I
O N-R ignorado, ou o N-R que não chegou a ser (a oportunidade perdida)
Documentos de trabalho de (para) artistas, apenas conhecidos em provas de contacto ou de pequeno formato. Provas de época. Não expostas nem publicadas até 2005-2008.
1 – Arq. Francisco Castro Rodrigues, Évora, 1945, página de um dossier, relativa à IX Missão Estética de Férias da Academia Nacional de Belas Artes, que decorreu sob a orientação de Dordio Gomes, com participação de Júlio Resende, Fernando Lanhas, Nadir Afonso, Júlio Pomar, entre outros. Estas ou outras provas iguais serviram de documentação para O Gadanheiro (Gadanha), de 1945, e Camponês com Gadanha, já de 1951, de Júlio Pomar.
Doação do autor ao Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira. Inédito até 2008 (6 provas de 6,6 x 5 cm).
Pode dizer-se que a fotografia N-R. perdeu a sua 1ª oportunidade.
2 e 3 – Autor desconhecido, Nazaré, 1951? Provas de 8,5 x 11,7 cm (papel), com carimbo dos laboratórios Roiz, Lda, de Lisboa.
Serviram de documentos de trabalho para Mulheres na lota (Nazaré), 1951, óleo, de Júlio Pomar e duas gravuras de 1952. Fotos publicadas pela 1ª vez em 2005.
Tentei associá-las ao filme de Manuel Guimarães Nazaré, com argumento de Alves Redol, rodado em Maio-Junho de 1952, mas são certamente anteriores. Poderão ser da autoria de Lima de Freitas, pintor que fazia então fotografia como documentação de trabalho e registo pessoal – o seu pai teve um estúdio em Évora: David Freitas / Fotografia (?) Freitas.
4 – Autor desconhecido, Lezíria, imediações de Vila Franca de Xira, 1952-53. Prova pertencente a duas séries de fotografias associadas a pinturas e outras obras do chamado “Ciclo do Arroz”. Inédita até 2005. Eventualmente da autoria de Lima de Freitas.
Foi publicada uma fotografia do mesmo tema atribuida a Cipriano Dourado numa monografia de Rogério Ribeiro (Campo das Letras, 2003).
Um crítico identificado com o neo-realismo, António Ramos de Almeida, publicara em 1941 (reed. em 1945) uma breve reflexão sobre a fotografia incluida em A Arte e a Vida – conferência. Ela viria a ser transcrita na página mensal “Fotografia” do Jornal do Barreiro em 1955, a 5 de Maio, poucos dias antes da abertura da IX EGAP, onde iriam expor fotografias nove autores. A transcrição deve interpretar-se como defesa da fotografia "salonista", e publicou-se por sinal junto ao quadro em que Eduardo Harrington Sena classificava a actividade dos amadores portugueses durante o primeira ano dessa página. Tratar-se-á de uma posição contrária à fotografia directa e de rua, e em especial ao neo-realismo fotográfico que então se apoiava na voga da exposição “The Family of Man”, objecto de grande expectativa desde 1954.
(Em pintura, a arte está na “deformação”; em fotografia também)
(Aragon não reduz a fotografia à condição de documento para artistas. Defende o instantâneo, as novas possibilidades dos 35 mm e refere concretamente o seu "amigo Cartier" (Bresson) e as suas fotografias do México e de Espanha – já em 1936!)
Mais um tesouro descoberto!
Talvez tudo isto se justifique com uma falha de comunicacao nas Artes, em Portugal, durante essa altura.
Sera' que hoje essa comunicacao existe?
Nao se estarao tambem a "castrar" certas correntes em favor das ja' estabelecidas?
Posted by: Pedro dos Reis | 10/10/2008 at 14:07