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O N-R esquecido ou silenciado: Adelino Lyon de Castro
Adelino Lyon de Castro (1910-1953)
ALC foi co-fundador das Publicações Europa-América, amador fotográfico com larga participação nos salões do seu tempo, expositor na V Exposição Geral de Artes Plásticas em 1950, membro do Foto-Clube 6 x 6 (fundado em 1950 – pertenceu ao seu Conselho Artístico). Foi também repórter desportivo, tendo acompanhado os Jogos Olímpicos na Finlândia para duas publicações. Está presente com dez fotografias no livro de Maria Lamas As Mulheres do meu País de que se falará adiante.
5 – Ex-Homens. É a fotografia mais exposta e publicada de ALC.
Em 1946 foi exibida no 9º Salão de Arte Fotográfica do Grémio Português de Fotografia, secção da Sociedade de Propaganda de Portugal, na SNBA, Lisboa, e no Clube Fenianos, Porto.
1950 (Maio) - 5ª Exposição Geral de Artes Plásticas, SNBA.
1950 (Nov.) - I Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro: foi distinguida com o Grande Prémio, sob o título “Vagabundos” (Aí expõe também “Rua em festa”, o 1º Prémio de Instantâneo. Nesse mesmo Salão apareceu Augusto Cabrita)
1956 - publicada no Boletim do Foto Clube 6 x 6, nº 3, de que era director Eduardo Harrington Sena, animador da secção fotográfica do Grupo Desportivo da CUF, responsável entre 1954 e 57 pela página “Fotografia” do Jornal do Barreiro. No artigo “In Memoriam”, de Manuel Ruas, editor do Boletim (homem do cinema, viria a fazer a montagem de Belarmino de Fernando Lopes), aponta ALC como um "exemplo de humanismo" e acrescenta:
“Procurou sempre que as suas obras transmitissem Vida, a Vida do Homem: o seu trabalho, as suas angústias, as suas esperanças”.
1980 – publicada no álbum monográfico O Mundo da Minha Objectiva, P. E-A. Um livro que não foi visto no seu tempo, os anos 80, que conheceram uma revisão profunda da cultura e da circulação fotográficas.
(Existe de Ex-Homens uma outra prova rectangular no espólio de ALC)
6 - “Rua em festa”, ou “Festa” (atribuição)
1950 (Maio) - 5ª Exposição Geral de Artes Plásticas, SNBA.
1950 (Nov.) - I Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro: 1º Prémio da categoria Instantâneo
1980 - O Mundo da Minha Objectiva (“Festa”)
Fundou as Publicações Europa-América com Francisco Lyon de Castro, foi editor de "Ler, Jornal de Letras, Arte e Ciências", lançado pela mesma editora, de 1952-53. Publicação forçada ao encerramento em 1953, esteve no centro de uma das crises internas da Oposição, sabotada pelo PCP por ser orientada por Fernando Piteira Santos, excluído em 1950 e então acusado com Mário Soares de pro-americanismo. Ver “A purga dos intelectuais” e em especial “O jornal Ler, “orgão do SNI”", Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal 3.
Julgo que a memória do neo-realismo fotográfico (para além dele não ter sido defendido, entendido ou reconhecido no seu tempo próprio) terá sido também inviabilizada por razões políticas de sentido oposto. Adelino Lyon de Castro enquanto “inimigo” do PCP; Maria Lamas por se ter tornado uma bandeira da propaganda do PCP.
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Estas fotografias chegaram às Exposições Gerais em 1950, o que por si só não as torna N-R (foi a primeira e única vez em que ALC esteve presente – morreu em 1953).
Nesse ano expôs também Francisco Keil do Amaral, animador das Gerais e do Inquérito à Arquitectura Popular iniciado em 1955 (outro monumento fotográfico…). Arquitecto e fotógrafo (amador), voltou a expor na IX EGAP. A sua obra fotográfica (exposta sem catálogo em 1999, no Museu da Cidade, Lisboa - então erradamente apresentada como um "passatempo") tem de ser objecto de atenção específica – no volume Em Foco. Fotógrafos Portugueses do Pós-guerra. Obras da Colecção PLMJ, ed. Assírio & Alvim 2005, publicam-se dez fotografias com datas atribuídas de 1956-58, e em parte seguramente anteriores.
E expuseram igualmente Manuel Peres (3 retratos, desconhecidos) e Rodrigo de Vilhena (referido por Emília Tavares no seu importante ensaio “Fotografia e neo-realismo em Portugal”, in Batalha pelo Conteúdo..., Museu do Neo-Realismo, V. F. Xira, 2007, como próximo dos artistas modernistas, interessado pela temática dos comboios e a exploração formal da velocidade – mas os títulos das obras que expôs em 50 são acentuadamente “salonistas”: Equinócio, Espectativa, Nuvens, etc).
As seis fotografias de ALC e as oito de Keil (estas sem títulos no catálogo) não terão despertado a atenção da crítica, nem terão sido associadas ao neo-realismo…
A fotografia (como secção própria – para lá da que se expôs nas áreas de Arquitectura e, às vezes, Publicidade) aparecera apenas na 1ª edição, de 1946, através de Mário Novais – mas tratar-se-ía então de afirmar a grande unidade ou abertura política, com a participação de figuras muito presentes em iniciativas do regime (como Carlos Botelho e Bernardo Marques), e de recuperar a memória e os artistas da Exposição Independente de 1930.
ALC expôs ainda nos salões do Foto Clube 6 x 6, em muitos salões internacionais (Barcelona, Madrid, Rio de Janeiro, Niteroi, Salta?, na Argentina - graças às “remessas colectivas” dessa agremiação) e também em muitos outros em Portugal:
Exposições Fotográficas de Campismo no Ateneo Comercial de Lisboa (1947?-1952)
3º Salão de Arte Fotográfica para Amadores, do Ateneu Artístico Vilafranqunse, 1952
Salões de Arte Fotográfica da Voz do Operário (1950-1953)
Salão de Arte Fotográfica de Santo Tirso, 1952 e outros
A propósito, note-se que é no seio das agremiações amadoras, beneficiando das suas condições logísticas e criticando ao mesmo tempo o gosto estético do “salonismo”, que se vai renovar a partir de 1955-56 a fotografia em Espanha. Graças a uma repressão muito mais dura no pós-guerra, não existe então um equivalente do N-R. nas artes plásticas e a intervenção artística de cunho político de esquerda acontece - após a não figuração e o informalismo oficializados pelo regime - com o movimento Estampa Popular, a partir de 1959, até 1976.