O "Público" de domingo - dia 20 - dedicou um grande trabalho duplo (1º e 2ª cadernos, vão-se lá perceber quais os critérios editoriais) aos 25 anos do Centro de Arte Moderna e ao que seria a sua cinzenta inoperacionalidade actual?*. Para além do péssimo retrato do fotografo em acumulação também se percebe que a administradora Teresa Gouveia contou na antiga SEC com um conjunto de técnicos que contribuiram para o boa memória que deixou - na FG faltam-lhe esses colaboradores (ou não os ouve, e as entrevistas em Londres só a baralham).
Para quem coloca a competência da administração pública abaixo da privada, está aqui (como no BCP e noutros muitos lugares) exemplo contrário. O pântano ameaça em qualquer o lado.
Mas a questão decisiva é que enquanto se discute Molder, Costa Cabral e Gouveia, e nos vamos afundando com eles, estamos a perder a possibilidade de conversar sobre um muito pouco interessante escultor brasileiro que ocupa por seis meses (!!) toda (!!!) a grande nave do CAM, um tal Waltercio Caldas (quem?), ao tempo em que pela pequena sala também passam pequenas curiosidades (porquê?), e a galeria da sede se ocupa com uma muito débil escolha de uma poderosa colecção alemã, recoberta por um nome em inglês pateta. Tudo vazio claro, até porque se pede 4 € em cada uma sem haver razões para lá entrar - não é a crise, é a ausência de estímulos e de razões. (Mas, apesar de tudo, a montagem temporária da colecção permanente tem vários motivos de interesse <e alguns lugares fluentes, numa acertada opção de expôr muita coisa em pouco espaço - dia 22>.)
Não há público, porque o afastam com escolhas impróprias. O caso é geral. Na Culturgest também não há e, para dar outro exemplo, o conjunto das exposições do Ar.Co não ajuda ninguém a manter o antigo hábito de percorre exposições. Aliás, nas galerias também não há público, há só clientes (muito poucos). E, claro, vai sempre havendo algum "público especializado" nas inaugurações, o que faz parte do sistema ou espera lá entrar.
O trabalho do "Público" é, pelo que diz e pelo que silencia, um bom momento cultural (<no terreno da cultura impera o jornalismo reverente e obrigado, enquanto nos da polkítica ou do desporto predomina a imaginação>). Mas mitifica bastante o que foram os primeiros anos do CAM (depois da vinda da colecção do Museu de Eindhoven em 1984, e da excepcional exposição "Diálogo" em 1985, esta bastante criticada na sua vertente nacional).
Sem programa e com escassos meios, Sommer Ribeiro foi tentando fazer o melhor que sabia e podia. Não foi isso que se quis fazer a seguir.
Pp. 2/3, Destaque / Arte contemporânea / Que futuro para uma instituição que marcou os anos 80 e 90? / Gulbenkian não celebra 25 anos do seu Centro de Arte Moderna / A 20 de Julho de 1983 o CAM abria com Amadeu de Souza-Cardoso**. Mas no fim da primeira década do século XXI, vive dias de indefinição. Por Vanessa Rato
Pp 10 e 11 P2, O Centro de Arte Moderna visto por três artistas (Joana Vasconcelos: "Uma referência a que hoje falta dinâmica" / André Romão: "Foi pioneiro, agora é pouco ágil" / Rui Sanches: "Colecção única num centro fora do circuito internacional")
** Amadeo mostrou-se na sala de exposições temporárias. Na abertura do Museu do CAM mostraram-se três colecções: pintura nacional desde 1911 (a data da "Exposição Livre" de oito jovens artistas que estudavam em Paris) aos dias de então; uma selecção de obras estrangeiras, incluindo Vieira da Silva; desenhos na galeria inferior
http://alexandrepomar.typepad.com/alexandre_pomar/2007/06/veneza_1997.html
''Nas representações nacionais presentes em Veneza, podem destacar-se, em função da notoriedade internacional dos artistas presentes e entre as mais numerosas presenças «excêntricas» , as seguintes:...
Brasil, Jac Leirner e Waltercio Caldas;..''
(quem????)
Posted by: f | 07/22/2008 at 12:05
Pois é, o W. Costa era incluído numa lista de nomes conhecidos e circulantes, apenas isso. Mas obrigado ao leitor atento e anónimo por vir confirmar que o google search funciona bem.
