Fazer 100 anos não é uma qualidade, e às vezes envelhece-se mal. É só um nº redondo, mas será este uma facilidade jornalística ou quer dizer alguma coisa em matemática? - segundo a wikipédia, O conceito de número redondo é mais lingüistico que matemático...).
Henri Cartier-Bresson era um velho tonto quando se meteu em guerras perdidas contra a modernização da Magnum, contra as cores e contra o Martin Parr e o Luc Delaye em particular.
Quando se pôs a expor (desde 1975) e depois a publicar em livro os seus desenhos do natural parecia não estar já com grande bom-senso (entretanto ia repegando na câmara para umas encomendas bem pagas, como a operação de Beirute), porque esses desenhos, demasiado esforçados, eram levados excessivamente a sério. O exercício fará bem a toda a gente e parece-me ser uma indispensável prática para a aprendizagem e a sobrevivência dos artistas visuais (voltar a olhar para fora, exercitar a mão, adequar a mão e o olhar, como o ponteiro do sismógrafo), mas HCB devia ter percebido que os seus esforços só tinham interesse privado. Talvez a culpa fosse do Jean Clair que prefaciou o álbum "Trait pour trait", ed. Arthaud, 1989.
E no entanto o seu auto-retrato de 1984 é comovente...
Avigdor Arikha, amigo de HCB (e de Giacometti) e especialista em desenho e em pintura do natural (para mais, alla prima, sem estudos prévios e em sessões únicas), era quem sobre ele melhor escrevia - sobre fotografia:
"Dir-se-ia que traz um compasso no olho. Cada imagem fotografada por HCB é rigorosamente definida pelas suas proporções, a sua dinâmica e a repartição dos seus negros e brancos. Os temas aparecem-lhe milagrosamente, como por encomenda. Aparecem-lhe formulados por antecipação. Porque, como a águia, o seu olho, um olho de pintor, está alerta. Porque ele vê num qualquer tema aquilo que o torna um tema e, visto assim, nenhum tema é indiferente." (1988, pelos seus 80 anos - mas tema não é o mesmo que "sujet")
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Não gosto de centenários, mas já passaram dois dias. Foi o Sérgio Gomes (http://blogs.publico.pt/artephotographica/ que veio lembrar as datas (03-08-1908/22-08-2004), com uma magnífica fotografia de 1933 e um retrato olímpico (do lugar dos deuses). E é Leonor Fini, a pintora, quem se banha - e há pelo menos duas outras fotografias, com e sem acompanhante, que prolongam ou multiplicam neste caso o tal momento decisivo, que é em geral mal entendido: questão de geometria (como diz Arikha) e não de relógio.
(Aparecem aqueles banhistas no livro de Peter Galassi - Henri Cartier Bresson: Premières Photo. De l'objectif hasardeux au hasard objectif (a objectiva ocasional ou o acaso objectivo), Arthaud 1991, que começou por ser um catálogo do MoMA de 1987.)
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Ver em
http://www.henricartierbresson.org/
programa de exposições e colóquios do centenário
Ola' Alexandre!
Verdade. Matematicamente 101 anos sao mais interessantes que 100, pois sao um numero primo.
Em todo o caso, independentemente da matematica e' legitimo haver uma boa desculpa para se homenagear Cartier-Bresson.
Independentemente das guerras onde se meteu (se calhar ate' tinha razao em algumas delas... mas isso e' outro assunto), o mais importante foi o "olhar" que ele deixou.
O "momento decisivo"; a escolha que fez da maquina com que fotografava, como se fosse uma extensao do seu proprio olho; o uso do preto e branco; a criacao da Magnum com outros fotografos do seu tempo - foram os seus maiores legados (posso ter-me esquecido de algum, atencao) e que ajudaram a cimentar uma epoca para a Imagem e a desvendar muitas das vezes um mundo que passa quase despercebido aos olhares normais.
Passou a nao se-lo apos as fotografias de Cartier-Bresson terem sido reveladas ao mundo.
Posted by: Pedro dos Reis | 08/26/2008 at 19:39