Não conheço nada (*) de esclarecedor sobre a fotografia nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, que vão de 1946 até 56, em dez edições que se interromperam por um ano em 1952.
(* Só depois de escrever isto é que descobri ou reencontrei a colaboração de Emília Tavares no volume Batalha pelo Conteúdo... editado pelo Museu do Neo-Realismo em 2007 - "Fotografia e neo-realismo em Portugal" , pp. 263-273. Vou ter de confrontar algumas das informações. 18/05)
Na primeira EGAP, no particular clima festivo ou aguerrido de 1946 (terminara a Guerra e esperava-se dos Aliados algum empurrão ao regime), participou Mário Novais (1899-1967) com seis fotografias - o grande fotógrafo da Exposição do Mundo Português de 1940 para o SPN de António Ferro e de muitas outras iniciativas do regime. Foi nesse ano de 1946 o único integrante da secção de Fotografia e não voltará a estar presente em nenhuma outra EGAP, nem, por isso mesmo, das duas únicas outras edições em que se abriu uma tal secção - se outras razões não existissem, a colaboração com a informação do regime, o SNI, impedia-lhe a presença, como a Carlos Botelho (só presente em 46, tb) e a Bernardo Marques. O catálogo da 1ª EGAP - onde existiu igualmente uma secção de Publicidade, com cartazes - não refere títulos para essas fotografias e não sei de informações sobre elas. (*E.T. cita o 1º de Janeiro de 7 Julho 46, que aponta para fotografias de arquitectura, ou de edifícios.)
O que é curioso é que Mário Novais participara em 1930 no I Salão dos Independentes, tb na SNBA - presente na secção de Artes Decorativas (sublnha-se o nome) com 15 trabalhos: seis retratos (três de artistas expositores, 5 interiores de espaços industriais e 4 estudos - sem aspas - a fonte desta informação é o catálogo da exp. de 1998 sobre Mário Novais e a exp. de Belém, pág. 25). Note-se que entre essa mostra de 1930 e a de 1946 procuraram os organizadores definir traços fundadores comuns.
Mas tb é de notar que J.A.F. não cita Mário Novais como expositor na sua história do séc. XX, e apenas refere a presença anónima de dois fotógrafos entre os Independentes de 1930. Estaria ele a referir-se a Novais e a uma dupla de autores, ou apenas a Edmundo de Bettencourt e Branquinho da Fonseca, fotógrafos-escritores da Presença - ver o nº 24, Janeiro 1930, pág 7 - "Fotografias de composições vivas" por Bettencourt e Branquinho? (cf. António Sena, pág 238)
Para além de se revelar o desprezo pela ou a ignorância sobre a fotografia, torna-se notório um insuficiente entendimento do que era o moderno e do modernismo.
Novais fora tb o fotógrafo de António Dacosta na ilustração (obra ou retrato?) do catálogo da Casa Repe, em 1940, com A. Pedro e Pamela Boden, ao tempo e à margem do "Mundo Português", mas não se mitifique a ideia de "revolta" que lhes foi associada.
Não foi homem de Salões de arte fotográfica - mas dois trabalhos publicados na revista "Objectiva", em 1938-39, O homem do harmonium e Dia de mercado, alinham com o pior gosto -, e é de novo a propósito de Artes Decorativas que participará no (e que "cobre" o) I Salão das ditas que em 1949 se realiza no Palácio Foz.
O seu acervo (cerca de 100 000 negativos e/ou fotografias) foi comprado pela Gulbenkian e um dia a prestimosa e lenta entidade dará a conhecer mais coisas.
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1950
meia pág 16 do cat. da 5ª EGAP, a secção FOTOGRAFIA
2. O ano seguinte de aparição de fotografias nas Gerais seria já o da 5ª edição, 1950, que por sinal, ou não, foi também o do termo da publicação de um grande livro fotográfico que a história do António Sena estranhamente não refere: As Mulheres do meu País, de Maria Lamas, saído em fascículos desde 1948 (reeditado em facsimili pela Caminho em 2002-03). Entre as dezenas de fotógrafos e estúdios de quem se publicam fotografias documentais nesse livro (para além das inúmeras fotos da escritora e jornalista Maria Lamas...), há só um nome comum ao da lista de quatro fotógrafos representados nessa Exp. Geral de Artes Plásticas ou nas edições seguintes. O último dos 15 fascículos tem data de 15 de Abril e a 5ª EGAP é em Maio - é pelo menos uma coincidência. (Mas nada é acidental...)