Posted by: ap | 07/22/2008 at 19:26
Registo o facto de que o CAM teve condições para ser o primeiro centro de arte português verdadeiramente interdisciplinar (fusão Acarte/CAM em 99 e seus antecedentes), mas nunca chegou a sê-lo (nem o CAM nem nehum outro). Uma entre muitas oportunidades perdidas de um espaço onde apetecia estar e onde o tempo parecia que fluia mais devagar.
Posted by: Luís Costa | 07/23/2008 at 01:54
De facto a história do CAM/FCG tem vindo a revelar um triste e
progressivo apagamento. Infelizmente, não muito diferente de
tantas outras instituições culturais em Portugal. E parece que
também na FCG a "tendência" economicista dita as regras e serve
de justificação ou subterfúgio para a ausência de estratégia e
a falta de ousadia.
Quanto aos públicos, no que se refere às "escolhas impróprias"
das instituições, com salas-às-moscas, tenho esta dúvida: não
serão também os débeis hábitos culturais dos portugueses que
determinam este estado de coisas? Não serão também as instituições
um reflexo do alheamento e da apatia dos públicos?
Posted by: Ultraperiférico | 07/23/2008 at 13:24
"um tal Waltercio Caldas (quem?)"
Tomei a liberdade de enviar a sua citação para alguns pintores brasileiros.
Recebi as mais variadas respostas. Em comum o seguinte:
"Alexandre Pomar (quem?)"
"Um oceano inteiro para nadar" não é?
Posted by: cm | 07/25/2008 at 01:48
Os pintores brasileiros referidos por CM, que pintores portugueses conhecem? "Um oceano inteiro para nadar", sim, do Brasil para cá. De cá para o Brasil, há séculos que o oceano anda a ser nadado.
Posted by: Victor L. | 07/25/2008 at 23:54
Penso que a situacao actual se deve a um pouco de tudo o que foi referido.
No Brasil tambem nao devem conhecer todos os artistas portugueses, ou a realidade artistica portuguesa.
Ha' omissoes de parte a parte.
O que se passa e' a exposicao ter "aterrado" em Lisboa, quase que sem aviso. Uma retrospectiva do trabalho deste artista poderia ter sido uma solucao mais adequada e depois dessa haveria alguma base para se partir para um trabalho deste genero, mais especifico.
Coloco mais a questao em relacao a este artista, sem menosprezar o seu trabalho, dentro do plano da criacao de novos publicos dentro do CAM.
Ao mesmo tempo esta exposicao podera' ser o despertar da curiosidade do publico que se desloca aquele espaco, para conhecer com mais profundidade o trabalho deste artista - que em todo o caso e' parcial, que como tive a oportunidade de ler num "artigo Lusa" (oportunamente aparecido neste momento - falo da conferencia da CPLP e os investimentos brasileiros no Pais; e espalhado por todos os orgaos de informacao e instituicoes idoneas ver por exemplo: http://corp.millenniumbcp.pt/pt/public/InformacaoeGestao/Noticias/Pages/Sociedade.aspx?idNews=34a022a1-e280-4884-add0-98a26832b01a ).
Mas qual e' o impacto que se espera da exposicao? Sera' que esta exposicao sera' marcante tanto para o publico, como para o artista? Como podera' ela influenciar o publico, ou mesmo a producao artistica nacional?
Nao penso que o artista mereca ser considerado culpado. Todos os artistas sao validos.
Mas existe um problema identitario. Poucas pessoas o conhecem (salvo raras excepcoes, como se pode reparar pelos comentarios), um pouco por culpa nossa (dos faladores de Portugues), por nunca termos conseguido criar canais de comunicacao entre os varios paises. Faltam-nos mais referencias. O Brasil tem muitos bons artistas, que pela forca das circunstancias nos passam despercebidos.
As proprias referencias que os novos artistas portugueses tem, nao criam qualquer ligacao ao outro lado do oceano, a nao ser que estejamos a falar dos Estados Unidos.
Em todo o caso, apostar no trabalho deste artista e documenta'-lo devidamente podera' ajudar a apagar alguns erros do passado.
Tambem e' bom ver que existem galerias que tambem tem investido no mesmo tipo de aproximacao - falo da Galeria Graca Brandao, que apresentou o trabalho de Lygia Pape, em Lisboa, por exemplo.
Ha' muito oceano para nadar, realmente, mas em primeiro lugar e' preciso haver vontade de todas as partes (nao ha' so' Portugal e Brasil, mas muitos outros paises, como Angola, Mocambique, S.Tome' e Principe, e outros).
Posted by: Pedro dos Reis | 07/26/2008 at 18:56