Uma rede informal de cumplicidades e dependências...
"O circuito internacional da arte contemporânea precisa de galerias que aceitem relações de subordinação face a outras galerias-pivot dos países dominantes e às instituições que fazem as modas, e que assim assegurem a distribuição de excedentes ou mesmo só a sobre-visibilidade de certos artistas que ocupam a frente do palco, em geral medíocres - é o que significa "el posicionamiento de las galerías en el mercado artístico internacional" (apontado como um dos critérios de avaliação das galerias candidatas): uma rede informal de cumplicidades e dependências. Não é difícil perceber como e com que artistas, ou face a que galerias de Londres e Nova Iorque, as que vão ao Arco compram a sua presença."
isto tinha escrito a 2 de Outubro de 2007 em "Menos Arco" (já com novos comentários, entretanto) quando se conheceu a lista das galerias admitidas e excluídas na edição de 2008
Existe uma distribuição de excedentes das galerias centrais para as periféricas, que compram a sua notoriedade com a subordinação às sedes. As feiras de 2ª linha como a Arco são uma instância de distribuição de excedentes e de construção de sobre-visibilidades mercantis: qualquer artista "internacional" (isto é, reconhecido pelos centros) que esteja em fase de "lançamento" ou "promoção" não se vê no Arco - vêem-se as sobras dos mercados centrais e alguns candidatos descentrados.
A 111 fez distribuiu uma "Carta Aberta" sobre a sua exclusão da Arco - que, aliás, ocorre pela 2" vez, e foi antes "resolvida" por ocasião da edição dedicada a Portugal. É um oportuno acto de coragem porque é sempre mais fácil ficar calado e estender a mão para entrar no próximo ano. Mas é difícil (ou impossível) estar dentro e fora do sistema das feiras - e é pouco provável que um propósito de independência, levado a cabo com êxito, seja tolerado. Quem é afastado é sempre quem faz uma carreira de sucesso sem aceitar as regras da dependência. Os medíocres obedientes têm vantagem.
A galerista Cristina Guerra foi cooptada para o comité de selecção do Arco por ser uma boa intérprete das regras de sistema das feiras vivido à pequena escala madrilena, onde há muito se compensa o provincianismo (a distância face aos centros) graças aos grandes investimentos políticos e financeiros que a sustentam - o Arco é uma feira de Estado: um evento do Estado centralista espanhol, um instrumento voluntarista de promoção da arte contemporânea em Espanha, uma imagem de dinamismo cultural projectado para o exterior. Nestas 3 vertentes o Arco é um êxito; o pior é que a arte espanhola não deixou de degradar-se desde os anos 80.
As polémicas sobre feiras são extremamente desinteressantes. As feiras são oportunidades pouco favoráveis ao convívio com a arte, mesmo que se tenham tornado um dos vértices do sistema, com as bienais e os leilões. Mas há que defendê-las quando se ataca o mercado da arte para se preferir a institucionalização formal, estatal ou não, da criação artística. Antes o mercado, mesmo selvagem, do que as fórmulas autoritárias que o condenam. Como o dinamismo do mercado absorve também todos os valores que o contestam ou ignorem, resta às franjas ou margens que lhe são exteriores a condição quase sempre fatal da marginalidade.
Em Espanha, o protesto de algumas galerias, segundo o suplemento El Cultural do El Mundo, "ha subido de tono y las excluidas han elevado sus quejas al Ministerio de Cultura. El director general de Bellas Artes, José Jiménez, fue testigo accidental del descontento del sector y en vista de lo cual anunció que el Ministerio (es decir, el Museo Reina Sofía) no va a comprar en la Feria. Decisión a la que se han unido la Junta de Andalucía y la Comunidad Valenciana, que tampoco van a adquirir obra en ARCO. ¿Consecuencias? Casi cuatro millones de euros menos destinados a compras. Y un boicot encubierto a la Feria."
Mas tudo isso deve ser sujeito a exame: o novo director do Reina Sofia terá aproveitado a deixa para dizer "o mercado sou eu" - mas forçar os museus a fazer compras numa feira de tal modo periférica, para sustentar a sua dinâmica financeira, sempre foi uma das perversões resultantes da respectiva estatização. E a Andaluzia (PSOE) e Valência (PP) poupam uns trocos para as próximas eleições municipais.
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