O livrinho de Alfred H. Barr, Jr. teve a 1ª ed. em 1943, e reedições em 1945, 46 e 49. A 5ª ed., de 1952, é revista, e outras se seguem em 1956 e 59 (a 7ª), pelo menos (1).
Na impossibilidade de confrontar as diferentes versões, é possível reconhecer o que muda pela introdução de obras datadas de 1947, Arshile Gorky, a 1957, Adolph Gottlieb, e pelos comentários referentes ao tempo do pós-guerra.
Orozco, Dive Bomber and Tank, 1940, uma obra encomendada para a exp. "20 séculos de Arte Mexicana" (MoMA, 1940)
"Depois da guerra, os pintores em geral voltaram as costas à destruição e ao horror. Como antes, pintavam de maneiras muito diferentes, mas, olhando à nossa volta, era claro que a pintura abstracta era a dominante, a arte característica do meio-século. (Isto, no mundo-livre. Os pintores controlados pelos Comunistas, entretanto, eram forçados a usar um estilo realista, embora, claro, tal não signifique que os pintores "realistas", em especial na América, sejam todos de simpatia Comunista!)"
Era assim que escrevia em 1957 um grande director do MoMA - que em 1927 organizara em NY uma exp. de "Pintura Moderna Progressista", visitara a URSS e à vinda, em 28, apresenta uma exp. de cartazes russos, logo antes de aceitar dirigir o Museu em 29, poucos meses antes da "Grande Depressão".
Na primeira parte do livro (que tem no total 48 pp. e é um prodígio de clareza e rigor), Orozco é um exemplos de pintura moderna que Barr defende, numa secção que intitula "Contrastes" e em que compara duas paisagens (de Dean Fausert, um jovem americano que em 1939 pinta do natural "à maneira do séc. XIX", e de Stuart Davis, mais velho mas mais moderno, autor de uma "composição animada (lively) e decorativa") e depois duas pinturas de guerra - "para nos ajudar a não esquecer a II Guerra Mundial, as suas glórias e agonias".
As duas obras são de 1940 - "mas são tão diferentes que parecem feitas em séculos diferentes e mesmo em diferentes mundos" - e mais uma vez o artista mais novo, o inglês Richard Eurich, que "usa uma técnica desenvolvida cinco séculos antes", é ultrapassado por um moderno: aqui, "um famoso Mexicano".
Trata-se de Dive Bomber and Tank, 1940, um fresco dividido em seis painéis móveis, encomendado graças ao fundo para aquisições da srª de John D. Rockeffeler, Jr. "Como se vê, Orozco faz um pleno uso da liberdade do artista moderno: combina objectos reais e irreais, emprega a técnica cubista de recriar a natureza em planos angulares semi-abstractos, e usa um desenho enfático, emocional, expressionista".
As comparações prosseguem com retratos de Whistler e Arthur Dove.
O essencial da lição de Barr é que o que importa não é a história mas a relação que o espectador estabelece com a obra (picture, imagem). "Actualmente existem cem maneiras, mil - tantas quantas são as imagens - de tratar um tema semelhante." A questão é abrir os olhos e ter uma mente livre. Essa é a ideia central de modernidade.
A seguir comparecem obras de Ben Shahn (1939), Charles Scheeler (1930), Edward Hopper (1925), o mexicano Antonio Ruiz (1941), Grant Wood (1932) e outros (ao lado dos mais antigos John F. Peto, Winslow Homer, e tb dos amadores e outsiders que interessavam Barr) num inquérito às "possibilidades do realismo".
O desconhecido que vale a pena mostrar é o mexicano Ruiz, e O Novo Rico, 1941: "É uma pintura narrativa (a story picture), uma sátira social com humor acrescentado. Mas a indignação do satirista e a habilidade do contador de histórias ganham vida graças à arte do pintor: talento na composição, sentido da cor (ácida e mexicana) e da textura pictural, firme e rica." Isto era o moderno em 1943-1957, de acordo com um crítico que é habitualmente tido por formalista.
(1) Entretanto, já ia na 3ª ed. de 1958 o volume Masters of Modern Art, para onde se remetem diversas reproduções a cores - é tb curioso confrontar as escolhas com a edição mais recente, desde 1992, de An Invitation to See - 150 works from the MoMA.
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