Em 2004, um ano preenchido, tratou-se do Arco numa agenda, mas as agências e os diários cairam lá todos. A rotina era para manter.
2003 foi o ano da Suíça, e aqui está Hodler:
22ª edição, Ano da Suíça. Portugal com 14 galerias
Expresso Revista de 22-02-2003
2 "Relojoaria suíça"
Em teoria, a arte actual está globalizada e os artistas têm a obrigação de ser internacionais para se reconhecerem como importantes, mas foi a arte suíça, por mais questionável que seja a expressão, que assegurou o êxito da Arco. Não se aceita a ideia de identidade nacional aplicada às linguagens da arte contemporânea e a Suíça não preenche todas as condições associadas à noção de país (pela complexa constituição confederal, a função de espaço de trânsito, a neutralidade, etc.) Há, porém, estados mais internacionais que outros, pela força do seu mercado de arte e poderio económico.
O prestígio da feira de Basileia, que é a melhor do Mundo e já abriu sucursal em Miami para controlar a América Latina, as poderosas galerias da Suíça, os inúmeros museus e colecções privadas, os cofres secretos dos seus bancos, asseguravam à partida o optimismo necessário para que a 22ª edição contrariasse a conjuntura económica depressiva e as ameaças de guerra. Depois, uma operação diplomática conduzida pela poderosa Fundação Pro Helvetia, ocupou todas as grandes instituições de Madrid, do Museu Rainha Sofia às Fundações Juan March e La Caixa, continuando pelos espaços municipais. A estratégia da Suíça para a Arco foi, aliás, apenas o início de um programa de intercâmbio a todos os níveis que decorrerá por três anos sob o título «Mira Suiza». (Se lembrarmos que no ano português, em 98, nenhuma das grandes instituições nos abriu as portas, há lições a tirar.)
O voluntarismo político espanhol, que considera a Arco muito mais do
que uma feira, tomando-o como bandeira da internacionalização da
cultura nacional e maior acontecimento artístico do ano, fizeram o
resto. Com um orçamento de 5,5 milhões de euros sustentado por
entidades públicas, há meios para convidar duas centenas de
coleccionadores e duas ou três mais de comissários e críticos de todo o
Mundo, que circulam por exposições e festas. Há meios para encenar a
feira como um espectáculo visual luxuoso e arejado, este ano marcado
por grandes espaços de descanso e diversão com «instalações» de
notáveis ideias de design (camas imensas, casulos suspensos, cadeiras
elevadas por balões, etc.), a que os galeristas reagiram mal, por
concorrerem com os seus «produtos». Há meios para conceder especiais
condições a galerias convidadas por comissários, que doutro modo não
viriam: assim viajaram de Nova Iorque uma pintura intragável de Jeff
Koons e os magníficos vídeos de alta definição em ecrãs verticais de
plasma de Bill Viola, como quadros antigos em movimento, além de
dezenas de galerias que preenchem as cotas internacionais e mais
«emergentes» («Art Unknown», «Futuribles», etc.).
Tudo isto, que
parece servir a promoção turística da Espanha, não basta para concorrer
com a Art Basel, com Berlim, Nova Iorque e outras feiras de que pouco
se fala nos jornais mas onde muito se vende. A Arco é apenas a feira
com mais visitantes em todo o Mundo (cerca de 190 mil, com bilhetes a
23 euros para restringir a afluência), o que também não é, aliás, muito
apreciado pelos galeristas. As reputações internacionais fazem-se
noutros mercados e não é em Madrid, onde os coleccionadores preferem
valores nacionais, que se lançam as novas estrelas e se sustentam os
nomes consagrados. A Arco é uma feira espanhola, e ibérica pela
importância que tem, como primeira estação estrangeira, para os
portugueses, com alguma relevância latino-americana também (ameaçada
pela Art Basel-Miami) e só perifericamente internacional, graças à
rotação de pequenas galerias vindas da Austrália, Japão ou Rússia.
Entretanto, as compras institucionais, que terão ultrapassado o milhão
de euros, cumprem a obrigação de animar a feira e de ir ampliando
colecções locais.
