
Wayne Thiebaud (1920, Mesa, Arizona), Curved Intersection, 1979, óleo s/ linho, 58,4 x 40,6 cm). Col. part. Do catálogo de W.T. A Painting Retrospective, by Steven A. Nash e Adam Gopnik, Fine Art Museums of San Francisco, Thames & Hudson, 2000 (itinerante: S.F.; MAM Forth Worth; The Phillips Collection, Washington e Whitney Museum of American Art, 2000-2001)
in ARTECAPITAL
Por Sandra Vieira Jürgens
Lisboa, 25 de Março de 2008 (publ. em 4 Abril 2008)
Já por lá passou muita gente (contei 24, desde Abril de 2006, em dois anos, portanto)
gente do meio das artes (administradores e directores, coleccionadores e artistas - poucos, críticos, galeristas, amigos próximos e adversários, etc). <Não é, não deve ser, uma mesma gente esse meio das artes, é preciso encontrar diferenças e oposições: não pode ser uma comunidade, ou um gheto>.
Coube-me agora a vez; sucedo a Catherine Millet, que foi leitura regular na ArtPress (venho da cultura francesa, mas já não de Paris - veja-se como ela disse coisas interessantes *), e antes foi o João Pinharanda, colega dos anos 80 <mas eu não sou certamente da geração de 80, como se verá, mesmo que por essa altura tenha começado a escrever sobre artes>.
Principia assim:
"Na entrevista que publicamos este mês, Alexandre Pomar, importante crítico de arte <uff!?>, fala-nos sobre si e sobre o contexto que o rodeia: a actividade jornalística, a imprensa, a política cultural, o contexto museológico, os seus artistas de referência e a actual conjectura nacional. Quando questionado sobre a intervenção dos agentes do meio artístico, Pomar acedeu ainda a expressar comentários às assumidas compatibilidades e incompatibilidades que pautam as suas relações.
P: Durante muitos anos foi crítico de arte do semanário Expresso. Que balanço faz desse período de actividade?
R: Comecei por escrever alguma crítica de arte no Diário de Notícias e foi a partir daí que fui convidado a ir para o Expresso. Lembro-me sempre que o que desencadeou a passagem foi uma sequência de quatro artigos sobre a exposição “Anos 40” dirigida pelo José-Augusto França, onde tomei uma posição de grande divergência quanto a diversos aspectos históricos, e o Cesariny, num inquérito, declarou que eram um bom ponto de partida para um esclarecimento. Além de achar que tive razão, a aposta no debate compensou, porque foi por isso que me convidaram a ir para o Expresso. Continuei a pensar que era assim que valia a pena escrever, com independência e frontalidade de opinião. Fui para o Expresso como coordenador da área da cultura e restava-me pouco tempo para escrever mais do que notas do roteiro. Durante cerca de dez anos fui tentando acumular as duas tarefas, mas depois nunca deixei de ser jornalista além de ser crítico de arte. Acho que essa situação me permitiu ter uma posição particular e às vezes mais confortável.
P: Em que sentido?
R: Permitiu-me manter uma maior independência profissional e pessoal face ao chamado meio da arte, e, de vez em quando, afastar-me do comentário crítico sobre as exposições, que pode ser uma rotina penosa, para me ocupar mais de questões de política cultural ou de acontecimentos culturais em geral. Por vezes, o panorama era ou é tão medíocre que se torna vantajoso não ter a obrigação de escrever sobre tudo, e assim poder escapar a demasiadas zangas e cumplicidades. Como a minha posição era a de coordenador, e como havia vários colaboradores, tinha a hipótese de passar algum tempo a escrever menos sobre exposições e mais sobre política cultural. Essa alternância era vantajosa ao equilíbrio pessoal e evitava um desgaste demasiado rápido."
(...)
O site não admite comentários (é pena), por isso podem ser mandados para aqui e serão publicados se contribuirem para a conversa.
Notas:
1. Os meus 4 artigos sobre os anos 40 podem ser consultados em História de Portugal
O comentário do Mário Cesariny, no inquérito publicado no Expresso (dossier "Especial Anos 40"), antes de eu para lá ir trabalhar, era brevíssimo e começava assim:
"Da exposição só sei o que se diz nos artigos de Alexandre Pomar no "Diário de Notícias", que são um bom ponto de partida para um esclarecimento. Quanto ao surrealismo (...)". ver "Um silêncio", Mário Cesariny, 24 de Abril de 1982, pág. 26-R.
Esse dossier do Expresso, orientado pelo Augusto M. Seabra, inclui um conjunto de entrevistas de grande importância, com Mário Dionísio ("Fui sempre anti-estalinista", Joaquim Namorado ("Estaline só é problema para os antocomunistas" !!), Ernesto de Sousa e J.-A. França, e colaborações várias de, em especial, Vergílio Ferreira, Fernando Azevedo, Eduardo Prado Coelho, Hermínio Monteiro - a que se seguiram Eduardo Lourenço e António José Saraiva (já a 22 de Maio). Como era diferente o Expresso e a Imprensa escrita há 26 anos...
Teria sido oportuno à época, da parte da FG, publicar uma antologia extensa com as respostas escritas à exposição Anos 40 e seus anexos. Ela foi fundadora de uma dinâmica de revisões históricas que teve difíceis continuidades - e desde logo um exemplo de que as figuras no terreno, ou no poder, vindas dos anos 40, não abdicavam da administração da sua memória. A escrita da história é uma guerra de trincheiras (de cátedras...) e tb ficam mortos pelo caminho.
Nenhuma outra exposição histórica de fôlego (e multidisciplinar como esta) se fez depois - a dos Anos 50, torpedeada, fez-se em esquemática escala e sem investigação, em Beja (e SNBA).
2. "Porque ainda somos largamente subsidiários dos anos 40,..." dizia o AMS na entrada do seu artigo de abertura do dossier do Expresso. Julgo que ainda continuamos a ser (o fim da 2ª Guerra, que aliás só acabaria no final dos anos 80 com o fim da URSS; a Guerra Fria, que de certo modo continua como concorrência de blocos geo-estratégicos, e a Rússia já não é uma ideologia mas continua a ser um continente; a Europa e a necessidade da União, a democracia política). Herdeiros de uma ideia de reconstrução depois do desastre, mais do que de um projecto.
3. Na altura, o José Leal Loureiro (A Regra do Jogo) insistiu comigo para reunir os tais 4 artigos, ampliá-los um pouco e publicá-los num livrinho. Não havia tempo ou condições para mais investigação.
*
Catherine Millet tem toda a razão quando diz: "Se virmos com maior proximidade, a arte conceptual é a última consequência do raciocínio formalista." <ou: O essencialismo conceptual é uma sequela do idealismo formalista.>
Outra passagem é mais estranha, ou duvidosa : "...pertenço à geração que redescobriu a Escola de Nova Iorque, finalmente através da arte conceptual. Foi Kosuth que me falou de Ad Reinhardt, e foram Donald Judd e Sol Lewitt que me falaram de Barnett Newman. Tão simples quanto isso."
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