Pela primeira vez é possível fazer uma aproximação à diversidade de interesses e de carreiras de Victor Palla, que foi reconhecido como fotógrafo e arquitecto, mas foi também editor e designer de sucesso, além de director de galerias, pintor, escritor e animador de várias causas e iniciativas. O catálogo do leilão que a P4 Photography vai realizar a 29 de Maio já está publicado e em distribuição.
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A dispersão de parte muito significativa do seu espólio vai certamente fazer com que o mercado se venha a tornar o factor decisivo para um futuro melhor conhecimento de um criador dinâmico, original e multifacetado, a quem não foi consagrada em vida a exposição multidisplinar que merecia.
Existe um estudo biográfico não publicado em livro que constituiu uma tese de mestrado do seu neto João Palla e que será o suporte necessário para posteriores estudos sobre a vida e a obra de Victor Palla, mas o catálogo do leilão fica como um indispensável repositório de imagens (e de elementos descritivos), envolvendo os passos mais conhecidos e os menos divulgados da sua produção não-arquitectónica - mas, através do desenho e da fotografia, tudo está de facto muito interligado.
O arquitecto (com Bento de Almeida) da Escola do Vale Escuro foi também o autor de novos programas modernos para cafés e snack-bares, como os Terminus, Tique-Taque (Tic-Tac não podia ser, ao tempo), Suprema e Pique-Nique - ver Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50, de Ana Tostões. O Galeto é já dos anos 60. Ver fotos de arquitectura em
A retrospectiva do fotógrafo que o CAM apresentou em 1992 passou à margem de Lisboa Cidade Triste e Alegre (realizado em parceria com Costa Martins), e que a Ether e António Sena tinham reposto em circulação dez anos antes. Mas a exp. deixou também por revelar outras direcções de trabalho que ocuparam Victor Palla antes e depois desse marco. É o caso da experimentação fotográfica posterior a 1952 que agora se revela em provas de época e únicas (realizadas em labnoratório a partir de vários negativos), ou das provas muito mais tarde impressas a alto contraste e em cor lisas, mostradas por exemplo na Objectiva 84 e na 86 da Festa do Avante.
Mas é também o pintor - activo desde a 2ª Exposição Independente, no Porto, em 1944, e um dos animadores das Exposições Gerais na SNBA, de 1946-56, mas depois sucssivamente regressado em exposições individuais de desenho de modelo, de pintura e ainda de colagens "neo-pop" - que agora se apresenta, em sucessivas "vagas" de trabalhos exploratórios.
Outra vertente decisiva corresponde ao trabalho do editor e do designer gráfico, mas também do autor e tradutor, que tem talvez como mais conhecido emblema a criação da colecção Os Livros das Três Abelhas
com José Cardoso Pires, no quadro da editorial Gleba (mais tarde a colecção foi vendida à Europa-América).
Se Lisboa... é tb um marco (internacional) na história dos photobooks, é precioso o exemplar da edição especial de Histórias de Amor, então apreendido pela censura, e são relevantes as capas para os neo-realismos de Carlos de Oliveira e Vergílio Ferreira. Outras etapas do design gráfico são as antologias policiais O Gato Preto, de 1952, as capas para os livros da Arcádia e, mais tarde, os estudos originais para edições imaginárias.
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