São melhores os anos de crise. Algumas galerias queixam-se, alguns artistas também, mas há um nível de qualidade que não se encontra em anos em que se julga que tudo se vende. Para pagar o stand é preciso vender, e em anos de aperto quem compra hesita, pondera, escolhe - é natural, por isso, que quem produz o faça com mais empenho e que quem mostra apure os critérios de exigência. O resultado é globalmente melhor nesta edição 2008 da Arte Lisboa.
Depois de uns anos a apostar em coleccionadores (o que quer que isso seja, e em qualquer caso são muito poucos), agora há que cuidar dos compradores, entretanto desleixados - os que compram por gosto, por prazer, por necessidade, às vezes pequenos formatos e suportes mais baratos, quase sempre para ter em casa, para ter na parede, para viver com as obras. São esses os compradores mais interessantes, e raros aceitam intitular-se coleccionadores (como os fanáticos de cromos ou soldadinhos de chumbo).
A feira de arte da FIL está melhor, com mais pinturas interessantes e melhores fotografias, com alguns objectos ou esculturas em geral menos gratuitos. Com a crise e o receio da crise, a arte ficou menos inútil.
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Entretanto, o Le Monde publica na edição datada de 20 um artigo com algum interesse sobre o estado actual do mercado de arte:
Enquête
Art : les vertus de la crise, por Harry Bellet, enviado a Nova Iorque
http://www.lemonde.fr/.../art-les-vertus-de-la-crise
"...les résultats catastrophiques des deux dernières semaines d'enchères new-yorkaises montrent que le marché de l'art, en croissance constante depuis 2001, s'est écroulé. Le résultat total est inférieur de moitié aux estimations."
"La dernière <crise>, assez brève, a été provoquée par les événements du 11 septembre 2001. Les prix avaient ensuite remonté régulièrement, portés par un élargissement de la base des acheteurs, des privés mais aussi de nouveaux musées qui s'ouvraient un peu partout dans le monde. Jusqu'à ce qu'interviennent de nouveaux acteurs, les fameux "collectionneurs professionnels", mais aussi les dirigeants d'hedge funds, ces fonds spéculatifs américains, qui ont bouleversé la donne.
La crise précédente, plus dure et plus longue, avait débuté à l'automne 1990 et s'était poursuivie durant six à sept ans."
Parece-me natural que os precos este ano tenham de ser reavaliados e que sejam mais baixos, do que o costume.
A crise pode ser vista como uma oportunidade, da parte de todos aqueles que ainda tem liquidez e que desejam comprar.
A aposta em qualidade sera' o argumento das galerias para manter os precos, mas as eventuais descidas de valor poderao ser compensadas pelo numero de vendas.
E' bom que a arte se torne mais acessivel, pois sao justamente os compradores que mantem a vitalidade e o significado do mercado.
O mercado ao consolidar uma posicao junto deste grupo estara' a ajudar a criar publico, tambem.
Imagino que as pessoas ao possuirem arte, irao ter mais interesse em que as estruturas funcionem - estarao mais atentas ao que se passa e terao mais vontade em participar.
Por outro lado, o coleccionismo e' um paradigma e que poderia ter mais razao de existir dentro de um contexto em que o Estado partilharia algumas das responsabilidades na gestao dos Museus - um esquema de gestao semi-privado.
Assim, as coleccoes poderiam ser vistas por um maior numero de pessoas e concerteza que tambem criariam valor.
Numa altura de crise economica, como a que se sente neste momento, nao interessara' criar mais estruturas, mas reforcar as existentes.
O facto de alguns coleccionadores maiores, como Fundacoes, por exemplo terem previsto a criacao de espacos de exposicao proprios advem justamente dessa necessidade de mostrar a sua coleccao.
Mas por conseguinte, o esforco que fazem para manter esses espacos e' maior do que o que teriam, caso pudessem participar dentro de um espaco com outros coleccionadores e o Estado.
Seria um "win-win" e os proprios espectadores sairiam beneficiados da situacao, concerteza.
Os fundos "poupados" por todas essas entidades privadas poderiam ser usados para ajudar a manter espacos de exposicao independentes, ajudar a criar residencias ou mesmo trazer exposicoes importantes (as tais blockbuster, que o Alexandre falava no outro dia, por exemplo).
A crise tambem poderia ser outra boa oportunidade para se reflectir sobre a uniao de vontades.
Gostava de saber o que se passou aqui: http://www.arteseleiloes.com/content/1/53/cooperacao-entre-fundacoes/ , por exemplo.
Poderia ter sido importante que se comecasse a falar do assunto, pelo menos.
Posted by: Pedro dos Reis | 11/20/2008 at 13:38
Pessoalmente, achei que esta feira tinha melhores obras (algumas), mas piores também. Notei que artistas que geralmente trabalham com instalações, apresentaram nesta feira pinturas e desenhos.
Poucas galerias me surpreenderam pela positiva e afastei-me de muitos stands pela má qualidade. Principalmente no campo da pintura; havia muita má pintura. As boas acabavam por se destacar mais.
Penso que a fotografia esteve bem, a escultura quase nem lá estava.
Resumindo, uma selecção de galerias pouco ambiciosa e pouco restrita, no meu ponto de vista.
Esta crise vai servir para limpar um pouco os "excessos".
Posted by: João C. | 11/24/2008 at 13:03