Tinha-me convencido de que a fotografia tinha aparecido como tal por quatro vezes na Exposições Gerais de Artes Plásticas, entre 1946 e 56. Dizia António Sena, pág. 271, que Keil do Amaral e V. Palla "mostram fotografias" na VIII EGAP, em 1954, e a coisa foi sendo repetida sem confirmação. Mas não, o catálogo não tem essa secção que aparecera em 1946 (Mário Novais) e em 1950 (4 autores e 13 nºs de cat., com o destaque necessário para o arq. Keil e o editor Adelino Lyon de Castro).
Parecia haver com essa selecta representação dos dois em 54 um mais claro sentido modernizador, um esforço de reorientação, e afinal, tratar-se-á, até prova em contrário (presenças extra-catálogo?), de um lapso.
Terá de pensar-se por que foi tão escassa a presença da fotografia nas Gerais - já não haverá testemunhas que o esclareçam. Para além do caso solitário e fulgurante, ou fugaz, de Fernando Lemos (1949-52), aparecem agora no leilão da P4 fotografias experimentais de Victor Palla datadas de cerca de 1952 (já lá iremos), e, para além dos nomes conhecidos e esquecidos dos salões (os "salonistas" não são todos iguais, nem todos nulos...) outros artistas fotografavam com regularidade e outras fotografias anónimas subsistem. A presença larga da arquitectura (representada por desenhos e fotografias), das artes decorativas, publicidade e artes gráficas torna mais insólita essa ausência da fotografia nas EGAP.
Prática instrumental e aplicada para trabalhos de arquitectura e "design" (avant la lettre), actividade documental e informativa (documentos para artistas, retratos), a fotografia não se quereria arte e era (por muitos) rejeitada quando exibia pretensões artísticas - não é por acaso que em Espanha os novos fotógrafos dos anos 50 se propõem "esquecer a palavra arte por um tempo" - como dizia, cumprindo de outro modo desígnios duchampianos, o fotógrafo Oriol Maspons (citado por Horacio Fernández, Variaciones en España, 2004). A grande diferença pensinsular é que Maspons o escrevia no próprio boletim "Arte Fotográfico" da Real Sociedad Fotográfica, em 1957.
Duas exp. internacionais importantes tinham ocorrido em 1954, mas desconheço que ecos tiveram por cá: a 2ª mostra da Fotografia Subjectiva de Otto Steiner e "Post-War European Photograhy" no MoMA. Não será possível especular.
Entretanto, apareceu o artigo de J.-A. França sobre a Fotografia Subjectiva publicado em 1953, o que vem corrigir muita coisa. Tudo é mais rápido e a circulação de informação existe - o que parece nunca haver (até hoje) é continuidade dos propósitos. 20/06
(do catálogo da IX EGAP, 1955)
Pelo que mais tarde se conheceria, destaca-se aqui a aparição de Victor Palla e de Augusto Cabrita - um amador não salonista e um profissional já frequentador premiado de concursos e salões, dados que contrariam as clivagens fáceis que têm mais uso.
Cabrita e Frederico Pinheiro Chagas, engenheiro com ligações ao meio neo-realista, frequentavam os Salões de Arte Fotográfica do Barreiro, organizados pelo Grupo Desportivo da Cuf desde 1950 (aliás 1951..., o de 50 é do Jornal do Barreiro e não teria continuidade directa - haverá por aí razões políticas e Adelino Lyon de Castro é mais uma vez o protagonista...). Manuel Correia foi um dos fundadores do Foto clube 6.6, também em 1950, tal como tinha sido Adelino Lyon de Castro, falecido em 1953. As fronteiraas são mais permeáveis do que se julga.
No artigo de Emília Tavares citado em I revela-se uma aturada pesquisa de identificações de autores e obras presentes na IX EGAP - e dai tirei estas informações anteriores. Também a proposta de que a fotografia abaixo fosse a intitulada " Alentejo" tem, a mesma origem. "Alentejo", exposta na 9ª EGAP segundo ET. No livro "Augusto Cabrita - Na outra margem, o Barreiro Anos 40-60", de 1999, as legendas de Gilberto Gomes identificam com o nome Alentejo o barco à direita. em baixo, sem excluir aquela atribuição.
Para além de Avelino Braga e Alberto Cardoso, com participações ignoradas, avulta a presença de quatro arquitectos: Keil e Palla, mais Bento de Almeida e Manuel Moreira, de quem se (?) conhecem (?) as obras - no 2º caso com títulos intrigantes: 454 - C; 635 - C; 152 - N, etc.
VÁRIAS REVISÕES SUCESSIVAS
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