http://www.ucl.ac.uk/news/news-articles/0806/08060401
Bartolomeu dos Santos, printmaker and professor, born Lisbon, Portugal, 24 August 1931; teacher at the UCL Slade School of Fine Art, 1961–96, becoming Head of Printmaking and Professor of Fine Art; Fellow of UCL, 1995, Emeritus Professor of the University of London, 1996; awarded the Order of Prince Henry by the President of Portugal (for services to Portuguese culture abroad), 1993; married firstly Susan Plant (three daughters, three grandchildren), secondly Fernanda Oliveira Paixao 1988 (two step-sons, two step-grandchildren); died London, 21 May 2008.
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Expresso de 8/12/2001
"Entre ácido e fogo"
Gravuras e azulejos em várias exposições simultâneas
BARTOLOMEU DOS SANTOS
(Centro Cultural de Cascais, retrospectiva de gravura, até dia 30; Ratton Cerâmicas, até 10 Jan.; Galeria 111, Porto, até 30)
Com uma retrospectiva em Cascais da sua obra de gravador, com que ocupa um lugar sem paralelo em Portugal, mais uma mostra de azulejos na Galeria Ratton e outra de gravuras recentes e aguarelas na 111, agora no Porto depois de mostrada em Lisboa, pode dizer-se que Bartolomeu dos Santos está por toda a parte. De regresso a Portugal depois de ter sido entre 1961 e 1996 professor de gravura da Slade School, de Londres, transformou a reforma académica num tempo de intensa actividade criativa, que se prolonga nas obras de «arte pública» ou grande decoração, passando do uso da pedra gravada do Metro de Entrecampos aos azulejos da estação do Pragal.
Para estes diferentes suportes, Bartolomeu dos Santos trouxe não só vários dos temas recorrentes do seu imaginário pessoal como a aplicação de técnicas experimentadas na gravura ou, melhor, uma assinalável capacidade de experimentação e invenção de novos processos. A retrospectiva actualiza a que a Gulbenkian lhe dedicou em 1989, percorrendo mais de quatro décadas de trabalho (desde 1956). É raro que um artista se dedique à gravura com um interesse de tal modo exclusivo e, entre nós, com a proliferação de processos de reprodução de muito baixa qualidade, que vulgarizam a serigrafia como uma espécie de fotocópia a cores, foi-se quase perdendo o contacto com a especificidade dos recursos próprios da gravura, que transcendem a simples reprodutibilidade técnica das imagens.
Em vez da sequenciação cronológica, a montagem proposta em Cascais optou por uma disposição em sucessivos núcleos temáticos que se prolonga na ordenação sumariada no catálogo (paisagens; Fernando Pessoa; praias, sereias e tentações; memórias de tempos passados; viagens e explorações, etc.) e um texto do historiador norte-americano Helmuth Wohl - um bom conhecedor da arte portuguesa, que em 1978 apresentara um panorama nacional do século XX na Royal Academy de Londres - procede a uma exploração metódica das fontes iconográficas presentes nas obras de Bartolomeu dos Santos. O autor caracteriza-o como um «artista erudito», cujas influências mais marcantes são de cariz literário, ainda que algumas das suas imagens também tenham origem no cinema, por exemplo em Buñuel e Bergman, enquanto a sua série temática sobre misteriosos espaços de «esferas e labirintos» associa a arquitectura visionária de Boullée a referências colhidas em Borges e Kubrick.
Na galeria maior do Centro, uma vitrina expõe alguns dos «motivos de inspiração» que estão associados aos temas da viagem e do mar, com que parte de um imaginário pessoal para a abordagem da memória nacional das navegações, de carácter celebrativo por vezes ou com o sentido de um mais crítico empenhamento político, que é outra das vertentes presentes na sua obra (até aos recentes ratos «imperialistas» com que comenta o mundo actual). Esses mapas antigos, fotografias e outros documentos expostos como fontes permitem também reconhecer como muitas das suas gravuras fazem um uso original da ideia de colagem.
A exposição na Ratton exibe recentes trabalhos em azulejo, que se associam à crescente actividade do artista na área da grande decoração em espaços públicos. Bartolomeu dos Santos trabalha directamente o azulejo, de um modo inventivo que tira partido das técnicas trazidas da gravura, realizando painéis únicos em que utiliza raspagens e tintas em «spray» para desenhar com gesto largo ou aplicar manchas de cor. A figura da sereia que vem das suas gravuras volta a surgir em vários destes trabalhos, enquanto outros prolongam o sentido crítico de recentes estampas sobre o mundo actual em guerra, surgindo mesmo uma versão caricatural de uma reunião do G7. Às diferenças de escala entre a gravura e os painéis decorativos, soma-se, entretanto, uma maior espontaneidade do desenho, a traduzir, num trabalho vivido entre os ácidos e o fogo, um período de grande energia criativa do artista.
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