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uma fotografia neo-realista que como tal não se identificou nunca nem assim foi reconhecida.
Será
neo-realista alguma fotografia que, a partir de 1945, nas particulares
condições ideológicas do pós-guerra, foi realizada ou utilizada na
condição de documento para artistas ou em situação de proximidade
ideológica ou convivial com os artistas que se identificaram como
neo-realistas.
Não
se lhes terá atribuído
importância específica ou "autónoma" e não foram reconhecidas como
"arte fotográfica" (nem a tal aspiraram) - e também não terão aspirado
à publicação na imprensa, como documento ou ilustração (e existiram
alguns suportes editoriais para isso) - mas podem sumariar-se alguns
casos mais ou menos desconhecidos, e a pesquisa em outros acervos
poderá/deverá ampliar o seu número (se se começar por prestar atenção à
fotografia anónima e amadora, em geral conservada em provas de contacto
ou de formato amador, que terá sobrevivido em outros espólios
documentais).
Um exemplo recuado é dado na Foto 1 (6 fotografias coladas num página, cada uma com 6,6 x 5 cm; Espólio Castro Rodrigues; foto Museu do Neo-realimo, VFX).
Outras fotografias que apenas conheço na
qualidade de documentos conservados no espólio de um artista plástico,
e parcialmente usados em obras de pintura e gravura, são localizáveis
na Nazaré e certamente no ano de 1951. O seu autor é desconhecido.
2008/05/nazaré-1951-52-autor-desconhecido.html
Podem
ter a ver com o filme de Manuel Guimarães "Nazaré", rodado em
Maio-Junho de 1952, com argumento de Alves Redol, mas não tenho
confirmação dessa pista nem tenho indicação de que alguma delas tenha
sido publicada alguma vez em qualquer lado. Apenas as conheço em
pequenas provas (6,8 x 10 cm - papel: 8,5 x 11,7 cm) com a marca do
laboratório Roiz, Lda. Não serão certamente provas únicas...
A intenção documental ou verista, o interesse pelas condições de vida e de trabalho populares, o carácter directo do "flagrante" (onde é impossível decidir entre o acaso da inexperiência ou a irregularidade intencionalmente aceite - mas inclino-me para a 2ª hipótese) marcam aqui uma atitude fotográfica oposta a um naturalismo esteticizado ou ao pitoresco romântico ou picturialista. Não se trata, porém, de provas de exposição, e não se lhes pode atribuir ou reconhecer qualquer ambição de uma recepção artística - poderá tratar-se até de uma prática da fotografia sem consciência de si mesma - "naive", por hipótese.
Um terceiro caso só em parte diferente é o de algumas fotografias associadas ao programa de visitas às zonas de cultivo do arroz nas proximidades de Vila Franca de Xira, orientado por Alves Redol em 1952-53, em que participaram diversos artistas. Cipriano Dourado e Rogério Ribeiro terão sido autores de fotografias que certamente nunca foram expostas e só muito mais tarde se publicaram enquanto documentos, a acompanhar dados biográficos. Ignoro se Lima de Freitas também fez fotografias (o seu pai teria tido um estúdio de fotografia em Évora - inf. a confirmar). É particularmente relevante que não tenham sido expostas nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, onde se mostraram as pinturas que usaram estas fotografias como elementos de apoio, auxiliares de observação e memória.
2008/06/arroz-lezírias-1952-53-2.html
Fotografia de Cipriano Dourado, 1953, publicada em "Rogério Ribeiro", Campo das Letras 2003, pág. 241
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