À esquerda, as fotografias são do moçambicano José Cabral, certamente o nome mais forte da fotografia que se faz em Mozambique nos tempos que se seguem à independência - e lembre-se o histórico Ricardo Rangel, que vi pela 1ª vez no Guggenheim de NY e é tb um grande nome ignorado da fotografia portuguesa e um dos grandes da fotografia africana.
A P4 Photography já anunciava 12 fotos de José Cabral entre a sua oferta de "limited-edition photographs" e tem agora três provas em exposição na accrochage que se manterá na galeria até 7 de Maio. São provas que se apresentaram na exposição intitulada "As linhas da minha mão", na PhotoFesta de 2006, III Encontros Internacionais de Fotografia de Maputo, como uma antologia de carreira e síntese das suas diferentes direcções de trabalho.
Também de Moçambique vêm as fotografias de Moira Forjaz que estão disponíveis no site da P4. Oito imagens do livro Muitipi. Ilha de Moçambique, que a Imprensa Nacional editou em 1983, da autoria de uma (ex-)foto-jornalista e cineasta nascida no Zimbabwe. Depois fundou a Galeria Moira em Lisboa e hoje dirige festivais de música.
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Em tempos de declarações de intenção e de enunciados abstractos, há já imagens que se trocam entre Maputo e Lisboa. www.p4photography.com
31/03/08 actualizado a 03/04
o programa de 2006, com uma fotografia de José Cabral
As linhas da minha mão (Setembro 2007, Maputo, foto *L)
e
Sem Título (Ilha de Moçambique), 1991.
Numa obra que se distinguiu da tradição documental preponderante na fotografia moçambicana (e que teve também origem no fotojornalismo), a dimensão performativa e auto-biográfica não surge como uma limitação auto-referencial mas como a marca de uma comunicação emocionada com os outros e com a natureza. Há retratos como lugares de um itinerário vital, lugares reais que são vivos ou mágicos, árvores animadas (com alma e com movimento), presenças de amigos mulheres e filhos, rostos que se ocultam e corpos que se despem, visões partilhadas. Há histórias encenadas e intermináveis narrativas inscritas em imagens únicas. O documento exacto e nítido é já ficção. Passa-se sem fronteiras da intimidade à dimensão do cosmos. Cabral é um fotógrafo da família singular de Alvarez Bravo e de José M. Rodrigues, antes de ou sem se conhecerem. (não é um estilo colectivo, é um génio)
São corpos (femininos) as árvores fotografadas em Tete e essa mesma comunhão com a paisagem, com as árvores em particular, que já foram tema de outra exposição individual, observa-se como acção quase surrealista na imagem em que a mão do fotógrafo se estende até confundir-se com o tronco vegetal. Na imagem da Ilha, a arquitectura é uma concha protectora face à luz inclemente e é uma máquina óptica, onde interior e exterior se espelham. O dia é a invisibilidade, e uma figura (e o seu duplo projectado) atravessa o espaço entre a luz e a noite, entre o fogo e as cinzas - uma segunda (ou terceira) figura emerge como habitante das sombras. Não se pode fugir desta prisão de portas abertas. O exterior é uma miragem incandescente. O tempo vive-se como uma pele das coisas, uma pele virada para dentro.
Galeria P4, Rua dos Navegantes 16, r/c esq.
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