"Gerard Castello Lopes na arte do pós-guerra"
Expresso Cartaz de 01- 07- 1995
Exp. «Europa de posguerra. Arte después del diluvio»/ «Europa do Pós-Guerra 1945-1965. Arte Depois do Dilúvio», dir. Thomas M. Messer, Fundação «la Caixa»
Fotografias de Gérard Castello Lopes estão incluídas na grande exposição «Europa do Pós-Guerra 1945-1965. Arte Depois do Dilúvio» que em Barcelona assinala a passagem de meio século desde o final da 2ª Guerra Mundial. Apresentada pela Fundação «la Caixa» e concebida por Thomas M. Messer, director do Museu Guggenheim de Nova Iorque, a exposição compreende três sectores, em edifícios distintos, dedicados à pintura e escultura, à arquitectura e design e à fotografia.
O panorama dos vinte anos de evolução da fotografia, mostrado na Sala Catalunya, é da responsabilidade de Marta Gili e inicia-se com a «fotografia humanista» de tradição francesa (Robert Doisneau, Boubat, Izis, WIlly Ronis, etc), reunindo também, sob o título «As ruínas do mundo e o renascimento do mundo», obras de Robert Frank, do checo Josef Sudek, do sueco Stromholm (apresentado pelo Fotoporto, em 1991), de Gérard Castello Lopes e, entre outros, dos espanhóis Català-Roca, Ramon Masats e Gabriel Cualladó.
Nos dois capítulos seguintes, «O clamor da memória, o olhar contemporâneo» e «Da investigação à experimentação», apresentam-se autores como Werner Bischof, Capa, Cartier Bresson, Ernst Haas e Manuel Ferrol, ou Bill Brandt, Brassai, Giacomelli, Otto Steinert, etc.
A exposição de Barcelona, patente até 30 de Julho, foi co-produzida pelo referido banco catalão e pelo Governo da Austria e é uma gigantesca mostra do panorama artístico que se sucedeu, na Europa, às convulsões da 2ª Guerra, período de reconstrução que correspondeu também à transferência do centro do mundo da arte de Paris para Nova Iorque. Dotada de um orçamento de 300 milhões de pesetas, a mostra apresenta nos seus três sectores 527 obras de 270 artistas e é acompanhada por um catálogo de 560 páginas, com versões em castelhano e inglês (5000 pesetas). Posteriormente, será apresentada no Kunstlerhaus de Viena.
O sector dedicado à pintura foi organizado por Lóránd Hegyi, de Viena, documentando, no início, a continuidade da produção dos pioneiros e mestres do século XX, desde Picasso, Braque ou Léger até aos surrealistas e dadaistas; seguem-se secções históricas dedicadas ao informalismo e, depois, ao «Nouveau réalisme» e à «Pop Art». A escultura, também mostrada no Centro Cultural «la Caixa», onde se inaugurou uma nova galeria de exposições, foi seleccionada por Bernard Ceysson, director do Museu de Saint-Étienne, e aí se reafirma o lugar central de Picasso, entre obras que acentuam direcções biomórficas (Moore e Arp), o construtivismo, o movimento, a figura e as visões do real e, por fim, tendências mais recentes.
Quanto à arquitectura e ao design, a cargo de Kenneth Frampton, da Universidade de Columbia, e Diane Gray, da Fundação Mies van der Rohe, de Barcelona, os comissários optaram por apresentar, na Sala Sant Jaume, oito espaços nacionais, dedicados ao Reino Unido, à França, Espanha, Itália, Alemanha, Finlândia, Dinamarca e Holanda/Suiça.
Gérad Castello Lopes, que em Barcelona está representado com fotografias realizadas nos últimos anos da década de 50, fez em 1994 uma exposição em Paris, no Centro Cultural da Fundação Gulbenkian (por ocasião do Mês da Fotografia mas não incluido no seu programa), incluindo então fotografias realizadas entre 1956 e 1992. Pela mesma ocasião, a revista francesa «Vis-a-Vis» publicou um portfolio de sete fotografias, acompanhada por um curto texto de Antonio Tabucchi. Em Portugal, Gérard Castello Lopes expôs as suas obras mais recentes em 1986 («Insignificâncias», no Centro de Arte Moderna) e 1989 («Uma fotografia, galeria Ether).
