"REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA" - www.cm-lisboa.pt (com data de 28 Nov.)
ORDEM DE TRABALHOS
1 - Proposta nº. 1144/2008 (Subscrita pelo Sr. Presidente): Aprovar mandatar o Sr. Presidente da Câmara de Lisboa para diligenciar pela criação do Centro de Cultura Contemporânea Africana de Lisboa, nos termos da proposta;
(...)" segue-se uma lista de mais 84 possíveis aprovações de muito variável importância.
PROPOSTA 915/2008
LEM 001 P_915 LISBOA ENCRUZILHADA DE MUNDOS
Apresentada: 30 de Setembro de 2008 (1)
Agendada: 61ª reunião, 22 de Outubro de 2008
Debatida e votada: 61ª reunião, 22 de Outubro de 2008
Resultado da votação: Aprovada por maioria com 9 votos a favor (6PS, 2CPL e 1BE) 3 contra (3LCC: Lisboa Com Carmona) e 5 abstenções (3PSD e 2PCP)
Considerando que:
Que no quadro do acordo de cooperação celebrado, a 9 de Setembro de 2008, entre o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e as Vereadoras “Cidadãos por Lisboa”, a Vereadora Manuela Júdice aceitou desenvolver um projecto designado por “Lisboa encruzilhada de mundos” e que, segundo o mesmo acordo, está prevista a inclusão deste projecto no Plano de Actividades e Orçamento Anual para 2009 bem como a apresentação ao Presidente e à Câmara do referido projecto com indicação de metodologia, cronograma e custos estimados;
(...)
- Realização de três eventos culturais, um na área das Artes Plásticas, concretamente na Fotografia, outro na área da animação de rua e um terceiro transversal a várias artes. Estas manifestações seriam a realizar com o concurso dos serviços e empresas municipais competentes nas respectivas áreas.
- Assim, a exposição de fotografia poderia ser articulada com o Arquivo Fotográfico Municipal, detentor de uma experiência e de uma qualidade reconhecidas. Esta exposição teria como temática o continente africano.
- No campo da animação de rua, prevê-se a realização em colaboração com o Pelouro da acção Social, as Juntas de Freguesia, a EGEAC e as comunidades presentes no terreno, de uma manifestação que envolveria todos estes parceiros.
- Por último será organizada uma manifestação que se caracterizará pela reflexão sobre cidade e as várias artes: a cidade e a literatura, a cidade e o cinema, a cidade e a pintura, por exemplo;
- Para além destes três eventos, prevê-se o lançamento do projecto de criação de um centro de cultura e arte africanas AFRICA.CONT. a realizar de parceria com outras entidades públicas e/ou privadas."
Correcção: falei da criação de um monstro, mas pode ser só um monstreco, ou um fantasma. Já temos uma Casa da América Latina na 24 de Julho, bem perto, e daí não vem mal ao mundo. É uma entidade discreta, apesar da dedicação do seu secretário-geral, Dr. Mário Quartim Graça - logo (3ª) às 18h30 até inaugura uma exposição de pintores cubanos - http://www.c-americalatina.pt . Foi criada pelo Dr. João Soares em 1998 e passou a associação em 2004, com 17 empresas envolvidas pelo menos nominalmente.
E também existe a UCCLA, a União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas, ali à rua de São Bento, criada em 1985 pelo famoso Eng. Abecasis.
Posição de princípio: discordo de que estas coisas tenham de ser aprovadas num quadro de aritméticas + manigâncias partidárias e precipitadas votações por eleitos com poucos conhecimentos no ramo. Já estou a ver a zanga da Arq. Roseta (mas custa-me ter de ver sempre a mesma zanga) a pedir um debate público, com o jantar dos embaixadores marcado para dia 9. Estas iniciativas (as grandes obras ou as obras de fachada e de regime, sobre as quais os consensos nunca existem, nem têm que existir) são - devem ser - decisões dos príncipes e agora, em democracia, eles serão julgados periodicamente pelas decisões que tomarem. De outro modo, não haveria pirâmides do Egipto, Terreiro do Paço ou Praça do Comércio, Torre Eiffel ou Museu d'Orsay ou, mais a propósito e recente, o do Quai Branly - só para falar de coisas que vão resistindo ao tempo. É mais transparente a solitária vontade do príncipe (agora presidente - e eleito) do que uma qualquer maioria cozinhada nos bastidores partidários, e dita depois democrática. Participação é outra coisa.
