1ª Bienal, 1989, 24 Junho / Agosto; co-organizada com a Coop. Diferença (Irene Buarque, Monteiro Gil, Américo Silva, Fernando Curado Matos - projecto A. SIlva; montagem com F. Gulbenkian): "A fotografia nas artes plásticas", "Crónica de uma cidade" e outras secções, apresentações de João Pinharanda, A. Cerveira Pinto, etc. Júri com rep. SEC (F.Calhau), APAF, Ar.Co, etc.
II Bienal, 1991, 19 Out./ 1 Dez.; Diferença; júri com SEC/Calhau; FG/F. Azevedo; Árvore/T. Siza; IPF, Ar.Co, APAF
III Bienal, 1993, 23 Out. / 28 Nov.; c/ Diferença; repres. assoc. e escolas
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4-11-95
"O ano da confirmação"
BIENAL DE FOTOGRAFIA, Edif. Patriarcal, Vila Franca de Xira
(VARI CARAMÉS, Galeria Municipal de Alverca)
Sem ter introduzido alterações na sua estrutura organizativa, a 4ª edição da Bienal de Vila Franca revela-se um acontecimento com importância imprevista no panorama fotográfico. A fórmula própria de um Salão, com concurso aberto e convidados, e com prémios, esteve por vezes bastante próxima dos «jogos florais» amadorísticos, mas este ano vem confirmar a sua razão de ser. A mudança reside no nível das participações, graças à comparência de numerosos jovens recém-formados pelas escolas de fotografia, os quais se tornaram preponderantes na exposição, e também graças a uma maior selectividade das admissões.
Mas para que a transformação ocorresse, dois outros factores devem ser considerados: por uma lado, parece observar-se uma crescente qualificação dos processos e das orientações de ensino, conduzindo à promoção recente de fotógrafos com interessantes perspectivas de trabalho criativo; por outro, a existência de menos oportunidades de afirmação individual , devido a uma geral retracção da circulação expositiva e também dos mecanismos da revelação de novos autores, terá levado um grande número de jovens fotógrafos a interessar-se pelo concurso de Vila Franca. De facto, os Encontros de Coimbra e de Braga têm deixado de se assumir como plataformas de afirmação de novos fotógrafos nacionais.
Por outro lado ainda, é certamente possível constatar a presença de uma maior seriedade das próprias linhas de criação, em termos de opções temáticas e formais, talvez por efeito do mesmo contexto de «crise» generalizada e de acréscimo de concorrência.
Neste quadro, a existência de uma Bienal assente no concurso aberto e na premiação parece justificar-se plenamente, em paralelo com outros possíveis modelos organizativos assentes em selecções decididas por comissários. A primeira fórmula, eventualmente mais democrática mas também mais vulnerável às mutações conjunturais de oportunidade, é aquela que permite maior independência perante as redes de interesses estabelecidos, abertura a valores imprevistos e também, em função da importância dos prémios e da credibilidade dos juris, um reconhecimento mais formal dos fotógrafos distinguidos.
Associados ou não a exposições colectivas, os prémios têm, na generalidade dos países, uma credibilidade e uma consequência de sentido positivo na divulgação da fotografia e na consolidadação das carreiras. A sua desvalorização entre nós corresponde mais a uma falta de sedimentação do campo da fotografia, mais a uma insuficiência estrutural do sector, do que a qualquer geral vanguardismo.
Na presente edição da Bienal é curioso observar que se encontra nos candidatos ao concurso, em geral, maior originalidade criativa que nos convidados propostos pelas várias associações e instituições de ensino. A excepção óbia é a presença de Jorge Guerra, apresentado pela Sociedade Nacional de Belas Artes (conjuntamente com trabalhos de José Francisco Azevedo, outra vez com uma das participações mais rigorosas). Infelizmente, o júri não soube distinguir como lhe competia não só a qualidade do seu trabalho como o exemplo dado pela colaboração com a Bienal de alguém com uma longa e muito sólida história fotográfica. Jorge Guerra expõe montagens fotográficas (na foto, «Narciso», 1993) , na linha das que mostrou em 1989 no Centro de Arte Moderna.