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"Poesia,perguntas, percursos"
Expresso Cartaz (Livros) 02-12-95
GÉRARD CASTELLO LOPES
in «Colóquio-Letras», nº 135-136
Não se trata de uma exposição, nem mesmo de um album. Apenas da publicação de algumas fotografias intercaladas nas páginas do último número da revista «Colóquio-Letras». Mais precisamente, 12 fotografias, 11 delas muito provavelmente inéditas e uma já publicada no catálogo da exposição «Insignificâncias», em Outubro de 1986 («Marvão, 1986», nº 25; agora reimpressa como de 1990), com datas que vão de 1984 a 1994 e confirmando assim que, embora o autor não tenha exposto em Lisboa desde 1989 — «Uma fotografia», na Ether —, continua activo como fotógrafo.
São insondáveis os circuitos expositivos: nenhum esforço analítico justificará que não se tenha acompanhado, nem entre as várias e todas elas respeitáveis instituições dotadas de galerias públicas, nem no mercado galerístico, supostamente dinâmico, a obra fotográfica de Gérard Castello Lopes. «Lá fora», entretanto, fotografias suas foram incluidas, este ano, em Barcelona, numa exposição que procurou fazer o balanço do período de 1945 a 1965: «Europa de posguerra. Arte después del diluvio» (Fundación «La Caixa», Maio-Julho, reapresentada em Viena no Outono).
Em 1994, foi em Paris que puderam ver as suas fotografias, no Centro Cultural Português da Gulbenkian, com um catálogo de grande qualidade.
Em 1991, foi um dos fotógrafos mostrados na Europália e o único que circulava da secção histórica mostrada em Charleroi («Os anos de transição») para o sector dos autores contemporâneos apresentados em Antuérpia («Olhares inquietos 1980-91», segundo os títulos atribuidos por António Sena).
Coube, portanto, à revista «Colóquio-Letras» oferecer-nos o conhecimento das novas fotografias de Castello Lopes, e essa não é uma acção isolada da revista. No âmbito de uma acção editorial marcada (para além dos conteúdos literários, que aqui não estão em questão) por uma rara excelência gráfica, a fotografia, «antiga» ou de autores actuais, tem sido objecto de uma regular atenção por parte de Joana Varela, directora-adjunta da revista. Ora documental ou ilustrativa, ora mais subtilmente associada à temática abordada, como sucede na última edição, publicada sob o título «Poesia. Perguntas e percursos».
O inventário dessa acção de divulgação da fotografia, inclui o
nº 110-111, de Julho-Outubro de 1989, com imagens de levantamentos fotográficos de Moçambique, dos anos 20 (ainda sem a qualidade de impressão posteriormente alcançada);
nº 113-114, Janeiro-Abril de 1990, fotografias de José Francisco Azevedo (com impressão na Litografia Tejo, já em colaboração com António Sena e o grupo Ether, que se manteria até 1992);
nº 116-117, Setembro-Outubro de 1990, colaboração de Mariano Piçarra num número sobre Sá Carneiro; nº 121-122, Julho-Dezembro de 1991, fotografias inéditas de Lisboa e do Rio de Janeiro, do século XIX;
nº 125-126, Julho-Dezembro de 1992, um fotógrafo não identificado dos anos 50 e também um caderno com crónicas de Alexandre O'Neill para «A Capital», acompanhadas por imagens dos seus foto-reporters;
nº 132-133, Abril-Setembro de 1994, retratos de João Cutileiro, dos anos 60, e de Fernando Lemos, de 1950-52, editados em dois desdobráveis com oito imagens cada — do primeiro, que expôs em 1993 na Galeria Valentim de Carvalho (sem catálogo), publicaram-se então os retratos de Sophia de Mello Breyner, Ruy Cinatti, Helder Macedo, José Cutileiro, Mário Cesariny, José Cardoso Pires, Vasco Pulido Valente e um auto-retrato.
Os presentes «percursos» de G.C.L. vão de Epcot, EUA, 1984 (o mesmo lugar da última imagem do livro Perto da Vista, IN-CM, 1984, diferentemente visto) até Val d'Isère, França, 1994, com passagem por Paris, Lisboa, Guadalupe, Florença e outros lugares. Mas os sítios importam menos que a evidência de um (mesmo) olhar sobre o mundo e as coisas, mostrando sempre que não é a identificação-decifração que se oferece e antes a preservação de uma definitiva margem de não significado do visível: uma emoção, um maravilhamento do olhar, compartilhável à distância do lugar e do tempo perante a materialidade de uma distribuição de luzes e sombras, de densidades e transparências — de branco e preto na incerta distribuição de massas sem peso nas paisagens da neve de Val d'Isère. Vedado o reconhecimento e coartado a chave da anedota, não é também abstracção formalista que se persegue nestas fotografias onde se preserva o enigma do real. Uma revista de/sobre poesia pode ser, para elas, um local certo de edição. Mas há que mostrá-las.
(Nº 135/136, Janeiro-Junho de 1995; 3000$00)
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