Se as galerias que mais movimentam as
vanguardas internacionais, no sentido actual que envolve mais as
linguagens individuais emergentes do que sensibilidades ou estilos
colectivos, não têm fortes razões para investir na Arco, o sector menos
«dinâmico» que negoceia em valores históricos marcou uma presença
reforçada em Madrid, ocupando parte substancial do pavilhão 7,
entretanto ampliado, com uma oferta muitas vezes museológica.
Duas
presenças suíças (exteriores à área das galerias convidadas para
representarem a «Young Swiss Art», em adaptação da fórmula britânica)
eram o centro das atenções: a Galeria e Fundação Beyeler e Jan Krugier,
Ditesheim & Cie, ambas com os seus Picassos, Mirós e Chillidas de
excepção, acompanhados por Bacon (também na Marlborough, com um «papa»
por oito milhões) e, na segunda, Bonnard, Morandi, Klee e Balthus, mas
também os menos conhecidos Zoran Music, Lellouche, Rouan e Verlin, além
do americano Basquiat. Da esmagadora oferta desta área, destaquem-se
ainda os desenhos de Matta, de 1937-46, na Galerie de France, enquanto
a muito clássica Gmurzynska de Colónia perdia a compostura habitual com
enormes retratos de vedetas «kitsch» por Karl Lagerfeld. Outro gigante
suíço, Bruno Bischofberger, voltou com um pavilhão para ??? às últimas
pinturas (e cerâmicas e bronzes) de Barceló, imensas marinhas muito
texturadas que fazem ter saudades das visões de Maiorca do Joaquim Mir
de há um século.
Disse-se este ano que a Arco foi a melhor de
sempre (também em vendas e contactos), que a feira dos clássicos
suplantou pela primeira vez a importância da área da arte emergente e
que a oferta em geral foi marcada pelo predomínio de obras mais
apaziguadas e serenas, menos críticas ou cruéis. Falou-se, e pôs-se em
título de jornal, exageradamente, de um regresso à pintura, de uma
menor presença da fotografia e do vídeo, e até de um «retorno à ordem».
Parece certo que aumentaram a elegância intimista e a busca da beleza
das formas, depois da voga das intenções políticas e transgressoras,
mas esse não é o tom de um dos suíços mais mostrados, o neo-punk
Olaf Breuning, do suiço-francês Thomas Hirschhorn, só presente com
trabalhos menores, ou do espanhol Santiago Sierra, que contrata
imigrantes ou prostitutas para moverem blocos de pedra, masturbarem-se
ou permanecerem fechados em caixas, causando escândalo por ter
feito pagamentos em heroína - em questão estaria a denúncia da
exploração do ser humano como mercadoria. Será o representante da
Espanha conservadora em Veneza.
Dizer que «a pintura recupera o
protagonismo perdido» não é mais que jogar na alternância das modas,
até porque a crescente sofisticação das técnicas de edição fotográfica
e a mediatização processual da pintura (impressa, digital,
plastificada) vai tornando indistrinçável e indiferente o modo de fazer
de objectos que mimam a aparência uns dos outros. Mas a fotografia
esteve muito presente, com o ucraniano Sergey Bratkov a acompanhar
reencontros anuais de ex-paraquedistas, as paisagens rochosas de Taiji
Matsue (também de Portugal), Inta Ruka, da Letónia, com retratos do seu
país, a chilena Magdalena Correa, a mexicana Tatiana Parcero, Frank
Thiel, Fontcuberta e novas paisagens informáticas, etc, etc.
Significativa
era a forte presença do Brasil, com destaque, entre nove, para a
estreia da Dan Galeria, de São Paulo, com Tarsila do Amaral e Cícero
Dias (ambos adquiridos para o Rainha Sofia; do segundo podia
perceber-se a influência que exerceu em Dacosta nos anos 40), com Volpi
e também Frans Krajcberg, grande escultor de origem polaca (n. 1921)
que foi um precursor original da arte ecológica, de quem se mostraram
duas esculturas feitas com árvores amazónicas. Mais o português Ascânio
MMM e o uruguaio Marco Maggi, autor de subtis desenhos sobre cerâmica
ou alumínio de cozinha.
