Lá para baixo fica o mapa da exposição com as suas oito salas, corredores e acessos, que constituem um itinerário experimental - uma experiência rara de exploração de uma obra e de um espaço - criado para uma antologia expressamente dedicada ao carácter "experimentalista" da obra do JMR.
Divergindo de variadas maneiras da fotografia canónica (a superfície impressa), essa é uma direcção mais presente num período particular do seu trabalho (anos 1982-86), em objectos fotográficos e nas performances, mas tem antecedentes em anteriores trabalhos (desde 1972 - fotografias encenadas e "acções", impressões "irregulares" ) e foi reanimada recentemente em novos objectos, em instalações fotográficas e em remontagens de trabalhos anteriores.
"Solo a Solo" (0.9). Retratos sobre o chão (diferentes chãos). A "verdade" do rosto, a intimidade do retratado, a cumplicidade do modelo, o fotógrafo como predador. As normas do retrato postas à prova - a passagem à cor e à impressão digital finalmente conquistadas.
Já vi esta coisa algures....um pintor alemão tb expõe de pernas para o ar. Por isso gato por lebre não Mr Rodrigues....ok???
Posted by: manuelrialto | 08/23/2008 at 14:20
Nem Baselitz nem Rodrigues (no caso dos retratos da série "Solo") "expõe(m) de pernas para o ar". E não foram os primeiros nem os últimos a inverter retratos. O pintor pinta ou desenha as suas figuras invertidas para distanciar as referências ou afastar a respectiva identificação, para apagar ou tornar indiferente o motivo, dando a ver a pintura apenas (o pictural, o quadro como imagem, etc). JMR, pelo contrário, procura tornar mais intensa a procura da "identidade" ou mesmo da verdade do seu modelo, através de uma radical alteração do que é a pose habitual face ao fotógrafo. O modelo está deitado sobre um chão exterior e a câmara está sobre ele a muito curta distância. A cumplicidade e a disponibilidade dos modelos, a interacção ou performatividade do retrato - o balanço entre zonas de extrema nitidez e imprecisão das superfícies, e o tratamento digital da cor - fazem destes retratos o oposto da indiferença. É pena que pense baixo para rir alto.
Posted by: ap | 08/23/2008 at 15:35
A questao da originalidade da representacao e' sempre questionavel, especialmente num meio como a fotografia.
A maquina fotografica captura o real e como tal, se nao houver uma recorrencia a processos de pos-producao digitais, aquilo que se ve e' aquilo que o fotografo compos no momento (ainda que possa posteriormente fazer ligeiras correcoes).
O valor destas imagens nao esta' no valor unico da imagem invertida, mas no conjunto das imagens - uma mensagem que ultrapassa o valor individual de cada uma.
Se a mensagem que o fotografo procurou aqui foi a questao da identidade captada normalmente pelo fotografo nao me parece que a comparacao seja a mais apropriada.
Gosto muito da forma como as fotografias do tempo de Diana estao expostas. Gosto da ideia do fragmento.
Como se a imagem fosse um espelho que tivera sido partido em pedacos e espalhada pela parede - e' quase um poema.
Posted by: Pedro dos Reis | 08/27/2008 at 13:48
Esqueci-me de acrescentar que a inversao do retrato demonstra outra das propriedades da imagem fotografica - a composicao nao acaba na captura do momento, mas tambem apos o processo de ampliacao.
A producao da imagem e', ou deve ser, um processo em varias fases; em que a visualizacao da imagem por parte do autor (com a auto-critica) e' tao importante como o que levou o autor a cria'-la, no primeiro instante.
Posted by: Pedro dos Reis | 08/27/2008 at 14:03