Entre as premiações, destaca-se o trabalho de José Barata (série «Lezíria»), vencedor no sector temático dedicado ao concelho, mas também claramente acima do dois premiados «ex-aequo» da Bienal. Rui Morais de Sousa apresenta um conjunto de retratos em pose formal, de estúdio, de trabalhadores de uma pedreira algarvia, com irónico sentido documental, e Paulo Monteiro mostra composições quase simétricas, de fotos de animais, num projecto desenvolvido com humor.
Bruno Sequeira, Carlos Azevedo (em molduras que destroem o trabalho visto no Ar.Co), Carlota Mantero, João Mariano, João Miguel Rodrigues, Jorge Russo, José Manuel Gameiro (documentação e confronto forte com situações de pobreza), Madalena Veiga (um exercício atraiçoado pelo amadorismo técnico), Rita Castro Neves e Tanaki, bem como Mário Valente, Nuno Cera têm presenças a diversos títulos notórias. Por vezes, dominadas pelo formalismo dos efeitos, sem que se perceba porque se repetem as impressões escurecidas, as invisibilidades «flou» ou tremidas, os tiques de quem não sabe se há alguma coisa para ver.
Entre os convidados, distinguem-se os representantes do Instituto Português de Fotografia, João Palha e Paula de Medicis, enquanto Ângelo de Sousa, pela Árvore, tem uma presença inconsequente. Por outro lado, os alunos do Ar.co e os Maumaus têm presenças numerosas.
O espaço não chega para se destacar como mereceria a exposição do galego Vari Caramés que se apresenta numa magnífica galeria municipal em Alverca (mas com vidros riscados). Nascido em Ferrol em 1953, Caramés já expôs em Coimbra e em Braga, e volta a mostrar uma antologia da sua obra, discreta e de grande rigor, onde o olhar documental é também o inventário de um absurdo quotidiano, onde a inteligência da visão se declara como enigma, humor e sonho. (Até dia 26)
BIENAL DE FOTOGRAFIA, Edif. Patriarcal, Vila Franca de Xira, 11-Novembro-95
Sem deixar de ser um «salão», isto é, um concurso aberto e sujeito a júri e a prémios, a Bienal ganhou uma posição central na actualidade fotográfica: lugar de apresentação dos jovens autores saídos das diferentes escolas que hoje parecem assegurar uma mais qualificada formação fotográfica (Ar.co, IFP, Maumaus, Árvore). A Bienal tinha abandonado já na edição anterior os equívocos dos sectores temáticos (e em especial a secção «artes plásticas e fotografia»); agora, desligou-se da colaboração com a Diferença e o seu núcleo de amadores fotográficos, ganhando, numa conjuntura favorável, a possibilidade de se impor como espelho múltiplo da actualidade criativa e rampa de lançamento de novos fotógrafos. Bruno Sequeira, João Mariano, José Manuel Gameiro, Rita Castro Neves, Carlota Mantero, Mário Valente, João Palha e Paula de Medicis são nomes a seguir, além dos premiados José Barata, Rui Morais de Sousa e Paulo Monteiro. Irene Buarque, Manuel Magalhães, José Francisco Azevedo e, em especial, Jorge Guerra prosseguem carreiras reconhecidas. Contra a generalidade das opiniões, defende-se que a fórmula do concurso deve ser mantida e pode ser aperfeiçoada.
VARI CARAMÉS, Gal. Municipal de Alverca 11-11-95
Integrado na programação da IV Bienal de Vila Franca, a individual de um fotógrafo da Coruña pode ser a revelação de uma obra destacada no panorama da fotografia espanhola, já apresentado em Coimbra e em Braga. Num exercício do olhar que subverte a tradição documental, atento ao absurdo quotidiano que pode ser enigma ou humor, V.C. usa a janela da fotografia como um instrumento para esquadrinhar o mundo e a vida através da intimidade de uma visão. O trânsito de um observador privilegiado, a atenção aos acasos significantes que sintetizam a (des)ordem oculta das coisas.