Esse único nome coincidente é o de Adelino Lyon de Castro, o qual aí participou uma única vez. Teve 10 fotografias reproduzidas naquele livro de Maria Lamas, mas as 6 da 5ª EGAP são apenas referidas por títulos num catálogo sem imagens.
Francisco Keil do Amaral é o 2º nome, com "Oito fotografias" sob o nº 318;
Manuel Peres (?), o 3º com "Três retratos"
e Rodrigo de Vilhena (?), o 4º com 5 imagens que se podem adivinhar bem próximas do salonismo da época e de sempre: Barcos na doca / Equinócio / Espectativa / Nuvens / Ondulação Oeste fraca...
Keil regressa como fotógrafo em 1955 (é assim o que participa em mais edições, duas apenas, para além das presenças fotográficas na secção arquitectura, que consituiria outra investigação); os outros têm apenas presenças fugazes, como tb sucederá com Victor Palla em 55...
(*ET nada terá apurado sobre Manuel Peres, mas refere sobre Rodrigo de Vilhena (1912-1995) : "com ligações aos artistas e poetas modernistas como Sarah Afonso, José Rocha ou António Botto, não deixou de participar em inúmeros salões foptográficos como amador, produzindo imagens em que algumas das lições modernistas de entendimento estético da tecnologia estavam presentes, como é o caso das muitas imagens sobre a temática dos comboios e a exploração formal da velocidade")
É possível supor que a presença da fotografia nas Gerais (1946 / 1950 / 1955 - para além da sua comparência em registos de arquitectura e em trabalhos de publicidade - oscilou entre propostas salonistas (designação aceite para facilitar, mas muitas vezes insuficiente) e esforços modernizadores, ou sensibilidades modernas. Essa diferença será talvez expressa pelo modo de inscrever e titular os trabalhos: com nºs individuais e títulos para os salonistas; nº colectivo sem título para os outros (como as oito fotografias de Keil)
Voltando a Adelino Lyon de Castro (que no livro original de Maria Lamas foi identificado como A. Lyon de Castro, e vem referido na ficha de 2002 como Alberto...), é preciso ir situá~lo em pelo menos 4 (afinal serão 9, 2011) Salões Internacionais de Arte Fotográfica organizados pelo Grémio Português de Fotografia, também na SNBA e levados ao Porto no Clube Fenianos Portuenses.
Trata-se dos salões de 1946, 47, 48 e 49 (e não vi ainda os catálogos do I Salão, de 1938..., e o de 1950 e seguintes, sabendo que ele morreu em 1953). Parte relevante da sua obra fotográfica foi recolhida no volume O Mundo da Minha Objectiva, editado em 1980 por Publicações Europa-América, e por Francisco Lyon de Castro, seu irmão, com um prefácio de Fernando Piteira Santos (prolongando-se assim solidariedades pessoais e titistas, na sequência de rupturas políticas vindas dos anos 30 - 1939, depois a Jugoslávia de Tito...).
Expõem nesse ano Adelino e Tito (?) Lyon de Castro. Francisco Lyon de Castro aparecera com o seu nome em 1946 e 47 (!?, ou antes aparecera o seu nome, proposto pelo Adelino...)
Adelino Lyon de Castro atravessa assim, pelo menos, três lugares significativos da fotografia dos finais da década de 40 (uma das Gerais, os Salões do Grémio e o livro de Maria Lamas), além de ser o único (?) autor antologiado em livro próprio, já muito tardiamente. A história de A. Sena não cita esse livro (regista-o num dos índices...) e faz apenas uma fugaz referência ao seu nome.
No 9º Salão, de 1946, expõe Adelino Lyon de Castro, identificado como membro do Grémio, a fotografia Ex.Homens (Brometo), nº 163, que deverá ser a mesma apresentada na 5ª Geral de 1950 e se encontra reproduzida (ou outra com o mesmo título: Ex-homens) no livro referido, não paginado. Trata-se de um grupo de quatro homens (vagabundos?) sentados à volta de uma fogueira. As cabeças baixas dão uma nota talvez miserabilista, mas parece haver uma certa espontaneidade documental que a distingue dos artifícios foto-artísticos.
