Palácio da Inquisição, a primeira sala que se vê ( 02- "Corpo e alma")
é uma aproximação à obra do JMR centrada no retrato (no auto-retrato, no corpo), com
trabalhos que vêm de 1981 até ao presente: as duas pequenas versões
vintage, com olhos fechados e abertos, da rapariga com a concha fotografada no
claustro do Museu de Évora
(Évora 1981, capa de "A Viagem", de 1983, e
chamavam-se então "O Sonho Marítimo"), onde se instabilizam as
orientações espaciais, tornando mais misteriosa a presença da figura,
como uma revelação em que se alteram todas as imagens canónicas de Venus;
o casal nu embrulhado nos seus invólucros separados, de Amsterdão 1983,
à direita, passando do retrato à encenação performativa, e aqui da vida à
morte, ou ao sono, numa prova agora de grande formato. À esquerda um
dos retratos a cores, invertidos e digitais da série "Solo", 2005.
Numa obra em que o auto-retrato tem uma presença muito insistente (como espelho narcísico e como interrogação do acto fotográfico), o retrato do outro, igualmente importante, é sempre uma procura da maior intimidade possível, por todos os meios possíveis.
Noutra sala, um objecto fotográfico dotado de movimento (o olho giratório, o relógio) e algumas fotografias recicladas ou reapresentadas em novas condições de visibilidade, e com novos sentidos. Trabalhos originais, alguns agora redescobertos, e novas impressões, novos formatos, montagens em sequências e com diferentes instalações
À esquerda, Ao Vento, de 1982 (fotografia-objecto original, numa caixa com ventoinha; experiência da literalidade da representação e/ou de recusa da imagem fixa); depois,
a série das bolas que saltam, Amsterdão 1982, numa montagem inédita em sequência, e à direita uma grande composição que agrupa imagens de plantas (paredes ou texturas vegetais) dando uma nova eficácia a paisagens "abstractas", algumas já vistas e outras inéditas.
Reciclar imagens, sujeitá-las a novas disposições ou sequenciações é uma das estratégias desta antologia - e, aliás, já presente em menor grau em diversas exposições anteriores. Por vezes como resposta ao espaço de apresentação e como experiência das imagens no espaço, no prolongamento da atitude experimental do autor. A começar pela grande ampliação aumentada de uma imagem já vista em formatos e orientações diferentes - um beijo de Narciso intitulado Garvão 1996 na antologia da Culturgest, nº 50, impresso ao baixo; sem título e ao alto no cat. de S. João da Madeira 1997 - que agora se vê logo no átrio de entrada por trás de uma porta de vidro, que foi uma solução de recurso e também de grande efeito visual.
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