O melhor Brasil estava também na Raquel
Arnaud (S. Paulo), com Sérgio Camargo, Mira Schendel e o parisiense
Piza, enquanto o igualmente veterano Nelson Leirner (n. 1932) surgia no
sector «Art Unknown», com a instalação O Armazém e acumulações de
objectos e imagens populares ou «kitsch». Para além dos valores seguros
da Fortes Vilaça, Brígida Baltar mostrava fotografias de uma acção
contemplativa (A Coleta da Neblina), mais sedutora que os desenhos de
parede de Sandra Cinto - ambas incluídas numa selecção de Miguel von
Haffe. Luís Serpa, entretanto, comissariou artistas indianos.
Portugal
contou com 14 galerias, prolongando-se em espaços estrangeiros - entre
outros, Paula Rego, indispensável na Marlborough, entre Auerbach,
Lucian Freud e Kitaj; Sara Maia ao lado de Júlio Pomar na Patrice
Trigano; Julião Sarmento na Lisson, Fortes Vilaça, etc; Leonel Moura na
Trayecto; Rui Chafes na Juana de Aizpuru; Daniel Blaufuks na María
Martin; Nuno Cera, com o filme em Super8 Berlim na I-20 (NY), que
também expõe João Onofre; João Luís Bento e José Paulo Ferro no espaço
do museu da Unión Fenosa (MACUF, Corunha). A circulação é crescente, em
muitos casos rotativa e efémera, experimentando nomes emergentes «para
quem quiser arriscar num artista em início de carreira», como se dizia
em linguagem de casino nas páginas culturais de um diário lisboeta.
Para
além da presença certa de Pedro Calapez, José Pedro Croft, Rui Sanches,
Júlia Ventura, etc., outras participações tiveram larga visibilidade,
beneficiando de estratégias de rotação geracional ou de efeitos com
impacto sobre a atenção dispersa que caracteriza a visita de uma feira.
Foi muito fotografado nos jornais um «homeless» de Noé Sendas mais
insólito por se encostar à parede com um balde enfiado na cabeça
(Cristina Guerra e Pedro Oliveira), e tiveram êxito as maquetas de
intenção ecologista de Baltazar Torres (Filomena Soares, Mário Sequeira
e Bores & Mallo), adquiridas pela Coca Cola e o CGAC de Santiago de
Compostela, que também comprou um vídeo de Francisco Queiroz. Miguel
Palma esteve muito presente (Mário Sequeira e João Graça, que também o
levou ao programa «Futuríveis»), João Galrão teve uma estreia notada na
Gal. João Graça, e Vasco Araújo, na Gal. Filomena Soares, voltou a
atrair atenções e vendas (Fundação Arco) com o vídeo Hipólito, onde a
leitura em grego da tragédia de Eurípedes acompanha duas crianças com a
farda da Mocidade Portuguesa.
Outros vídeos de João Louro,
Filipa César, Rui Toscano e João Onofre (todos na Cristina Guerra, o
último também na Toni Tàpies), e ainda de Cristina Mateus, eram menos
afirmativos, enquanto a mais recente produção de Francisco Queiroz
(Marta Vidal) prolongava numa artesanal efabulação informática uma
relação perversamente lírica com o imaginário maravilhoso e infantil.
Entretanto, a descoberta de novos artistas continuou na Gal. Pedro
Oliveira com as fotografias de Joana Pimentel (também na Miguel
Marcos), Rita Magalhães e Maria Pia de Oliveira, para além da presença
de Augusto Alves da Silva, de quem acaba de sair o livro La Gomera,
incluído num projecto das Canárias que envolveu sete nomes de primeiro
plano internacional.
Discretamente, uma exposição dos desenhos de Mário Botas abriu no Círculo de Belas Artes.
Expresso Actual de 25-01-2003
1 "Arco com a Suíça"
A feira de arte de Madrid abre as portas a 13 de Fevereiro
A Suíça é o país convidado da próxima edição da feira de arte de Madrid, que decorrerá de 13 a 18 de Fevereiro, com um total de 275 galerias, entre as quais estarão 14 portuguesas. A Suíça, que detém uma posição importante no comércio internacional e conta com uma agressiva política de representação cultural no estrangeiro através da Fundação Pro Helvetia, estará representada por 18 galerias na Arco, ao mesmo tempo que os principais museus e centros culturais da cidade acolherão as numerosas manifestações do programa «Madrid Mira a Suiza».
O Rainha Sofia expõe o panorama histórico «Suiça Construtiva», a Fundação Juan March exibe «Espírito de Modernidade», sobre a tradição coleccionista suíça (com Goya, Degas, Schiele, Picasso, etc.), a par de exposições dedicadas à arquitectura, à fotografia, a 15 jovens artistas e várias mostras individuais.
