Atrasei-me demasiado - desde 6 de Junho! - a ir ver a exposição "Antologia Experimental" do José Manuel Rodrigues no Palácio da Inquisição em Évora. Comissariada por Rui Oliveira e apresentada pela Fundação Eugénio de Almeida.
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Agora, apesar do calor (mas lá dentro não há calor), tenho de voltar e também de esperar que o encerramento anunciado para 31 de Agosto se atrase um mês.
O catálogo ainda não saiu (mais 8, 10 dias), a informação* sobre a exposição circulou pouco e esta exposição não se vê com pressas: não é tudo igual ou repetido e não há imagens indiferentes.
E engana-se quem disser que já viu, já conhece. As condições de montagem (também e/ou em especial graças ao Rui Oliveira) são magníficas e criam novas pistas de entendimento para uma das mais importantes obras que por cá se fazem, de fotografia e não só (que se fez também pela Holanda, antes e depois do regresso a Évora, em 1993). Ao associar obras antigas e actuais, ou ao restabelecer, nalguns casos, as originais condições de apresentação (anos 70/80) e, noutros, ao inventar diferentes condições de instalação (ou de reeedição) dos originais, as surpresas são muitas e tb a necessidade de entender doutro modo o que se viu antes noutras apresentações. Reeditar, reciclar, transformar são operações que a fotografia torna possível e que aqui ganham uma plena justificação.
três fotos furtivas e péssimas só para se ver que a instalação das fotografias e a construção de objectos e esculturas fotográficas é sempre uma surpresa
aqui há melhores imagens: http://aervilhacorderosa.com/blog/2008/08/fotosensivel.html
(Dá para perceber que esta exposição não tem nada a ver com as chatices oficiais e académicas que dominam as instituições artísticas de Lisboa, e que foram construindo o justo desinteresse dos visitantes, transformando-o em não público. Aqui vale a pena arriscar entrar, e pagar os dois € do bilhete (os folhetos referem 1 €, mas...).
TODOS OS DIAS DAS 9H30 ÀS 18H30
http://fundacaoeugeniodealmeida.pt/agenda_detail.asp?ID=24
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Também está em Évora, na anterior galeria da Fundação, outra exposição de um grande artista: Léger. São 78 desenhos, guaches e gravura, mas desta vez não vi. A urgência era outra.
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Texto de parede à entrada do Palácio:
fotográfico de José M. Rodrigues explorando relações múltiplas entre
fotografias das últimas duas décadas e o trabalho experimentalista realizado
sobretudo na década de 1980, período em que o artista, então a residir na
Holanda, manteve estreitas ligações com os movimentos de vanguarda do centro da Europa.
que não saberia viver sem fotografar. Uma confissão apaixonada de quem
fotografa de corpo inteiro e para quem o experimentalismo foi uma zona de
pura respiração, que cruza até hoje com as práticas fotográficas clássicas.
Ao contrário dos escultores ou pintores que afirmam utilizar a fotografia para
dizer aquilo que não poderiam dizer de outro modo, José M. Rodrigues tem
utilizado outras linguagens - instalação, objectos tridimensionais, vídeo,
performance - para explorar e aprofundar aquilo que pretende dizer como
fotógrafo.
Mais do que um trabalho implicando a diluição de fronteiras entre
a fotografia e as outras disciplinas, trata-se fundamentalmente de uma fusão
de linguagens ao serviço da fotografia.
Este aspecto talvez deva considerar-sea principal originalidade do seu percurso experimental, por comportar uma misteriosa unidade contida na diversidade, a par de factores de irreverência
que o artista subordina ao sentido da ordem. José M. Rodrigues toma como
suas as palavras do pintor George Braque: "Amo a regra que corrige a emoção,
amo a emoção que corrige a regra".
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Antologia Experimental: José Manuel Rodrigues
“Apresenta-se nesta exposição um dos nomes maiores da fotografia portuguesa contemporânea de projecção internacional, com uma vasta obra reconhecida e distinguida com vários prémios, entre os quais o Prémio Pessoa 1999.
A natureza especial deste projecto expositivo, site specific, resulta sobretudo da relação profunda entre a obra de José M. Rodrigues - vista e interpretada pelo Comissário -, e o espaço onde ela se apresenta. Foi esse o desafio colocado a Rui Oliveira, que soube tirar partido das particularidades arquitectónicas e espaciais do Palácio da Inquisição para desenhar um percurso onde todos os olhares se cruzam.”
in folheto de apresentação da exposição de José Manuel Rodrigues, Fundação Eugénio de Almeida
“É preciso ver com os olhos por detrás da cabeça”
José Manuel Rodrigues
* (os jornais ou revistas não se deslocam, os críticos não arriscam, as invejas pesam (um Prémio Pessoa!?), os circuitos do academismo estão entrincheirados e atentos na defesa dos seus medíocres ídolos - porque havia agora de ser diferente?, a História afinal não acabou...)
Visitei várias vezes esta exposição de J.M.Rodrigues, Antologia Experimental. Parece-me surpreendente que os órgãos de informação não lhe tenham feito, que eu saiba, qualquer referência até agora. Felizmente deparei-me com estes seus posts.
Posted by: Victor L. | 08/10/2008 at 00:56
Obrigado pela visita guiada, Alexandre.
O que me fascina no trabalho de JMR e' sobretudo o lado experimental.
A fotografia, pela sua "facilidade" de criacao e' um meio que se da' a isso, mas que JMR expande ao usar outros meios.
Apercebo-me que nao existe propriamente uma necessidade de "invadir" outros territorios, mas sim o de continuar um processo que parte da imagem e que e' genuino.
Espero que tanto a exposicao, como o catalogo sirvam para impulsionar tanto o trabalho de JMR, como tambem o de criar uma consciencia relativamente 'a Fotografia que se faz em Portugal.
Ha' uma tendencia de se seguirem certos padroes (esteticos, tematicos, academicos) que vem de fora, sem se explorar um pouco a realidade que vivemos ou de a experimentamos na primeira pessoa.
Esta exposicao parece contrariar essa tendencia. Seria bom que outros o seguissem num verdadeiro trabalho de pesquisa pessoal. Parece existir essa coragem intrinseca (um trabalho que vem de dentro) nas imagens e "experiencias" que vi aqui no blog.
Nao sao apenas imagens bonitas. Existe todo o lado intuitivo do olhar do fotografo sobre o meio que o rodeia, ainda que nao seja puramente autobiografico ou documental.
E' pena estar tao longe... mas procurarei o catalogo, quando ai estiver.
Posted by: Pedro dos Reis | 08/27/2008 at 13:15