"Perspectivas contemporâneas", porque pensadas agora, mas é essencial procurar perceber como e quando se configurou na relação arte e política aquilo que vivemos e pensamos hoje. O que também tem muito a ver com o neo-realismo e o seu antigo tempo breve.
A política do século que passou foi determinada pelo que aconteceu entre 1917 e 1991 (o fazer e desfazer da URSS), e em arte foi determinante a associação que alguns estabeleceram, grandemente por equívoco e oportunidade, entre as ideias de vanguarda e de revolução política, sendo esta tendencialmente identificada com a sorte um Estado em concreto. Vanguarda também tinha sido a (pura) inovação em arte, a arte pela arte, e a revolução também podia ser fascizante, no caso futurista.
É nos anos 50 que o contexto da Guerra Fria (a guerra da Coreia desde 48, o muro de Berlim em 61) estabeleceu a identificação ainda vigente da arte moderna com o modernismo formalista e essencialista, que tem em Greenberg a sua versão mais precisa - e que veio a prolongar-se até ao presente à revelia e em oposição aos seus próprios modelos teóricos e gostos pessoais.
A independência da arte face a tudo o que lhe é extrínseco, a ideia de uma arte auto-referencial, separando arte e política, numa autonomia que é também, como programa último, o aprofundar de uma especulação sobre a natureza própria e os limites de cada um dos media artísticos, o formalismo como interpretação dominante da arte, é em grande medida uma exigência forçada (e um sacrifício aceite) sobre um terreno com uma base ideológica alargada, à direita e à esquerda, face à realidade do estalinismo - e tem em Adorno uma outra e simétrica legitimação, mesmo se enquanto processo de negatividade.
Despois da larga aliança política que implicou os artistas modernos e também os artistas tradicionais no combate ao fascismo e ao eixo nazi desde 1933 (ou 36 com a Guerra de Espanha e a Frente Popular), a nova divisão do mundo prolongou-se num lento e complexo confronto no campo da cultura e das artes plásticas em particular. Alguns livros fixam com exemplaridade as implicações estéticas dessa viragem - e esta parece ser mais uma diferente conjuntura do que um "novo paradigma".
Um desses livros é o Manet de Georges Bataille (1955 - ed. Skira, 1983) e continua a ser citado como guia no que tem de mais datado, ou errado: "a destruição do tema" (sujet) identificada como fundadora da modernidade, ou "a transformação da pintura, de linguagem, de discurso que era, nesta arte autónoma - como a música libertada das funções do discurso - que ela é depois de Manet".
Nessa década de 50, o sentido dessa perda de sentido é bem preciso.
Repensar a relação arte e política depois do hiato 1917-1991 é rever o que se convencionou como visão e saber da arte moderna (a interpretação da arte moderna como "modernismo") - e é desta concepção formalista de arte moderna que decorre o que se diz ser pós-moderno.
UIma leitura significativa é a de What is modern painting? de Alfred H. Barr. Jr, o grande director fundador do MoMA:
Ed. revista de 1959 (a 1ª é de 1943, em plena 2ª Guera). Com capa de um tal G. Kepes
Outra "bíblia" da década é de Herbert Read, também de 1959, A Concise History of Modern Painting, aqui na ed. Aimery Somogy / Le Livre de Poche, de 1960:
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