A revista da Agrupación Fotográfica de Almería ( http://...afal-almeria-19.html ) desempenhou um papel muito importante na renovação da fotografia espanhola, a partir de uma excêntrica pequena cidade do sul - ( http://...ramn-masats-e-r.html ). Aí ecoaram as "revoluções" de Ricardo Terré, Xavier Miseracht e Ramón Masats (TMM) quando expõem na Agrupación Fotográfica de Cataluña, depois em Madrid e em Almería (Abril, Maio, Junho de 57), ou o prémio de Masats no I Salon de Vanguardia (AFC, Barcelona, Abril 57). Aí "cayo como una bomba, como venido de otro planeta" (Julho-Agosto de 57) o catálogo de The Family of Man, e daí partiu uma primeira circulação internacional dos novos fotógrafos espanhóis. A Afal começou como um vulgar boletim de amadores salonistas, realizou 3 salões anuais e criticou o salonismo, marcou uma ruptura, com uma nova maneira de olhar para a paisagem e a sociedade espanholas que veio a ser chamada neo-realista.
A história portuguesa de um propósito de ruptura nos mesmos anos não teve expressão associativa nem se interessou - em geral (com a excepção de Palla-Costa Martins, e depois de João Cutileiro já em 1961) - pela exposição pública das experiências fotográficas que se íam fazendo. As razões desse silêncio aristocráfico (seguido pela desistência rápida) são pouco claras e talvez também pouco convincentes. Fui pensando que se tivesse havido uma aproximação à Afal a história teria sido diferente. Mas a história não se refaz.
Foto de Carlos Santos e Silva, revista Afal, nº 9, pág. 35 (sem legenda)
Entretanto, encontrei um português muito presente nos primeiros números da revista de Almería. Carlos Santos e Silva foi um fotógrafo de muito intensa participação em salões por esses anos (1953-57?...) e estabeleceu relações privilegiadas com a Afal que poderiam ter sido suficientes para afastar o possível interesse pelo grupo espanhol por parte dos então renovadores secretos da fotografia portuguesa (Carlos Afonso Dias, Sena da Silva, Gérard Castello Lopes, etc).
Em Portugal aparece distinguido no 3º Salão de Arte Fotográfica do Grupo Desportivo da Cuf, Barreiro, em Dez. de 1953; depois surge em 16ª posição na 1ª tabela de pontos elaborada por Eduardo Harrington Sena na página de Fotografia que dirige no Jornal do Barreiro (5 de Maio de 1955). Era membro do Foto Clube 6 x 6.
No nº 4 da "Afal", Julho-Agosto de 1956 (que então começa a definir lentamente um programa crítico ambicioso), publica uma 1ª "Carta de Portugal" e é apresentado como uma figura conhecida no "meio fotográfico mundial" - é sócio da Associação desde o nº 3. Nenhum outro colaborador aparece com este destaque. Uma fotografia modernista de Augusto Martins (?) é publicada no mm nº.
"Destroços", de Augusto Martins (Lisboa), Afal, nº 4, Julho-Agosto 1956 - um exemplo de "fotografia pura" ou fotografia moderna (o modernismo fotográfico em oposição à fotografia pictórica)
Volta a publicar no nº 5, Setembro-Outubro de 1956 ("Correo de Portugal", pp. 20-21 - impressões vagas sobre o meio fotográfico espanhol e de Portugal) e no nº 6, Novembro-Dezembro ("Correo de Portugal, pp. 16-17 - notícia sobre os V Salão Internacional Interbancário de Arte Fotográfica, II Salão Internacional de Arte Fotográfica da Marinha Mercante, Aeronavegação e Pescas, III Salão Fotrográfico do Sindicato dos Empregados de Comércio, I Salão Nacional de Fotogradfia de Telecomunicações...).
No nº 9, de Maio-Junho de 1957, publica-se uma notícia sobre uma próxima mostra individual de Carlos Santos e Silva nas instalações da Afal, sob a forma de uma apresentação crítica (prévia) a cargo de Emilio Carrión Fos ("Muestra individual", pp. 34 e 59), mais uma nota na secção "Vida del Clube", pág. 55, sempre num excessivo ou incompreensível tom elogioso. Julgo que naõ se voltou a falar de tal exp. e não sei mm se se efectuou... Mas o misterioso correspondente de Lisboa ainda volta a aparecer uma última vez no nº 10, Julho-Agosto, com um "Correo de Portugal vía Londres", pp. 26-27 - mais umas ingénuas impressões de viagem com 5 pequenas fotos de Londres. Foi uma oportunidade perdida.
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