Portugal comparece com as galerias Ara, Arte Periférica, 111, Cristina Guerra, Filomena Soares, Luís Serpa, Monumental, de Lisboa, Fernando Santos, Marta Vidal (em estreia), Pedro Oliveira e Quadrado Azul, do Porto, Mário Sequeira, de Braga, e ainda Canvas e João Graça (Porto e Lisboa), entretanto fundidas sob o nome Graça Brandão.
Entretanto, a feira modificou as suas áreas comissariadas, substituindo pelo programa «Art Unknown» (arte desconhecida) o que antes se designava como «Project Rooms». Secção «reservada à investigação da nova criação», através de 15 espaços dedicados a projectos de um só artista, é dirigida por Bart de Baere (Museu de Antuérpia, MuHKA), Charles Esche (Centro Rooseum de Mälmo, Suécia) e Barbara Steiner (Leipzig), que seleccionaram os espanhóis Joan Moray, Jorge Rivera e Jordi Colomer, ao lado de artistas apresentados por galerias de outros países: Yael Bartana (Amesterdão), Nelson Leirner e Brígida Baltar (São Paulo), Mark Lewis (Paris), Honoré d'O (Bruxelas), Jeppe Hein (Frankfurt), Muntean/Rosenblum (Viena), Kyungwoo Chun e Andrea Crociani (Berlim), Sergei Bratkov (Moscovo), Franz John (Colónia) e Vargas-Suárez Universal (Nova Iorque).
A área «Cutting Edge» de «arte emergente» deu lugar ao programa «Futuríveis», que alberga artistas de 55 galerias e «a visão mais experimental da produção artística internacional», ou «a visão rupturista da estética e do conceito artístico actual», segundo as frases feitas da promoção.
A escolha esteve a cargo de comissários internacionais (directores de museus, galeristas e comissários independentes), que apresentam os seus próprios projectos de mostras colectivas, escolhendo as galerias representadas: Victor Zamudio-Taylor («Tracker»), Myriam Solar («Complex Projects»), Rosa Martinez («Movendo Posições»), Magda González-Mora («Scanning»), Antonio Zaya («Meta-arquipélago: Tempos Latinos»), Hou Hanru («Festa Asiática, Jogo Global»), Eva González-Sancho («Emergências/Urgências: 324») e, entre outros mais, Luís Serpa e Miguel von Haffe Perez. O primeiro apresenta artistas indianos através de galerias de Nova Iorque e Londres, sob o título «Fragmentos Locais/Tendências Locais», e o segundo escolhe «Fragmentos de Portugal e Brasil», com Miguel Palma e Fernando José Pereira (Gal. João Graça), Filipa César e Rui Toscano (Gal. Cristina Guerra) e Francisco Queiroz e Cristina Mateus (Gal. Marta Vidal), ao lado de Tatiana Grinberg, Brígida Baltar, Sandra Cinto e Lucia Koch.
Um outro sector de convidados, intitulado «Pièce Unique», acolhe as galerias nova-iorquinas James Cohan e Sonnabend, que trazem, respectivamente, duas obras em vídeo de Bill Viola e pintura de Jeff Koons. Em paralelo decorrerá o «Forum Internacional de Especialistas em Arte Contemporânea», com mais de 200 profissionais de todo o mundo e 28 ciclos de debates com 55 painéis (mais 20 que no ano anterior) - entre outros, «Arte, empresa sociedade», «A arte de coleccionar arte», «Posições reflexivas sobre a arte da fotografia», «Arte e feminismo», etc.
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Expressop Revista de 22-02-2003
3 "Madrid além-Arco"
As exposições fora da feira continuam, e chegou Vermeer
Louis Soutter, c. 1937-42
Agora que o Museu do Prado conseguiu reunir nove quadros de Vermeer e mais algumas cenas de interiores de outros holandeses com quem foi por muito tempo confundido, há ainda mais razões para ir a Madrid (até 18 de Maio; de terça a domingo, 9h-19h, €3, e à segunda só por marcação prévia, 12h-19h, €6 - http://museoprado.mcu.es). Acabou-se a corrida à Arco, que é sempre um bom pretexto de peregrinação, mas as exposições continuam. A distância geográfica é curta, e o abismo que separa o terreiro da ignorância local da riqueza da proposta cultural madrilena é incomensurável.
