Fotografias do livro "As Mulheres do meu País", de Maria Lamas, 1948-50
Furadouro (a chegada do peixe à praia - "(...) as mulheres, em grupos, separam os seus lotes e discutem em altas vozes, galhofeiras ou azedas (...) ", pág. 344
São Pedro da Cova, pág. 375
"Trabalhadoras das minas em plena juventude. (...)" S. Pedro da Cova, pág. 377
"Jovens trabalhadoras das minas de São Pedro da Cova". Pág. 372
"A obtenção de fotografias, confessa, foi uma das maiores dificuldades que encontrou, pois queria-as "verdadeiras, expressivas, com valor documental e inéditas". Acabará por assumir-se como repórter fotográfica, num trabalho pioneiro." - O Primeiro de Janeiro, Porto, 28 de Abril de 1948 (entrevista com Maria Lamas na pág. "Das artes e das letras")
"Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa". "Ler - informação bibliográfica", Publicações Europa-América, Maio-Junho 1948, pág. 10
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Na exp. documental e bibliográfica que a Biblioteca Nacional dedicou a Maria Lamas, em 1993, não se incluiram as suas fotografias, a julgar pelo catálogo. Maria Antónia Fiadeiro, na biografia editada pela Quetzal, em 2003, aponta Maria Lamas como uma repórter fotográfica pioneira.
Na História de António Sena, Porto Editora 1998, não há referências à autora e ao seu livro. No entanto, a importância do volume é pelo menos dupla, considerando-se a produção fotográfica própria (que nunca foi objecto de qualquer exposição, ao que julgo) e a vasta recolha de fotografias de autores muito diversos (quase sempre identificados), desde Alvão, Foto Beleza ou Artur Pastor até Adelino Lyon de Castro, José Loureiro Botas, Firmino Santos (?), passando por amadores e estúdios regionais como Álvaro Laborinho (Nazaré), D. Espanca (Évora), Perestrelos (Madeira). Muitos outros serão já de improvável identificação, referidos como F. Rocha, A. de Sousa, M. Carneiro, A. Fidalgo.
desenho de Fernando Carlos, capa de fascículo
O livro "As Mulheres do meu País" publicou-se em 15 fascículos mensais entre Maio de 1948 e 15 de Abril de 1950, com uma estrutura editorial montada para a ocasião (Actuális, Distribuidores Gerais, Lisboa).
Foi reeditado em fac-simili pela Caminho em 2003.
É uma muito extensa reportagem sobre a condição da mulher em Portugal, subdividida em 5 partes de extensão muito desigual intituladas a A camponesa, A mulher do mar, A operária, A empregada e A doméstica em 480 páginas sempre ilustradas com fotografias. Como ilustrações extra-texto são publicadas 30 reproduções de pinturas ou desenhos de Silva Porto, Malhoa, Sousa Pinto, Varela Aldemira, Júlio Pomar, Abel Salazar, Domingos Rebelo, Alberto de Sousa, Marques de Oliveira, Manuel Ribeiro de Pavia, Portela Júnior, Roberto Nobre, Eduardo Malta, Abel Manta, Miguel Ângelo Lupi, Guilherme Filipe, Estrela Faria e outros, obras em muitos casos do Museu Nacional de Arte Contemporânea e da Col. Agostinho Fernandes.
São na maior parte das vezes retratos individuais e também de grupo as fotografias de Maria Lamas. Retratos directos e frontais realizados nos locais de trabalho, como que interrompendo momentaneamente a faina. Noutros casos são momentos ou situações de trabalho que se documentam, em especial se se trata de registar a dureza do esforço físico. Totalmente despidas de efeitos de luz e sombra, as imagens prescidem também de toda a anedota (e está sempre ausente o famoso "punctum" que subverte o tema anunciado, pormenor ocasional ou acidente que capta a atenção), à beira de uma sensação de banalidade que se desmente na cumplicidade dos olhares trocados, na firmeza, confiança ou dignidade dos rostos, na eficácia documental das roupas, utensílios e outros objectos, na objectividade clara dos lugares.
(Continua)
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