O que começou por ser um extenso comentário extenso à entrada " Artes políticas e artes de rua " - que se perderia discretamente nas dobras etéreas de registos com data de Janeiro - passa a ser uma primeira intervenção notória de Pedro Reis desde Nova Iorque (texto e fotos):
"Conheço o trabalho do Banksy e já tive a oportunidade de estar perto
dele, sem ser por fotografias. O facto é que o Banksy talvez seja o
artista de rua (ou street-artist) mais mediático, justamente por ter
uma mensagem política ou se insurgir como uma voz crítica que
também carrega em si alguma ironia. No fundo, usa a sua arte para criar
situações irónicas e que de alguma forma ridicularizam as personagens
ou instituições visadas (lembro-me da Paris Hilton, e que Banksy os cds da "celebridade" de uma loja pelos seus; ou das inúmeras
intervenções em museus, em que a sua arte aparecia misturada com a arte
"residente").
A sua acção funciona um pouco como a "pedrada no charco". Mas de facto
existem outros artistas que não procuram este lado tão político e que,
contudo, fazem arte na rua. Lembro-me da Swoon, "Elbow Toe" e Gaia, por
exemplo. "Elbow Toe" leva-me a confrontar com a minha própria
existência humana. Os seus desenhos criados através de xilogravura e
colados posteriormente na parede, ou simples colagens - por exemplo
ou
© copyright elbow-toe & www.flickr.com/photos/m0rph3u/
- são bastante fortes e marcam a existência da parede como matéria viva e que no fundo é um meio de comunicação livre.
Foi essa mesma observação (sem recurso a campanhas de publicidade ou demais) que me levou a fazer o trabalho RGBNYC (@LVHRD MGZN #3) A parede é uma espécie de palimpsesto que é usada por quem a desejar e onde várias camadas são coladas, apropriadas ou destruídas. Faz-me lembrar o trabalho de Jacques Villeglé, por exemplo, mas aqui feito de uma forma quase natural ou não premeditada -- quase como uma erosão de conteúdo humano (que se gera, apropria, transforma eternamente até à morte da parede, como matéria viva).
Apesar de ser um fã do anksy pela forma como actua e nos confronta com os seres capitalistas ou consumistas que somos, existem outros tantos artistas que de alguma forma usam as mesmas "armas" para criar outro tipo de trabalho e mensagem. O que realça a importância das paredes das ruas como "matéria plastica", à disposição de quem queira correr o risco de a usar. Outros artistas que - estranhamente (ou não) - passaram da parede das ruas para galerias são Os Gêmeos. Gosto muito do trabalho deles. Há uma parede em Coney Island em que é mostrado um pouco do Brasil (até o Brasil colonializado).
Já agora deixo também margem para um dos "nossos" Banksys - K-Delights ( www.flickr.com/photos/k_delights ) - o responsavel pelos Fernandos Pessoa e Almadas espalhados por Lisboa, por exemplo (já para não falar das Irmãs Lúcias).
De notar que o graffiti ou o pasted-paper são novas formas de expressão amplamente divulgadas através de uma cultura com raiz no hip-hop (contestatária, portanto) e que é sempre um pouco irreverente... mas pode tambem não o ser, como no caso de K-Delights. Neste caso é mais um acordar para nós próprios e para os nossos "grandes". Talvez seja um (mais uma vez) olhar para o Passado... mas pelo menos é um Passado recente e nós tendemos a querer apagar a memória, de geração para geração (somos uns "Sísifos"...basicamente). Felizmente a nova geração (acho que ainda lá caibo) adoptou uma atitude que apoio incondicionalmente e que tem a haver com o chamado DYI (do-it-yourself), e é bom perceber como alguns artistas vão buscar referências ao passado recente já esquecido pelas modas recentes e com criatividade as fundem e reinventam (e agora vejo um dos meus links favoritos aqui ao lado... o da Ervilha Cor de Rosa)."
Pedro Reis
Em relação a artistas que passaram pelas paredes das ruas de Lisboa, gostaria de recordar o artista Frances Nemo que por cá passou, e cujos grafitis já quase desaparecidos e passados mais de 10 anos ainda têm a capacidade de desviar o meu olhar.
Posted by: Nuno Nunes-Ferreira | 02/07/2008 at 10:52
É uma boa oportunidade para reeditar um artigo sobre o Nemo que publiquei na Revista do Expresso
Posted by: AP | 02/07/2008 at 11:15