22 Fev (Lusa) - O ministro da Cultura declarou hoje, em Coimbra, que as questões culturais têm ganho significado no discurso político e estratégico, mas não têm tido igual correspondência no empenhamento público e económico privado. Ao participar no lançamento de um programa de formação avançada em questões culturais para agentes das autarquias, José António Pinto Ribeiro salientou que a cultura é um "instrumento estratégico" do actual governo.
"É preciso colocar a cultura no centro enquanto objectivo estratégico. Tudo terá de ser enquadrado culturalmente para termos uma identidade e um desenvolvimento sustentável", observou, ao presidir à apresentação pública do programa de seminários "O Mais ou O Menos - O Espaço Público de Cultura nas Autarquias Locais".
Na sua intervenção, Pinto Ribeiro exortou à criação de redes, à coordenação estratégica, à cooperação, à economia de meios, ao evitar-se os erros de programação e o desperdício. "Temos de passar de uma cultura de saber para uma cultura de saber fazer, para uma cultura da acção", observou, frisando ser possível também "trabalhar mais com políticas de proximidade".
Mudou o discurso, ou melhor, começou a haver um discurso. Não o discurso do programador cultural - não é isso que se espera - mas o do político que atribui à cultura uma importância estratégica.
As orientações prioritárias só serão conhecidas numa sessão parlamentar a 18 ou 19 de Março, mas nesse mesmo dia, em Serralves, JAPR falou da língua e da digitalização das bibliotecas, da salvaguarda do património em risco e, de novo, da coordenação estratégica.
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Não sei o que pensam os "amigos da cultura" que em Coimbra fazem abaixo-assinados e sessões, mas o nome infeliz que escolheram apresenta-os como espectadores de movimentações alheias. Terá sido pouco empolgante a sessão professoral do dia 20 ("Cidade, arte e política - o valor estratégico da cultura"/ outra vez a estratégia, mas será a mesma coisa?), e o começo intransponível do seu manifesto é um modelo de ineficácia argumentativa:
"Pelo direito à cultura e pelo dever de cultura!
"Em Dezembro de 2005, um conjunto de sessenta cidadãs e cidadãos de Coimbra manifestou publicamente a sua preocupação com a forma como estava a ser conduzida a política cultural da Câmara Municipal. Num documento intitulado “O saneamento básico da cultura”, chamava-se a atenção para dois aspectos fundamentais: o corte de 60% nas verbas destinadas à cultura no orçamento para 2006 e a falta de respeito por alguns dos agentes culturais da cidade, evidenciada nas expressões com que os responsáveis autárquicos a eles se referiam e nas suas atitudes reveladoras de uma visível e ofensiva falta de cultura democrática. Alertava-se para o péssimo prenúncio que tal comportamento configurava para o seu segundo mandato que então se iniciava."
Alguns dos subscritores tiveram responsabilidades nas organizações artísticas de Coimbra e deveriam assumir a responsabilidade de explicar concisamente o que justificou a desaparição ou eclipse de entidades como o TEUC e o CITAC, os Encontros de Fotografia e o CAPC, o Círculo de Artes Plásticas, que por muito tempo justificaram a deslocação a Coimbra ou levaram ao exterior as suas produções. Talvez os seminários de Serralves os estimulem para trocarem a queixa pela acção.
O site dos "Amigos" - amigosdacultura2008.blogspot.com - tem links para muita informação, mas pouca coisa escapa a uma burocrática gestão de culpas. Não há por lá nada de vivo - na Universidade e na cidade? A "capital cultural" secou as energias todas? Carlos Encarnação é ainda mais temível que Rui Rio? O PSD está a começar a ter uma "política cultural" própria? Antes isso do que a indiferenciação que temos conhecido.
Caro Alexandre Pomar,
O seu interessante comentário peca, na parte relativa ao movimento de cidadãos de Coimbra, por fazer uma avaliação a uma distância muito grande da realidade. Tanto por parecer apenas conhecer os focos artísticos da Coimbra de outros tempos como por se basear, nalguns casos, no "ouvi dizer".
Dando as minhas respostas a algumas perguntas que coloca no fim: há muito de vivo em Coimbra e quero crer que este movimento de cidadãos constituirá a charneira a partir do qual a arte produzida nesta cidade passará a merecer (outra) atenção e passar para aquela esfera superior de divulgação que já chega aos ouvidos da capital do país.
Quanto à política cultural do PSD neste município, ela é a dos acontecimentos avulsos com fogo de artifício e da etnografia e folclore. O cosmopolitismo, aqui, não constitui o grosso dos votos eleitorais.
