Os artistas do Muvart voltaram à feira, depois de uma estreia em 2004.
duas páginas na nova revista Arte Portugal (ainda em versão de trabalho), mais duas
e ainda, com tradução para inglês:
"Os novos artistas de Maputo" - começa assim:
"Foram convidados a vir à Arte Lisboa em 2004, quando a feira da FIL tentou afirmar-se como plataforma para a circulação de artistas do mundo lusófono, além de ser a montra nacional de um país periférico. Agora quiseram regressar porque Lisboa pode abrir mais uma porta para passarem fronteiras e porque o balanço das actividades tem sido positivo. O Muvart não é uma galeria no sentido habitual. É um movimento de artistas contemporâneos de Maputo que precisam de construir eles mesmos os lugares e a oportunidades para mostrarem trabalhos inovadores. Seis anos depois do seu manifesto e após várias exposições colectivas com formatos variáveis, para além das individuais e de algumas oportunidades exteriores, eles mudaram o panorama das artes de Moçambique.
Este é ainda um país em construção, depois de muitos anos de guerra civil e poucos de uma independência longamente conquistada. Não tem petróleo nem diamantes que permitam ir mostrar colecções de arte a Veneza, ou montar bienais internacionais. Mas, no caso muito particular de Moçambique, um povo pobre de recursos não é o mesmo que um país sem arte, muito pelo contrário.
Vieram dos anos coloniais um “skyline” que lembra Nova Iorque, uma arquitectura moderna com imaginação própria (em especial a de Pancho Guedes), uma produção artística plural, projectada pelo nome de Malangatana e continuada com outras figuras reconhecidas, para além dos vastos caminhos do artesanato já urbanizado e da exploração do exotismo para consumo de cooperantes e turistas. Em Maputo, a arte está na rua, literalmente, nas paredes pintadas e nos expositores dos ambulantes, está nas oficinas do Núcleo de Arte (Estêvão Mucavele, Titos Mabota, por exemplo) e entrou em versão já cosmopolita nas escolas e no museu, o Musart. Os novos artistas vieram agitar uma ordem estabelecida em torno de “estilos moçambicanos” que lhes pareciam demasiado complacentes.
Os artistas do Muvart tiveram de pôr em causa a ideia do criador autodidacta e “naïf”, que continua a estar associada à arte africana, e de cortar com o predomínio da pintura de cavalete, que foi, aliás, uma tardia contribuição da modernização colonial: passaram à acção, à instalação, à interacção com o público para despertar consciências. Vieram colocar o problema da transição entre a improvável continuidade de uma criação artística de raízes mais ou menos tradicionais ou “primitivas” e um futuro que se constrói com um universo crescente de população escolarizada e com aprendizagens artísticas feitas em contacto com a contemporaneidade internacional. Como disseram no manifesto inicial de 2002, “o Muvart reivindica a capacidade dos artistas moçambicanos participarem na arena internacional, não como um simples espelho de uma África congelada dentro das suas tradições, mas como testemunho do mundo de hoje, a partir de riquezas humanas únicas”.
#
A Lisboa trouxeram agora obras de Gemuce, Jorge Dias e Mudaulane, mais (fotografias) Ricardo Rangel, Rui Assubuji e Luís Abelard.
#
E também já têm um "blog"
Comments