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1997
1) 4 / Janeiro / 97 (Actual Cartaz)
A Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira vai realizar a sua 5ª edição em Outubro-Novembro de 1997 e manterá a fórmula de concurso aberto à participação livre que assegurou o carácter específico desta iniciativa, com relevância crescente desde 1989 no panorama geral dos eventos fotográficos.
A decisão foi tomada durante um encontro que reuniu no final de Novembro alguns fotógrafos e entidades interessadas, a convite da Câmara de Vila Franca, com vista a reexaminar o modelo organizativo da Bienal e estudar as orientações futuras que lhe assegurem uma maior eficácia local e nacional.
A fórmula de concurso tinha sido posto em causa durante a edição anterior, em favor de um outro modelo organizativo que partiria de uma selecção prévia por um comissariado de fotógrafos convidados a apresentarem e desenvolverem projectos de trabalho, propondo-se igualmente a não atribuição de prémios. Outras posições valorizavam o facto de a Bienal se ter tornado um lugar privilegiado de apresentação e concurso para os jovens fotógrafos formados pelas diversas escolas de fotografia em actividade, tendo passado a reflectir nas últimas edições a existência de melhores condições de formação e informação, bem como a emergência recente de novos valores.
Entretanto, o mesmo encontro decidiu-se pela constituição de um grupo de consulta, ligado ao comissariado da Bienal, para análise e preparação do respectivo regulamento, tendo especial atenção às questões relacionadas com a composição do júri, os prémios, as condições de exposição e os direitos de autor das obras a adquirir para a colecção da Câmara. Tratar-se-á de contrariar a degradação que muitas vezes conheceu a fórmula dos concurso através de um esforço de requalificação dos seus processos de promoção e organização. Único concurso de âmbito nacional com alguma projecção, a Bienal de Vila Franca poderá ter condições para se consolidar através do próprio prestígio dos prémios que atribuirá.
Entretanto, a Bienal encara a viabilidade da apresentação de projectos específicos e temáticos realizados por entidades diversas e escolas, a incluir no seu programa geral, bem como a realização paralela de exposições de fotógrafos convidados, portugueses e estrangeiros. Para além do concurso aberto, a Bienal afirmou-se como um pólo de contacto de quase todas as entidades particulares com intervenção na área da fotografia, incluindo por convite representações do Instituto Português de Fotografia, Ar.Co, ImagoLucis, Associação Portuguesa de Arte Fotográfica, Árvore, IADE, Maumaus, SNBA, Circularte (de Leiria), etc, algumas das quais se fizeram representar no encontro, o qual, no entanto, contou com um número de participações inferior ao esperado. Por outro lado, encara-se a realização de exposições itinerantes organizadas a partir da Bienal, a preparação de um banco de imagens da Bienal e também a dinamização de actividades paralelas, com destaque para as acções de sensibilização à fotografia dirigidas aos alunos das escolas.
2) Outubro 1997
Chega este ano à quinta edição a Bienal de Vila Franca de Xira, um dos três acontecimentos centrais da fotografia em Portugal, para além dos Encontros de Coimbra e de Braga. A inauguração decorrerá no próximo sábado, dia 25, às 16h, no Celeiro da Patriarcal e também, em simultâneo, noutras galerias do concelho, prolongando-se a generalidade das exposições até 23 de Novembro. João Mariano e Paulo Pascoal, dois jovens fotógrafos com formação no Ar.Co, foram distinguidos, «ex-aequo», com o prémio da V Bienal, enquanto José António Chambel obteve o prémio para o melhor conjunto de trabalhos sobre o concelho.
