Depois de dar atenção às fotografias de João Cutileiro em exposição na P4 (e a leiloar a favor da Abraço na 5ª feira dia 23 - ver http://www.p4liveauctions.com/calendar/auction/P4047.html )
o Público refere hoje a exposição de Carlos Afonso Dias na Pente 10, onde o fotógrafo dos anos 50 (1954-62) se encontra com a cor digital e o grande formato, num novo arranque da sua obra.
"P2", pp. 6/7 http://jornal.publico.clix.pt/
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Uma obra que se inicia com a vaga da fotografia empenhada na observação da realidade de um país desalinhado com as democracias ocidentais do pós-guerra, onde um idêntico olhar "humanista" celebra menos o lirismo da reconstrução da vida do que indicia sinais de inquietação, sombra e alguma esperança.
A fotografia é então - com Victor Palla e Costa Martins, com Gérard Castello Lopes e outros - neo-realista, usando livremente o termo, sem uma vinculação estrita ao seu uso nas artes plásticas ou na literatura. Como ao mesmo tempo estava a suceder em Espanha, com a chamada Escola de Madrid de Leonardo Cantero, Francisco Gómez, Gabriel Qualladó e outros, com os fotógrafos de Barcelona, Ramón Masats, Xavier Miserachs e Ricard Terré, mas nascendo das agremiações amadoras, explorando a logística de um salonismo que assim se combatia, e criando com a publicação de uma revista, a Afal (1956-63), em Almería, numa insuspeita capital do fim do mundo, condições de divulgação que teriam consequências certas. Em Lisboa, quase tudo seria apenas uma agitação efémera que só nos anos 80 começaria a vir parcialmente à superfície. Não se fez a ponte entre Cascais e Almería que teria mudado o curso das coisas.
Carlos Afonso Dias foi mostrado pela 1ª vez na galeria-associação Ether (Fotografias 1954/69 - sendo a última data a de uma única fotografia de Angola, num total de 40) e pela 2ª vez na Cadeia da Relação / Centro Português de Fotografia, com itinerância dessa mostra a Évora e a Lisboa (Culturgest) - "Viagens Fotográficas", acompanhadas pela edição do volume Fotografias 1954-1970. Neste caso a edição, com 100 reproduções, ampliava a representação angolana (desde 1963), e acrescentava uma fotografia de 1999, enquanto a mostra incluia mais fotografias dos últimos anos.
Na Pente 10, o título é agora Fotografias 1956-2008, com cinco fotografias a cores de 2006/08 e as outras a preto e branco até 1962, outra vez com alguns inéditos, num total de 32 reproduções.
http://...carlos-afonso-dias-2008.html
http://...2002 - carlos-afonso-dias.
Há agora um grupo de fragatas do Tejo (1956-62) que aparecem como um núcleo específico, a que se juntam o barco e o pintor (Cascais 56); a menina, as velhas e o mar da Nazaré, 1958; o miradouro de Sta Luzia diante do Tejo ao fundo, 1957, a recordar outras visões estrangeiras de Lisboa; e, se se quiser, os sulcos desenhados na areia da Ericeira, de 1962, que é já outra coisa, exercício de escalas e perspectivas, jogos do olhar, suspendendo símbolos, alusões, sentidos, para ser apenas a inteligência de ver. É o que sucede mais nitidamente desde as fotografias de Milão, Paris, Zurique, Nova Iorque, ganhando distância face à urgência de comunicar. Não são certamente fotografias de viagem, e circula-se em grande medida por referências fotográficas.
Gerard Castello Lopes, que escreveu no primeiro catálogo e identifica Carlos Afonso Dias como seu mentor, sublinha a vontade de "testemunhar", "de mostrar a imagem de um real geralmente confrangedor", aponta as influências do que era "mais socialmente empenhado", a "tão vilipendiada visão do mundo a que se chamou humanismo", a atenção do fotógrafo para com, chamemos-lhe assim, a cítima", a tradição do documento.
Essa urgência do documentário é acompanhada pelo interesse por condições construtivas da imagem que nunca tomadas por si mesmo, como imagem com efeitos: o uso do contraluz, a sensualidade das texturas, "a magia da luz na definição dos espaços", a estranheza ou irreverência das escalas, seguindo sempre GCL. Depois, sem que se tornem meios gratuitos, essas condições deixam de acentuar a dimensão social do testemunho para se referirem mais globalmente aos modos de existir, a uma inquietação abstracta, a uma solidão interior no interior da cidade. Certamente, essa nova relação com o mundo exerce-se retrospectivamente também sobre as fotografias anteriores, construindo um itinerário sem rupturas bruscas, desde as primeiras fotografias às explorações digitais mais recentes.
Os meus sinceros parabéns por este espaço onde informa com liberdade e exerce a critica com honestidade e rigor.
No que diz respeito à exposição de Carlos Afonso Dias diz e muito bem que "O Público" referiu.
Mais não fez, de facto.
Os meus melhores cumprimentos.
Posted by: Gonçalo Afonso Dias | 11/01/2008 at 18:23