à arte portuguesa uma publicação promocional da feira, «Arco Lusitano», sob a orientação de Delfim Sardo, com três ou quatro edições ao longo do ano, sucedendo a uma idêntica iniciativa sobre a América Latina.
Segundo o diário «El Mundo», espera-se em Madrid que João Pinharanda apresente um panorama galerístico que se afaste de uma imagem nacional considerada «um pouco pessimista». O mesmo crítico será o comissário de uma mostra de trabalhos sobre suporte fotográfico, intitulada «Observatório», a apresentar na Sala Canal de Isabel II, pertencente à Comunidade de Madrid.
Um projecto de programação paralela à feira está a ser coordenado pelo Instituto de Arte Contemporânea, envolvendo instituições artísticas dos dois países. Já assegurada parece estar uma antologia da obra de Amadeu de Souza Cardoso na Fundação Juan March, em colaboração com a Gulbenkian, que já aí apresentara Almada Negreiros, em 1983, e Vieira da Silva, em 1991. Outras hipóteses de exposições institucionais terão deparado com dificuldades, justificadas por se encontrarem preenchidas as programações madrilenas. Admite-se, no entanto, que a zona das representações institucionais na própria feira poderá vir a contar com espaços dedicados ao CCB, Serralves e o Sintra Museu-Colecção Berardo.
O Círculo de Belas Artes de Madrid deverá, por outro lado, acolher uma exposição dedicada aos pintores do tempo de Fernando Pessoa, que será antes apresentada em Frankfurt, por ocasião da próxima feira do livro, e eventualmente, em colaboração com Serralves, uma antologia da obra de Helena Almeida. No mesmo local decorreu em 1992 o projecto «Lusitânia», organizado pela SEC e dirigido por Fernando Calhau, Margarida Veiga e Delfim Sardo, envolvendo as áreas das artes plásticas, design, fotografia (a cargo de Tereza Siza) e arquitectura (José Manuel Fernandes). Outros projectos de divulgação da arte portuguesa em Madrid tiveram lugar em 1989, com «Portugal Hoy», uma colectiva comissariada por Manuel Brito, e, em 1995, João Fernandes coordenou um projecto de intercâmbio galerístico intitulado «Peninsulares».
Estão, entretanto, previstas para Madrid outras exposições não associadas à Arco. É o caso, a partir de 14 de Maio, de uma exposição de 12 artistas dos dois países, organizada pela crítica espanhola Aurora Garcia e a apresentar no Palácio Velazquez. Participam Julião Sarmento, Jorge Molder, Júlia Ventura, Cabrita Reis, Rui Chafes e Daniel Blaufuks e também Susana Solano, Juan Muñoz, Cristina Iglesias, Juan Uslé, Daniel Canogar e Curro Gonzalez. Já em 98, o Museu Rainha Sofia acolherá uma antologia das pinturas brancas de Julião Sarmento, que será inaugurada no Stedelijk Museum de Amsterdão em Janeiro 98, comissariada por Rudi Fuchs.
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