A organização de um concurso aberto à participação livre, mediante a apreciação de um júri de selecção, tem constituído um elemento distintivo desta Bienal, face às exposições individuais, comissariadas ou por convites, que restringem o conhecimento de novos valores. Sem regressar à fórmula dos antigos salões e graças à muito significativa participação de jovens fotógrafos e alunos das várias escolas do sector, o certame tem reflectido nas últimas edições uma mutação das condições de aprendizagem e informação fotográficas, ganhando projecção como plataforma de revelação de jovens autores. Para além do concurso, o certame promove igualmente a representação directa das instituições e associações ligadas à fotografia — participam este ano o Instituto Português de Fotografia, o Ar.Co, a escola Maumaus, o IADE, a Associação Portuguesa de Arte Fotográfica (APAF) e também a Árvore, do Porto.
Há cerca de um ano, a Câmara de Vila Franca e os responsáveis directos pela iniciativa (Teresa Ferreira e Américo Silva, directores da Divisão de Acção Cultural e das galerias municipais, respectivamente) promoveram a realização de um encontro para avaliação da experiência anterior e aperfeiçoamento do modelo organizativo. A Bienal, que conjuga a dimensão nacional com a forte inserção na área concelhia, foi entretanto objecto de um esforço alargado de divulgação, nomeadamente através da edição de dois números de um boletim.
O programa inclui várias outras exposições nas galerias municipais, em Vila Franca («A Lezíria», de Luís Fradinho), Alhandra («Imagens de Santiago», de três fotógrafos galegos, Anna Turbau, Tino Martinez e Xurxo Lobato), Alverca («Alfândega Nova - O Sítio e o Signo»), entre outras.
3)
BIENAL DE FOTOGRAFIA, Celeiro da Patriarcal, Vila Franca de Xira - ? 1997
Há anos de piores colheitas e, também na fotografia, é certamente natural que assim seja. O facto é que o conjunto da Bienal (secção concurso e convidados) é irremediavelmente cinzento, isto é, destituído da frescura de imaginação e risco que se deveria esperar em muito jovens participantes. Em anos anteriores havia mais desiquilíbrios de qualidade, entre o incipiente e o prometedor, num cenário que era também mais descuidado e confuso. Agora, que as condições de exposição melhoraram, com espaço para apresentar as 6-fotos-6 de cada um dos seleccionados (27, com 39 recusados, fora os representantes escolares e institucionais), domina a indistinção entre os «projectos», onde se multiplicam paisagens, caminhos e folhagens, em geral a preto e branco e de pequeno formato, de trabalho «certinho» sobre os efeitos de luz, geralmente pouca. Aliás, o tom é dado pelos trabalhos propostos pelas escolas, limitados pela disciplina escolar ou por evidentes influências — e outras mostras de finalistas desta temporada mostraram os mesmos limites.
Pode interrogar-se a conveniência da fórmula concurso (será a atitude mais fácil), mas outras condicionantes podem ser apontadas: a falta de um júri conhecido desde início e com reconhecida credibilidade, mesmo que polémica — os resultados da premiação da Bienal anterior lá estão, a provar o seu desacerto; a perda muito geral de credibilidade das instituições públicas, dos seus critérios e acções, orientando quem aposta no seu próprio talento a procurar caminhos mais directos e práticos, que não passam pelo reconhecimento oficial, nem dele necessitam; por último, alguma incerteza entre a dimensão nacional ou regional da própria Bienal, que muito legitimamente se mostra interessada em sustentar a sua implantação na área de origem, sem a trocar por outras órbitas (por exemplo, no programa paralelo). O balanço feito ao material exposto destaca, nesta edição, a presença dos premiados João Mariano e Paulo Pascoal, o primeiro com uma reportagem sobre a inspecção militar e o segundo com uma sequência de estranhos fragmentos de paisagens dominadas por rochedos redondos. Fátima Gameira (pormenores de máquinas), João Pedro Nogueira (vegetações de Sintra), José Carlos Nascimento (Índia), Luís Filipe Reis (Berlim, cemitério judeu), Rui Sacadura (Cuba) são outras presenças a assinalar. No programa paralelo destacam-se as «Imagens de Santiago», de Anna Turbau, Tino Martinez e Xurxo Lobato (em Alhandra), a comprovar com desenvoltura que a fotografia espanhola dispõe de outros níveis de informação e concorrência. (Até 23)
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VI Bienal
30.Outubro.1999
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