Também expõe o já então editor Francisco Lyon de Castro, 1914-2004 - ver biografia no site www.fundacao-mario-soares.pt (expõe "Crepúsculo") - aliás, é Adelino que se esconde sob esse nome. Fundara no ano anterior a editora Publicações Europa-América, de parceria com o seu irmão Adelino (1910-1953).
Entre os outros participantes no Salão estão António Rosa Casaco, o pide, e Artur Pastor. O único com uma imagem reproiduzida no cat. é o Rosa Casaco.
"Ex-homens" em O Mundo da minha Objectiva, Pub. Europa-América, 1980 (não pag.). Será a mesma fotografia do 9º Salão e da 5ª EGAP?
Em 1947, no 10º Salão, voltam a expor os dois irmãos Lyon de Castro: Adelino - Faina fluvial; Francisco - Batoteiros e Barco da Costa, aparecendo tb um Tito de Castro (Labuta e Solitário)... (é o mesmo truque da multiplicação dos expositores)
Entre os outros: Constantino Varela Cid, Silva Nogueira (rep.), Artur Pastor, o mesmo agente-fotógrafo ("Um lugar ao sol" é o seu título) e certamente a sua mulher (Yvonne).
O mais famoso dos estrangeiros é José Ortiz Echague de quem se reproduz o clássico "Castellano", carvão Fresson.
Em 1948, no 11º Salão, aparece de novo Adelino Lyon de Castro, com Um "Fadista" e Barro e Sombras - foto reproduzida no catálogo (um alinhamento de quatro potes bastante desinteressantes) e não incluída no livro.
Francisco L.C. não comparece mas surge com Timorense um Tito Lyon de Castro (com a mesma morada do Tito da ed. anterior, R. das Gáveas), cuja identificação levanta alguns problemas. O marechal com o mesmo nome é excluido nesse ano da corte estalinista e do Kominform, pelo que será justo pensar que alguém o quer referir, em oposição à linha do PCP. Não se tratando do filho de Francisco L.C., nascido em 1945, e assim nomeado em homenagem ao chefe e/ou herói jugoslavo, ao que se julga, Tito seria tb pseudónimo de Adelino.
Outros expositores são Constantino Varela Cid, Ruy Cinatti (Nativa do Bali, n. rep.), Silva Nogueira (rep. Amália), Artur Pastor. E o inevitável e poderoso Echague (Morella, paisagem).
Por fim (por enquanto?), em 1949 e no 12º Salão Adelino Lyon de Castro mostra O meu barco, e não comparecem Francisco ou Tito. Mas estão Mário Camilo, Rosa Casaco (rep. Sinfonia do branco - dois jarros), Varela Cid, Silva Nogueira ( Dernier Cri, uma solarização), Eduardo Varela Pécurto e outros talvez tb representivos. De Echague reproduz-se El beso al prior.
(*ET informa que duas fotos presentes na 5ª EGAP, A Caminho e Na doca, estiveram no 13º Salão, 1950, ano em que surge associado ao Foto Clube 6 x 6, onde foi membro do conselho artístico, e participou em muitas manifestações salonistas.) Fundado em 1950, o Foto Clube 6 x 6 viria a dar lugar à APAF.
Deverá observar-se que os fotógrafos publicados no livro de Maria Lamas, ou a generalidade deles, também não são expositores nos salões do Grémio, o que estabelece uma fronteira quase sempre eficaz entre os profissionais (incluindo repórteres e exluindo alguns retratistas) e os artistas, ou candidatos a artistas.
3. Só volta a haver fotografias na Exposição Geral de 1955, segundo se verifica pela consulta do catálogo (na SNBA, obrigado sr. António - não há na Gulbenkian, nem na BN)...
REVISTO
Artur Pastor terá uma exposição na Biblioteca nova da Nazaré, com inauguração prevista para 22 de Novembro. São fotos de autor impressas em grande formato e que estiveram patentes num dos salões do antigo SNI. Actualmente o sue espólio encontra-se no Arquivo Municipal de Lisboa, aguardando a sua divulgação em dias mais afortunados para a Cultura neste País.
Posted by: artur pastor(filho) | 11/18/2008 at 14:15