Cumprimentos,
Mário
Posted by: Mário | 02/27/2008 at 11:06
Pois, o Citac do Victor Garcia foi em meados dos anos 60. Os tempos mudaram, a Universidade os universitários (os estudantes) também. Agora existem a Escola da Noite e o Teatrão, que conheço de ouvir dizer. A Associação teve secções activas, organismos autónomos com voz exterior. Houve entidades implantadas no tecido cultural nacional - o CAPC e em especial os Encontros de Fotografia. A certa altura fizeram apostas erradas (indiferentes aos seus públicos, apostados nas miragens da subsidiação universal). Os recentes parques urbanos são novas realidades culturais - não vi a Ponte de Pedro e Inês, de Adão da Fonseca e Cecil Balmond, obter o eco crítico merecido; vi o Pavilhão Centro de Portugal, de Álvaro Siza e Souto Moura, sujeito à rotina longínqua de Serralves, tão desajustada como o destino do Edifício Chiado. Mas apareceu a Galeria Sete - http://www.galeriasete.com - com extensão na Sete Lágrimas. Depois da muito incerta capital cultural e, já antes, da capitalidade teatral de Ricardo Pais (92-93) é conveniente "descer" ao local reflectindo um pouco (mas em público) sobre as responsabilidades que nos cabem - há sempre duas partes nos divórcios. Curiosa a referência abstracta ao cosmopolitismo. Mas obrigado pela atenção. AP
Posted by: ap | 02/28/2008 at 01:45
"Alguns dos subscritores tiveram responsabilidades nas organizações artísticas de Coimbra e deveriam assumir a responsabilidade de explicar concisamente o que justificou a desaparição ou eclipse de entidades como o TEUC e o CITAC, os Encontros de Fotografia e o CAPC, o Círculo de Artes Plásticas, que por muito tempo justificaram a deslocação a Coimbra ou levaram ao exterior as suas produções. Talvez os seminários de Serralves os estimulem para trocarem a queixa pela acção".
Ninguém quer assumir responsabilidades apenas diluir-se nos "amigos da cultura". Talvez em Serralves...
Posted by: Denúncia Coimbrã | 03/08/2008 at 02:32
Envio por este meio as minhas mais vivas saudações a Alexandre Pomar, cuja obra de crítico de arte sigo de Coimbra com o maior interesse há muitos anos, coleccionando tudo o que posso de sua autoria.
Estou a escrever uma carta a um amigo meu de Coimbra relacionado com certa instituição artística dessa cidade, de que sou antigo associado mas escasso colaborador, de que me apetece extrair alguns fragmentos.
“… faz imensa falta a Coimbra …uma organização que conseguisse ir em busca e reeditar o espírito de abrangência cultural e artística que teve o CAPC, uma autêntica academia livre das artes com referências inapagáveis como as de Waldemar da Costa, Túlia Saldanha, Inês Paulino e uma imensidade de outros, e que nos trouxe os nomes mais significativos das artes plásticas em Portugal e muitos valores internacionais…”
Quem se der ao trabalho de pesquisar nos curricula de muitos artistas dessa época e que são nomes de referência das artes plásticas em Portugal, encontrará as respectivas passagens pelo CAPC como nota de destaque prestigiante.
O actual CAPC, em nova localização e estatutos diferentes, muito especializadamente divulgado e apoios importantes, tem significativa actividade marcada pela especificidade e pelo nível de opções que lhe são próprias, mas nada tem a ver com essa anterior instituição que, valha a verdade, nenhuma outra substituiu.
O activo histórico dos acontecimentos relacionados com o CAPC inicial é enorme, mas encontra-se enigmaticamente ausente do referencial publicamente conhecido nesta cidade de Coimbra…”
“…Faço notar, entretanto, que o antigo CAPC atingiu o seu máximo prestígio e projecção nacional e internacional dispondo de uma sede interessante mas modesta, meios limitados de subsistência e uma ferramenta fundamental: a competência e prestígio de uma equipa directiva que tinha à sua frente a grande artista Túlia Saldanha, que faleceu poucos dias depois de ter sido especialmente convidada como membro de um painel sobre o temas das “experiências artístico-culturais de qualidade exemplar”, no âmbito das iniciativas promovidas pela ARCO/Madrid, no início dos anos noventa, na qual estive presente aliás, na expectativa da sua estimada presença, que já não teve lugar devido ao seu estado de saúde…”
Quanto às “lutas” travadas há algum tempo nesta cidade a respeito da “cultura”, sem desprimor para os mais bem intencionados participantes na mesma, e respectivo baixo-assinado – que não subscrevi – parece terem “murchado” com a passagem de um curto lapso de tempo.
Acho imensa piada à asserção de Alexandre Pomar de que, dessa luta “…pouca coisa escapa a uma burocrática gestão de culpas…”.
Isso só demonstra de facto que Lisboa é longe e que a realidade que aqui se vive é muito mais complexa (ou elementar???...) do que aquilo que parece vista da capital.
Acho igualmente que os seminários de Serralves também não vão ser mezinha para esclarecer o assunto, quanto a mim muito mais centrado em questões de partilha de poder, influências político-partidárias, questões de tacho e vacatura de cadeiras altas em que certas pessoas gostam de se sentar.
O que não quer dizer que esteja de acordo com a pantanosa e medíocre gestão de muita da cultura conimbricense que, em tema de subterrâneas influências e interesses “especiais” em nada fica atrás da de Lisboa, Porto e outras grandes metrópoles do planeta!...
Posted by: Costa Brites | 07/04/2008 at 12:49