na capa (nº 4, Setembro 1937), foto de Luiz Serra Henriques, um dos fundadores da Instanta
"Gigas" (Costa de Caparica), Dr. Álvaro Colaço, nº 7, Dezembro 1937
"Gradando", de A. Lacerda Nobre, nº 1, 15 de Junho de 1937, pág 13
Moderna, pelo menos no seu projecto e ao longo do primeiro ano de publicação, porque respondia a uma evolução significativa das práticas sociais fotográficas, em especial com a vulgarização das câmaras de 35 milímetros (Leica, Contax, etc) e a multiplicação dos estabelecimentos de artigos fotográficos acessíveis a camadas mais largas, ampliando e transformando uma anterior noção elitista de "amador"; moderna também, porque aí se defenderam novas orientações da arte fotográfica, assentes na ideia da "fotografia pura" e no culto do instantâneo (o flagrante), contra os anteriores "processos artísticos" – fazendo também uma inflexão em matéria de "assuntos", com mais atenção à "vida" e à "natureza", e em especial às imagens quotidianas do trabalho popular. Penetrando as fronteiras do banal, como logo apontaram alguns articulistas vigilantes quanto às altas intenções da Arte.
Mas de facto "os trechos da vida do povo nos campos, mulheres na labuta, na eira, na ceifa..." já entravam na "sábia escolha do assumpto" de uma Maria da Conceição Lemos de Magalhães elogiada em 1910 na Illustração Portugueza. Não é fácil, por vezes distinguir o naturalismo, de gosto sentimental e pitoresco, mais do que pictural, de alguns populismos e realismos mais ou menos poéticos posteriores.
"Escolha da sardinha", de A. Lacerda Nobre, 1935 (nº 1, pág. 3)
A inauguração da Instanta, "moderna casa de artigos fotográficos", "especialistas do pequeno formato", ocorreu em Agosto de 1937, mas desde o 1º número (15 de Junho) que ocupava com publicidade a pág. 2 da revista (o que continua até ao fim desse ano). Um dos seus fundadores, Luís Serra Henriques, é também colaborador da Objectiva, publicando uma fotografia na capa do nº 4, de Setembro. Mais do que coincidência, a ligação entre os laboratórios e agentes comerciais da fotografia e a arte fotográfica dos amadores (e de vários profissionais) ao tempo da entrada em pleno do "pequeno formato" (o "24 x 36 mm", que é tema de artigo no 1º nº) será talvez uma razão para a mudança. Revista técnica, maioritariamente preenchida por artigos sobre aparelhos, materiais e processos fotográficos, em grande parte dirigidos a principiantes, ela pretende ultrapassar o ensimesmamento associativo dos foto-clubes para procurar um público mais vasto.
Para além do que se reflecte nalguns textos editoriais críticos do anterior estado de coisas, vão ser as iniciativas tomadas pela revista que definem, ou pretendem definir, novas atitudes: a criação de um "Laboratório Fotográfico de Estudo e Prática", a funcionar na respectiva sede, e o projecto de um Estúdio Português de Cinema de Amador (Nov. 1937); o lançamento de um "1º Concurso e Exposição de Estudo Fotográfico" (Dez.), logo no rescaldo do I Salão Internacional (V Nacional) de Arte Fotográfica do Grémio Português de Fotografia.
No segundo ano da revista, em 1938, com a aproximação das comemorações dos Centenários, as orientações menos conservadoras iriam ser sujeitas ao reforço do controle ideológico do regime. O artigo do Padre Moreira das Neves no nº 12, de 1 de Maio de 1938, "A Contribuição da Arte Fotográfica nas celebrações do Duplo Centenário da Fundação e Restauração de Portugal" , pág. 188, é já uma expressão evidente dessa involução. E a seguir, ao longo dos anos 50, o inspector Rosa Casaco ocupará demasiado espaço nos círculos salonistas, mas sem que estes se identifiquem liminarmente com oa tutela salazarista.
Manuel Alves de San-Payo - um dos mais assíduos colaboradores da revista (crítico de exposições e de cinema) -, Silva Nogueira, João Martins e o P. Moreira das Neves são os articulistas do 1º ano de publicação que conservam hoje alguma notoriedade.
Mas são de facto o Dr. Álvaro Colaço* e o director de Objectiva, Artur Rodrigues da Fonseca, os nomes preponderantes e que se identificam com as ideias de renovação. O segundo é também fotógrafo, embora o autor mais interessante seja sem dúvida o Dr António Lacerda Nobre, responsável pela primeira capa e por mais seis fotografias publicadas nos 12 nºs iniciais.
(A. Sena diz que "as fotografias de A. Lacerda Nobre são uma excepção na monotonia das imagens que se publicam ou expõem nos sucessivos Salões...", pág. 253**, e chama à Objectiva uma "importante e influente revista", mas ao mesmo tempo refere-a logo como "ligada ao Regime instituído" e "privilegiando a fotografia anedótica tão característica dos Salões". Passa de imediato a transcrever o artigo de Moreira das Neves. Convirá fazer uma leitura mais lenta e atenta destacando um período de polémicas em 1937/38.).
* Álvaro Colaço é citado por A. Sena nas pp 234 e 238, enquanto expositor na SNBA em 1931 e fundador do Grémio no mesmo ano.
** António Lacerda Nobre é tb referido na exp. "Uma viagem através de Portugal", org. O Século, 1936 (pág. 246). E apenas nestes dois casos. (Ver os salões do Grémio desde 1932)
(revisto a 28 de Julho 2008 e a 7 de Março 2009)
os fotógrafos referidos:
Dr. Álvaro Colaço, Artur Rodrigues da Fonseca, Luís Serra Henriques, João Martins, A. Lacerda Nobre, Silva Nogueira, (Manuel Alves de) San-Payo
Maria da Conceição Lemos de Magalhães (1910)
Nº 1
"Revista Técnica de Propaganda e Divulgação da Arte Fotográfica e Cinematográfica de Amador", proprietário e editor António de Oliveira Paes, director A. Rodrigues da Fonseca,quinzenal (1 e 15 de cada mês), 2$50.
gostava sinceramente (sinceramente) que demonstrasse. dizem os princípios "cudos" da boa prática científica que se deve duvidar antes de...
;)
Posted by: tomé | 07/15/2008 at 23:17
Desculpe lá, mas isto ainda estava por desenvolver. E espero poder continuar.
Posted by: ap | 07/16/2008 at 02:16