o retrato (Self-control / Auto-domínio, 1983)
as gavetas da memória, álbum de retratos (... )
a homenagem (a máquina de escrever Lettera 22 de Ernesto de Sousa)
Há várias antologias possíveis da obra de José M. Rodrigues. Esta antologia concebida por Rui Oliveira e que se mostra em Évora investigou e reuniu uma direcção experimental em que a construção de objectos fotográficos ou relacionados com a fotografia e com o cinema assume uma especial importância - poderá chamar-se-lhes foto-esculturas. São objectos raros, únicos, que não se constituem como um género ou uma linha de produção, de múltiplos ou variantes (em muitos casos, feitas as "experiências", o experimentalismo estabelece-se como um estilo). Esses objectos atravessam fronteiras entre disciplinas para interrogar e pôr à prova a natureza da fotografia e as suas condições de visibilidade ou de eficácia. O happening e a performance (através dos seus registos fotográficos, dos seus restos), a instalação (a construção de ambientes, para além da exploração das possibilidades de montagem das obras, o que é outra coisa, embora próxima), e ainda o cinema ou vídeo são outras direcções muito presentes nesta exposição.
Outras antologias poderiam isolar o trabalho documental, tanto de carácter topográfico (a paisagem) como antropológico (em especial, os levantamentos levados a cabo no Alentejo, e em Cabo Verde), sem esquecer a fotografia de arquitectura; ou, pelo contrário, incidir na abstracção fotográfica, que é sempre menos formalista do que simbólica (os elementos, a natureza viva, plantas e corpos, o tempo). Ou ainda isolar como tema a intimidade pessoal, uma vida fotografada, ultrapassando a divisão entre auto-retratos e retratos.
Poucas obras fotográficas são tão extensas e tão variadas, e tão competentes nos vários géneros em que se podem catalogar - sem incluir, porém, a fotografia de acontecimentos, a reportagem, o documentário social mais imediato ou directo. E poucas obras expõem tão claramente a contiguidade que pode existir entre géneros e entre práticas; entre fotografias do real e do imaginário; entre observação e encenação.
A dimensão experimental pode ser uma evocação ou assimilação das vanguardas históricas (a homenagem a Man Ray, por exemplo), enquanto ruptura com produções conformistas. Não é, no entanto, e felizmente, o neovanguardismo como paródia triste de a reapropriação de uma retórica política (dita vanguardista) que em geral recobre práticas ensimesmadas numa sequência do formalismo mais exangue em versão conceptualmente auto-referencial (a arte sobre a definição do reducionismo estético). O princípio abstracto da indistinção entre a arte e da vida - que é tantas vezes uma petição de princípio vanguardista, ou uma legitimação de objectos indiferentes - é aqui substituído por uma real dimensão autobiográfica: os retratos das mulheres, dos filhos, etc. E em especial por uma dimensão performativa que inclui a acção colectiva, a encenação e a precaridade ou desaparição dos objectos produzidos.
Entretanto, se de uma experiência se esperam resultados que comprovem ou impugnem uma hipótese, experimenta-se para chegar a algum lado, do experimentalismo de JMR resulta não a repetição de atitudes e de ensaios, mas o encontrar de formas próprias e diferentes de fotografar a natureza, as coisas e as pessoas. As suas fotografias "convencionais" (planas e singulares) são também experimentais.
Foi pena que a critica jornalistica (apesar das *) nao tivesse sabido passar a importancia da exposicao para os leitores, nem referencia'-la devidamente.
Fica no entanto o registo, que e' igualmente importante.
Ha' referencias que o Alexandre fala que colocam o trabalho no "mapa", sem no entanto justifica'-lo completamente.
Percebe-se a densidade e o alcance que o fotografo usa para se expressar.
Gostei das esculturas e outras incursoes por territorios semi-distantes da Fotografia (e das referencias mencionadas) e do facto de nao serem meros acasos experimentais. Ha' claramente uma mensagem, que se traduz numa visao individual.
Posted by: Pedro dos Reis | 08/27/2008 at 13:58