Em 1995 o Deutsche Bank apresentou uma exp. de «Pintura Contemporânea Alemã" nas suas instalações frente à SNBA
PINTURA ALEMÃ
Deutsche Bank
(18-03-95 - Expresso/Cartaz: nota no roteiro de exposições)
"Na inauguração da sua nova sede, o DB apresenta uma exp. de «Pintura Contemporânea Alemã» em que se incluem obras dos seis artistas actualmente mais famosos da Alemanha (para lá do caso excepcional de Anselm Kiefer): são eles Baselitz, Immendorff, Penck, Lupertz, Polke e Richter.
A galeria é um espaço polivalente que não promete uma actividade expositiva regular e onde as paredes pintadas de amarelo forte têm uma excessiva presença, mas este é um conjunto significativo que traz informação sobre obras raramente visíveis ou inéditas entre nós: é um panorama internacionalizado e actual que, apesar da intensa mediatização dos artistas alemães, se pode ver sem complexos como uma exp. tão regional como seria uma mostra de portugueses.
As obras de Polke e Richter (aqui com um gigantesco tríptico dedicado ao Fausto de Goethe) têm gozado de um prestígio especial enquanto questionamento da pintura e circulação estilística, mas o seu ecletismo conceptualizante parece ser, afinal, mais a demonstração de um maneirismo do que a afirmação de autorias substantivas. De Penk vê-se uma curiosa série de dez elementos em que a sua tradicional sinalética se questiona como caligrafia plástica, enquanto Baselitz e Lupertz, dois grandes pintores, são representados com peças significativas embora não de primeira escolha. Immendorff está presente com uma tela poderosa, dominada por uma estrela de cinco pontas tomada como símbolo da exclusão política."
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Ao anterior entendimento talvez patrimonial da arte parece suceder a respectiva recusa, ou paródia, e por isso se começa logo por pôr o museu a ridículo com o cartoon de Francis Alys (referência ao MoMA e a obras emblemáticas de Picasso, Giacometti e Duchamp), segue-se com o isqueiro e temos ainda direito à troça de Broodthaers, descontextualizada para inverter o seu sentido inicial histórico.
O "Museu Precário" de Thomas Hirschhorn (com Leger, Mondrian, Malevitch, Le Corbusier, Dali, Beuys, etc) podia não ser mais do que uma graça estúpida, mas é uma provocação inaceitável numa instituição que se respeita. O objecto é para usar e deitar fora, e com ele os grandes (e médios) artistas que o decoram. Ou trata-se ainda de deitar fogo ao museu, como há um século ? A obra é nula, mas aparece como o emblema desta iniciativa. / Podia tratar-se de incendiar o mundo usando por combustível ou referência aos grandes artistas, mas essa lógica política fica prejudicada pelo contexto paródico criado a respeito do museu e pelo contexto específico banco-galeria, além que tal primarismo ideológico é hoje identificado com as piores e mais perigosas derivas políticas. 21/06
A foto da página de jornal de 1995 dá ideia do fôlego (ou só da dimensão?) das obras que então se apresentaram, e ajuda a reflectir sobre uma opção actual onde os formatos se apoucam, os suportes se aligeiram e os artistas se diminuem, no caminho intencional de uma geral irrelevância - de facto "niveladas de forma redutora" contra "o discurso da história da arte", para usar palavras do comissário. A ideia será talvez equiparar uma escolha feita a partir da maior colecção empresarial europeia com o que se mostra habitualmente da produção escolar lisboeta de uma ou duas escolinhas - alinhar por baixo, impedir a distinção, confundir a ambição com o devaneio esquizóide.
Por isso se passa do tema museu (a arte sobre a arte - "uma certa auto-reflexividade sobre a própria prática artística" - , mas em especial a arte sobre a recusa da história da arte) para a nostalgia das vanguardas e o culto ensimesmado dos reinícios primitivistas, com as geometrias simplistas, os sinais mágicos e as figuras narcísicas de Palermo, Lee Byars e Kippenberger (o culto dos pequenos defuntos?). Tudo isto é demasiado provinciano - e só em português (mas com título em inglês - Drawing a Tension) era possível. <<O espaço articulado que vai de Arp a O. C. Jenssen passando pelos Albers desta vez inseguros é uma pequena ilha utópica que se percorre com outra alegria, mas vê-se como um recuo histórico à margem da direcção dominante.
Antes o tal amarelo lá de cima que as tábuas verticais que riscam agora as paredes. Mas, apesar de tudo, lá no fim, encena-se uma curiosa contraposição entre Lupertz e Beuys; entre um pintor que ensaiou uma poderosa reflexão sobre os poderes da imagem - sobre a pintura e com as imagens alemãs - num exigente diálogo com Picasso e com a tradição francesa de Poussin e Corot (lembre-se a retrospectiva de 1991 no Reina Sofia - aqui temos obras simpáticas, mas menores) e as vagas actuações desenhistas de um personagem mitificado. E num episódio feminino, em que Eva Hesse é sub-representada, ou mesmo mal reprentada, note-se a aparição de Maria Lassnig, pintora pouco conhecida que se enfrentou com o retrato e a presença do corpo. Aqui só comparece em versão anedótica, mas mesmo assim faz-se notar.
E para quê uma enésima ilustração do uso grelhas modernistas, com Barateiro (!), Leonard e A.Thomkins? É tudo tão académico.
<<E porquê cobrar bilhete? numa exposição tão pouco atraente - e tão pouco frequentada...
( sei que se deve elogiar ou calar, mas )
ok... obrigada por esta crítica :-)
Posted by: Luisa | 06/20/2008 at 11:30