A mais surpreendente é «Analogias Musicais - Kandinsky e os seus Contemporâneos», longo percurso em duas partes (Caja Madrid e Museu Thyssen, até 25 de Maio) que vai do simbolismo e dos Ballets de Diaghilev até às polifonias abstractas de Klee e Kandinsky e às «variações» de Javlensky. Entre 1910 e 1928, perseguem-se afinidades inesperadas e algumas linhas de continuidade essencial da modernidade, com um didactismo que nunca se reduz a fórmulas simplistas. Projecto inédito e o mais ambicioso de sempre na programação dirigida por Tomàs Llorens, é já acompanhado por uma pequena mostra dedicada a Ribera, em pintura e desenho.
«Polónia Fim de Século» (Fundação Mapfre, até 23 de Março) reúne notáveis pintores desconhecidos e impronunciáveis, com obras de 1890 a 1914, num percurso original por naturalismos e simbolismos nacionais (e então nacionalistas), dinamizados pela informação cosmopolita. Outra é a dinâmica gráfica e fotográfica presente em «O Livro Russo de Vanguarda», de 1910-1934, até à imposição do realismo socialista, através de cerca de 350 obras doadas ao MoMA e trazidas ao Rainha Sofia (até 5 de Maio). Nos Palácios Velásquez e de Cristal chega-se até à actualidade, com a sólida retrospectiva do argentino Guillermo Kuitka (n. 1961), pintor de mapas e arquitecturas, e as instalações do multimediático Olafur Eliasson (Copenhaga, 1967) - até 28 de Abril e 19 de Maio.
Entretanto, o programa suíço prologa-se também além-Arco. País de muitos trânsitos, onde é às vezes problemático identificar os artistas nacionais, propõe um panorama do século XX local através da colecção do Museu de Aarau (Conde Duque, até 23 de Março). Ferdinand Hodler e o seu simbolismo modernista é um magnífico começo, a que se seguem, em especial, as derivas marginais de Louis Soutter e Otto Meyer-Amden, pelos caminhos da loucura ou da emigração interior, simetricamente opostos à lógica da abstracção geométrica investigada por Sophie Taeuber-Arp, Max Bill e Camille Graeser, enquanto Klee e Arp têm carreiras internacionais de primeiro plano, como Jean Tinguely. A figura inclassificável de Dieter Roth (1930-98) dá passagem às questões dos anos 60-70, a partir dos quais se destacam Markus Raetz, Helmut Federle, Urs Lüthi e Fischli & Weiss, encerrando-se a digressão com uma recente geração de «pintores radicais» que a feira também mostrou, como Pia Fries, Adrian Schiess e Albrecht Schnider. Vinda dos anos 70 com acções de desenho em espaços públicos, passando depois a uma pintura de um feminismo idiossincrático, rudimentar e obsessiva, Miriam Cahn (n. 1949) é objecto de retrospectiva pessoal na Fundação La Caixa, até 20 de Abril.
«Suíça Construtiva» (Rainha Sofia, até 12 de Maio) responde à «Suíça Visionária» que Harald Szeemann apresentou em 1992, na vertente mais sonhadora e psicótica. É uma magnífica e extensa retrospectiva centrada na «Arte Concreta», de 1920 a 1960, onde o abstraccionismo geométrico da pintura se prolonga na visão objectiva da fotografia, na arquitectura racionalista, no design industrial, gráfico e de mobiliário, reconstituindo todo o dinamismo globalmente modernizador da busca sistemática de rigor formal e de modelos racionais e práticos. Conservando heranças da
Camille Graeser, 1945
Bauhaus na Suíça neutral, o movimento teve no pós-guerra importância internacional, nomeadamente no Brasil, graças ao activismo de Max Bill.
Uma notável colecção particular suíça de obras sobre papel de Goya a Giacometti, passando por Degas e Schiele, mostra-se na Juan March («Espírito de Modernidade», até 8 de Junho), e alguns espíritos da actualidade podem conhecer-se noutros espaços em «Diários Urbanos» (com Sylvie Fleury e Ugo Rondinone) e em mostras de fotógrafos e de arquitectos.
Miriam Chan, 2001
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