Uma surpresa
" F u t u r o P r ó x i m o "
de Julieta do Vale,
na G a l e r i a M o n u m e n t a l - até 7 de Maio
na Galeria Monumental
Campo dos Mártires da Pátria, 101 Lisboa
terça a sábado, das 15h00 às 19h30
provas impressas a jacto de tinta , com 100 x 120 cm
Julieta do Vale tinha exposto antes com Margarida Gouveia, "Lugar comum", na Sala do Risco, em Lisboa (Nov. Dez. 2004)
Catálogo com 15 fotografias a cores (sem identificação de autoria) realizadas em Macau (Agosto 2003, bolsas da Fundação Oriente), editado em 500 ex.
n. 1976, Lisboa, comunicação gráfica em Macau, fotografia (curso avançado) no Ar.Co
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Todas as fotografias são feitas em Osaka, pelo que me dizem <não, não foram todas feitas em osaka, metade sim e as outras em kyoto, nara, kagawa e tokyo>, mas não se trata de descobrir uma cidade e/ou os seus habitantes. Não saberemos de que se trata, afinal, porque o que vemos parece sempre indicar o propósito de suspender as afirmações possíveis e de fazer dessa suspensão de sentidos uma comunicação mais verdadeira. O lugar é oriental, só porque se vê o jardim de um templo (?) oriental <as flores nos vasos estão na parte da frente de uma casa, que talvez tenha um pequeno templo no jardim> e há rostos orientais que passam sem nos olhar - mas podia ser qualquer outro lugar.
Essas presenças estão absorvidas em si mesmo, não se encontram, e olham o que não vemos, num caso é alguém que olha pela janela de um quarto e o exterior que não vemos é já a luz que o atravessa.
Essa suspensão, esse não sabermos o que vemos, e o que há para ver para além do plano recortado, prolonga-se na contenção dos contrastes de cor ao longo da série, predominando os tons cinzas, as cores ténues, excepto quando um fragmento iluminado se destaca das sombras, como as flores nítidas e luminosas por entre a sombra secreta do templo <não é templo, mas uma espécie de pórtico, que será um elemento decorativo e um sinal ou caracter japonês - a vermelho por entre a sombra>.
Das figuras encontradas em espaços interiores ou exteriores às vistas urbanas, espaços entre a noite e o dia, em trânsito, trata-se de ver, de dar a ver o que se pode sentir como a serena opacidade de lugares ou de um quotidiano discretos, sem acidentes, mas ao mesmo intranquilos na sua própria serenidade: a do lago onde nadam patos diante das grandes casas da cidade; a do antílope expectante atrás da senhora que passa sem o ver - insólitas aproximações de diferenças. Uma estranheza que é intensidade da atenção e não mistério, sem necessidade de ficção acrescentada.
E ainda um vídeo, mais misterioso esse ao prolongar-se no tempo um espaço e uma acção que não deciframos, e que assim se basta numa fotografia em movimento, repetidamente sustida num breve ciclo de vida. Em movimento e em som, música, como um objecto construído, uma paisagem encenada em palco. <No plano fixo, há disparos de luz que atravessam o espaço - são bolas de golf praticado em zona urbana, numa paisagem nocturna indeterminada>
"Toda a gente se dirige para onde vai e eu só ando." "Procuro o incompleto." "Tento representar o invisível que me rodeia." - são passagens de um breve texto da artista que precisa de ser lido lentamente.
Uma quase estreia que é uma forte surpresa, uma discreta e intrigante surpresa.
16 de Abril... 4 de Maio
Nao vi a exposição ainda.
mas a imagem acima (a do convite) parece-me muito fraca...
Se a miuda fosse europeia e não oriental, será que seria usada no convite?
Qual o interesse ou particularidade desta imagem? trendyness?
Posted by: João P. A. Costa, Lisboa | 04/18/2008 at 05:20
Pois vá ver a exposição, então. A escala é importante aqui (mais do que as dimensões). A imagem cabe no ecrã, o objecto fotográfico é neste caso (também) outra coisa.
Depois ponha a hipótese de poder distinguir entre fraca e frágil, por exemplo. Talvez ela, a hipótese (a fotografia exposta) "fragilize" ainda mais o espectador e as suas certezas sobre o que é uma imagem forte.
Talvez o que nela resta em suspenso, não mostrado, não dito (e menos ainda gritado) ajude a reflectir sobre o que é o interesse ou particularidade de uma imagem - nem todas têm esse efeito de desencadear uma interrogação que é ao mesmo sedução e inquietação.
Posted by: ap | 04/18/2008 at 09:28