"Lo que hizo que la economía y el new deal se salvasen fue el gigantesco proyecto de obras públicas conocido como Segunda Guerra Mundial, que por fin proporcionó un estímulo fiscal apropriado para las necesidades de la economía" - PAUL KRUGMAN, "¿Franklin Delano Obama?", 16/11/2008.
Artes e feiras de arte não são questões essenciais nos tempos que correm, mas, à falta de empregos nas actividades produtivas, a engenharia social de Bruxelas há muito que aconselhava a entender as artes como um grande espaço disponível para acolher massas de desempregados com altos níveis de auto-estima. São muito menos perigosos do que os outros inactivos e estão mais disponíveis para a flexibilidade e a precaridade dos empregos, quando a eles tentam aceder.
Usam cada vez mais o nome de criadores, em vez de artistas, o que corresponde ao carácter impreciso das suas actividades e à vaga presença de um qualquer possível talento (palavra condenada, aliás, tal como génio, em nome da conveniente democraticidade de todas as aptidões). Entretanto, a ideia da criatividade em geral é uma versão mais elegante do que se podia chamar antes sentido do desenrascanço, e nessa medida é um argumento de efectiva adaptação aos tempos actuais.
Tratar-se-á também de ensaiar uma nova equação entre trabalho e ócio, que nunca teve uma posição fixa e conheceu diversas relações ao longo dos tempos - note-se que em princípio só os escravos e os servos deviam trabalhar e que a generalização do emprego ocorreu apenas há sessenta anos, com a 2ª Guerra e a entrada massiva das mulheres do mercado de trabalho, porque à epoca os homens iam combater.
Também se deve observar que a ambição de uma carreira artística era até há pouco (até aos anos 60/70, até ao fim dos 30 gloriosos anos do pós-guerra) uma fatalidade que manchava a felicidade de qualquer família: era um destino de marginalidade, que umas décadas antes se associava ainda ao mundo da boémia e do lumpen. Tudo mudou, e a opção artes no ensino geral aparece cada vez mais cedo.
Um dos problemas que acompanham esta orientação de grandes massas de jovens para o vago campo das artes, como alternativa à inactividade e à marginalidade social violenta, tem sido o estreitamento do número de consumidores reais de produtos artísticos, devido à própria alteração da respectiva função e natureza social, embora essa contabilização estatística tenha ficado até agora em grande ocultada por acção de diversos mecanismos: por um lado, o "meio da arte" em crescimento acelerado estabelece-se a si mesmo como o seu próprio público - o que se passa depois das inaugurações importa pouco e depois das estreias os espectáculos ficam poucos dias em cena; por outro, a subsidiação pública tem desviado para uma transitória viabilização desse "meio da arte" (artistas, candidatos a artistas, professores de artistas, profissões associadas) muitos recursos que antes eram necessários para a manutenção das estruturas e equipamentos públicos (museus, companhias, etc). A urgência tem sido a de sustentar a aparente viabilidade deste universo social flutuante classificado como artístico.
Com a crise actual as dificuldades que já eram notórias vão exigir alterações muito profundas.
Muito interessante este ponto de vista, e realmente cada vez mais assistimos à multiplicação de "vocações" artísticas ou do mero interesse pelas áreas associadas. O que até poderia ser sinónimo de progresso social pode ser afinal uma armadilha com um desfecho imprevisível.
Posted by: maria joão | 11/19/2008 at 19:26