Mário Teixeira da Silva (Módulo)
Fundação PLMJ
"Duas colecções" / Apresentadas em livro antes de mostradas em exposições
EXPRESSO/Actual 08-01-2005
Duas colecções portuguesas de fotografias apresentam-se. Uma de autores nacionais e outra internacional, incluindo alguns escolhidos portugueses. Uma dada a conhecer em livro mas com exposição anunciada para o Centro de Artes Visuais de Coimbra, já dia 22; a outra exposta em Barcelona com o respectivo catálogo, à espera de oportunidade para se ver em Lisboa, com outros critérios de escolha e em conjunto com as pinturas, esculturas e instalações que integram uma colecção única. Uma de formação muito recente - perto de cinco anos - e da iniciativa de uma sociedade de advogados; a outra com mais de trinta de maturidade e pertencente a um galerista, associada à sua actividade de divulgação da fotografia, mas sem com ela se confundir.
São ambas generalistas, sem um horizonte estético ou temático restritivo; uma intencionalmente abrangente, a outra mais marcada pelo gosto e percurso individuais. O facto de se tornarem públicas duas colecções privadas, uma da Fundação PLMJ, ligada à sociedade do mesmo nome, outra de Mário Teixeira da Silva, proprietário das galerias Módulo, é significativo de um novo estatuto da fotografia enquanto objecto de colecção e do crescimento de um novo mercado, em grande parte incluído no universo alargado das artes plásticas.
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A exposição da colecção de M. Teixeira da Silva insere-se precisamente no âmbito de um projecto que pretende incrementar o coleccionismo da fotografia, com sede em Barcelona mas vocação peninsular: a Fundação Foto Colectania (www.colectania.es). Aí se expôs já uma mostra do acervo do Centro Português de Fotografia, e a sua própria colecção, apresentada como uma antologia histórica desde os anos 50, incluiu dez portugueses entre 40 autores («Vidas Privadas», 2004). Conta com uma representante em Lisboa (Filipa Valladares) e os catálogos são por cá distribuídos, com textos em português - só a vinda das exposições tem tardado, por dificuldades de cooperação.
São 52 os autores reunidos sob o título «Casa de Luz», que refere um espaço doméstico preenchido por obras fotográficas (e não só), e a luz como matriz mediática, ou mediúnica. A selecção feita por Lola Garrido, directora artística da Foto Colectania, incluiu menos de um terço do acervo e optou por autores menos expostos na Fundação, com destaque para os conjuntos de norte-americanos e alemães, com maior peso na colecção e também no percurso da Módulo, desde 1975.
Elliot Erwitt, Larry Fink, James Welling, Allan McCollum, Bruce Charlesworth e Jack Pierson, ou Jochen Gerz, Axel Hütte, Candida Höfer, bem como Helena Almeida, Jorge Molder, Paulo Nozolino, António Júlio Duarte e Duarte Amaral Netto, foram (ou são, os dois últimos) autores mostrados individualmente pela galeria, desde uma época em que expor fotografia era ainda um gesto pioneiro. Hamish Fulton, Bernard Faucon, Paul den Hollander, Vik Muniz e Miguel Rio Branco ou Nedko Solakov fazem parte desse mesmo lote, e mais alguns foram sendo apresentados em colectivas. Mas outras obras, a começar por uma prova dos anos 30 de Bill Brandt, uma fotografia de arquitectura de Arthur Köster (anos 20/30) e uma montagem erótica de Pierre Molinier, ou as de Francesca Woodman, Eulália Valldosera e do chinês Zhang Huan, foram apenas opções de um coleccionador atento e viajado.
Ecléctica e editada numa sequência aleatória, a selecção inclui muitos nomes que fizeram a história da fotografia norte-americana desde os anos 50 - Aaron Siskind e Harry Callahan, contemporâneos do expressionismo abstracto; Lee Friedlander e Garry Winogrand, que renovaram a tradição documental; William Eggleston, Stephen Shore e Joel Sternfeld, pioneiros no uso da cor; depois Nathan Lyons, Lewis Baltz, Richard Mirsrach - e também valores recentes mais mediatizados, como Nam Goldin, Sherrie Levine, Di Corcia. O panorama alemão acompanha Bernd & Hilla Becher e os seus discípulos, enquanto Wolfgang Tillmans já faz parte da pista inglesa que passa também por Tony Ray-Jones e David Hockney, enquanto Mario Giacomelli é um italiano solitário. Não são apenas grandes formatos, e os maiores não cabiam em Barcelona (a fotografia não se mede aos palmos), mas quase sempre se trata de provas de época, numa selecção onde figuram muitos clássicos adquiridos antes de o serem.
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Pelo seu lado, a colecção da Fundação PLMJ, impulsionada e dirigida por Luís Sáragga Leal, manifesta o propósito de constituir um acervo representativo da fotografia portuguesa, «desde os ‘históricos da modernidade’ da década de 50 até à mais vanguardista actualidade», embora a edição orientada por Miguel Amado tenha adoptado como limiar Abril de 74, atendendo ao défice de autores surgidos antes dessa data.
Das cerca de 400 obras de mais de cem autores passou-se no livro a 161 e 117 respectivamente, sendo os trabalhos mais antigos de Helena Almeida (1978-82) e Luís Pavão (1979-80), enquanto os «pioneiros» dos anos 50, como Victor Palla, Sena da Silva, Castello-Lopes ou Eduardo Gageiro, aparecem representados com obras já da década de 80, tal como acontece apenas com Luiz Carvalho, António Pedro Ferreira, Jorge Guerra, Nuno Calvet, José Manuel Rodrigues, Jorge Molder, Orlando Azevedo e João Bafo.
Identificado no título como Uma Antologia Visual da Fotografia Portuguesa Contemporânea, o livro não segue critérios de datas ou de géneros, reunindo principalmente obras e autores recentíssimos, a acompanhar a explosão recente da fotografia no mercado de arte. Com uma sequenciação de imagens ritmada por alguns subtis tópicos temáticos e por certos trabalhos mais poderosos, documenta na sua abrangente e democrática diversidade a pluralidade dos caminhos do presente e abre a possibilidade de cada um fazer as suas escolhas.
Casa de Luz. Colección Mário Teixeira da Silva
Fundació Foto Colectania, Barcelona, 196 págs., €25
Extensão do Olhar. Obras da Colecção da Fundação PLMJ
Assírio & Alvim, 256 págs., €60
Fotos: António Júlio Duarte, díptico sem título da série «Agosto», 2000, uma obra presente em ambas as colecções
Richard Mirsrach, «Submerged Trailer, Salton Sea, California», 1985 (Col. M.T.S.)
Pedro Letria, «N 37° 11' 34" O 7°24' 59"», 1996 (Col. PLMJ)
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