Em 21 de Maio de 1945 (e até 28), uma "Exposição Independente" vinda do Porto foi apresentada numa galeria do Instituto Superior Técnico, certamente na Associação de Estudantes, por dois jovens artistas, Victor Palla e Júlio Pomar, que realizaram conferências acompanhas por projecções "elucidativas". A revista Vértice, de Coimbra, publicou-as no nº 12-16 , datado de Maio.
Era o final da 2ª Guerra e um tempo de muitas expectativas. Hitler tinha sido dado como morto a 2 de Maio, as suas tropas rendem-se a 6 e sucedem-se então as manifestações populares de regozijo (o seu ritmo diminui a 9).
(Estava em questão a possibilidade de uma "pintura moderna", a inventar e, ao mesmo tempo, ancorada na sua história maior - mas muito claramente sem continuidades nacionais)
Victor Palla, ao transferir-se de Lisboa para o Porto, passara a ser um dos animadores do Grupo de Estudantes de Belas Artes que promovia as Exposições Independentes - a 2ª no Ateneu Comercial de 26 de Fev. a 9 de Março de 1944 - com obras dos tb. estudantes de arquitectura Fernando Lanhas, Nadir (Afonso) e Rui Pimentel, mais Júlio Resende e Amândio Silva e os escultores Arlindo Rocha e Eduardo Tavares. É de 1944 a pequena pintura que vai a leilão com o nº 44, mostrando uma casa, um livro e um acordeão - no catálogo da 2ª E.I. enumeram-se dois Casas - Évora e Casas do Porto.
A 3ª, Dezembro de 44, acontece no Salão de exposições do Coliseu e envolve tb professores e artistas mais velhos do Porto: Dordio Gomes, António Cruz, Augusto Gomes, Carlos Carneiro, Guilherme Camarinha, Laura Costa, Henrique Moreira e até Abel Salazar - num frentismo multigeracional que antecipa as Exposições Gerais de Lisboa, a partir de 46. Rui Pimental já assina Arco (Artista comunista); Júlio Pomar expõe a pintura circular de punho erguido, mas ainda não se usa o rótulo neo-realista nem se expõem abstraccionismos.
São selecções e actualizações dessa mostra que se apresentam logo depois em Coimbra e a seguir no IST, aqui com inovações essenciais que marcam o momento de uma clara afirmação geracional que iria ter sustentação futura e não ser apenas um sobressalto estudantil ou circunstancial. Lanhas é entusiasmado a expor a sua primeira obra abstracta (Violino, depois O1-44) ao lado de insólitas figurações algo metafísicas; Resende expõe O "Pascoal" e Girata; Pomar reincide com o manifesto adolescente, mais Café e Ferros, hoje desconhecido; Palla apresenta Sina, uma pintura de surpreendente ambição para o tempo.
Várias dessas obras tinham já aparecido a público numa iniciativa "unitária" do novo SNI (Secretariado Nacional de Informação - antes de Propaganda), a 1ª Exposição de Arte Moderna dos Artistas do Norte (Fev.-Março). Resende, Nadir, Lanhas ("'Cais' faz abstracção com elementos reais", JP), Pomar e Palla têm presenças destacadas. O último é então situado "entre os que do cubismo partiram em busca duma popição mais objectiva, sem contudo transigir com o naturalismo. Posição, até certo ponto, a mesma de La Fresnaye e de Lhote, dos que reconheceram as vantagens e as insuficiências da experiência cubista" (segundo JP, A Tarde, 12 Abril) - e é Sina que está aí em questão.
As duas conferências da Vértice terão sido um sinal notado de um novo estado de coisas, e logo a seguir o novo ciclo, indissociavelmente político e artístico, vai ter como orgão central o suplemento Arte do diário A Tarde que se publicava no Porto. A sua direcção é assumida por Júlio Pomar, mas Fernando Lanhas e Victor Palla são os outros dois principais organizadores. Palla escreve no nº 1 sobre Manuel Filipe, no nº 4 sobre Guernica (ou o problema da legibilidade), no 7º apresenta o norte-americano Mitchell Siporin. Aí se estabelece, graças às colaborações de Vespeira, Cesariny, Fernando José Francisco, Pedro Oom, etc, uma ponte Porto-Lisboa que era também a ligação a um grupo de estudantes da Escola António Arroio, animadores de actividades até então menos públicas e segundo depois se disse mais vanguardistas, com futuro destino surrealista.
Victor Palla já trabalhava como arquitecto no atelier de Artur Andrade, o autor do Cinema Batalha (a 23 de Abril de 45 anuncia-se a reconstrução do cinema), e participou na instalação da Livraria Portugália na Rua 31 de Janeiro/ ou de Santo António, nº 210, inaugurada a 23 de Março do mesmo ano decisivo de 1945. Para o edifício de 4 pisos Palla faz o projecta e faz a decoração (?) de 4 montras interiores e assegura a orientação da Galeria Portugália. O referido Grupo de Estudantes, que intensificara as actividades culturais extra-curriculares foi depois objecto de sanções disciplinares por iniciativa policial.
A 4ª e a 5ª Exposições Independentes, já com geometrias muito variáveis, iriam acontecer na Galeria Portugália, em Janeiro de 46 e Fevereiro de 48, já sem Palla nem Pomar e ultrapassadas por outras dinâmicas. Ainda se reúne a 6ª em Junho de 50 no mesmo local e em Junho de 49 decorreu em Braga uma evocação antológica da série.
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