Enquadramento: neste devaneio que chega às Tercenas do Marquês era necessário acompanhar a decisão dos presidentes Sócrates e Costa não com uma assembleia municipal e/ou uma comissão parlamentar mas sim com menos de uma dezena de vozes autorizadas em pareceres tornados públicos:
1- Do ministro da Cultura, que tem a tutela da dita e larga experiência de negócios intercontinentais, e já agora também do director-geral das Artes, por quem passam matérias de apoio a projectos nacionais e representações externas. 3 - do crítico e assessor cultural do primeiro ministro, Alexandre Melo, que apesar de afectado pela associação ao elíptico coleccionador João Rendeiro (...a promiscuidade com o Banco Privado...) é um especialista da globalização e interessado em comissariados multiculturais. 4 - do artista homeostético e assessor do presidente da CML, Pedro Portugal, que é sempre divertido. 5 - da (ex-)directora do Instituto Camões, com alguma experiência de convívio com as culturas africanas, sem sempre felizes (a interrupção da circulação da exposição "Réplica e Rebeldia" em 2007 deixou marcas), e cuja decisão de se afastar por altura do anúncio da reorientação do seu departamento acentuou algumas incertezas. 6 - dos directores dos Museus de Serralves e Colecção Berardo, que vêem surgir um inesperado concorrente na área da arte e/ou cultura contemporânea oficial (mais uma fundação, mais 4 milhões de orçamento anual para funcionamento e programação) e que certamente não quererão abdicar de um continente (Serralves mostrou David Goldblatt e vai expor Guy Tillin; o Museu do CCB também está interessado em África). 8 - do consultor ou programador da Fundação Gulbenkian ("O Estado do Mundo", etc) António Pinto Ribeiro, que já fizera na Culturgest uma primeira abertura à circulação de objectos culturais extra-europeus. Posso estar a esquecer-me de alguém, mas julgo que outros titulares foram-se desvanecendo.
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Em tempo: um amigo mais informado em finanças chama-me a atenção para a hipótese de haver uma pista angolana. Angola, Sindika Dokolo (o genro), petróleos, a Gulbenkian, etc... Mas se Angola já comprou Veneza, para é que precisaria de um agente em Lisboa e de sustentar os irmãos mais pobres? Nã, continuo a pensar que é tudo feito em cima do joelho...
Seria de facto fundamental fazer um debate público sobre esta iniciativa. Mas para tanto era importante ter acesso a um conjunto de informações que até ao momento não foram tornadas públicas e é urgente que o sejam. Que figurino de gestão iria ter este Africa.Cont? quem se responsabiliza pelas obras de recuperação do edifício? qual é o programa pedido ao arquitecto? Será um Museu? Um centro cultural? e se for um Centro Cultural é pensado sob a forma dos CC da geração de 80? ou assumiria especializações? que tipo de programação se supõe que venha a ter? terá acervo próprio? produção própria ou tão só um Centro de Difusão? Seguiria o modelo do Museu de Arte Africana (novo) ? O Insituto do Mundo Árabe em Paris? a casa das Culturas do Mundo em Berlim? ou, pelo contrário, daria um passo em frente e evitava a guetização do multicultural?
Sabendo-se como estão deficitárias as finanças da CML e do MC, tem algum sentido neste momento que este projecto seja uma prioridade? a meu ver, não! E reconheça-se que é urgente estabeler formas de aproximação às práticas culturais e artísticas dos países africanos. Mas seria mais oportuno continuar acções que já se iniciaram em feiras de arte, na aquisição de obras paa colecções públicas ou privadas, na continuação de festivais que considerem as artes performativas de artistas de áfrica a partir sempre dos critérios de pertinência artística. Haveria muito a fazer de forma mais descentrada, recorrendo a múltiplos agentes culturais e artísticos antes de se avançar para uma solução que aparece com todos os contornos de mais uma obra dispendiosa, que desconsidera a necesidade de tratar do museu de etnologia, do jardim ex-colonial de Belém, entre outros. à parte isto era fundamental que as questões de arte e de cultura relativas a África não fossem separadas das questões sociais e políticas da imigração oriunda deste mesmo continente. E, finalmente era muito importante que se estudasse questões como recepção artística ou proução cultural oriunda de outras regiões culturais para evitar afirmações despropositadas e muito ignorantes sobre multiculturalismo, interculturalidade, cinema africano, etc...
Posted by: António Pinto Ribeiro | 12/03/2008 at 11:39